PS de olhos postos na liderança da AML

    Nas autárquicas, o PSD ganhou. O PS, apesar de ter sido um dos derrotados, perdeu menos autarquias do que as que se perpectivavam. A esquerda perdeu e o Chega queria 30 câmaras municipais e ganhou apenas três. PS, PSD e Chega subiram as suas votações na Área Metropolitana de Lisboa, com o partido de Ventura a reforçar-se, esmagadoramente acima, em termos percentuais, do crescimento registado pelos socialistas (5%) e sociais-democratas (17%). Em números de presidências de câmara, o PS continua a ser o mais forte, o que lhe permite continuar a presidir à AML.

    O PS estava de olhos postos na manutenção da maioria na AML, onde tinha 10 concelhos, mas as mudanças na Área Metropolitana de Lisboa implicaram a diminuição do seu peso politico na região, tendo em conta a perda de Sintra e a derrota em Lisboa – ambas expressivas a nível político. O PS não ganhou os concelhos de Sesimbra e Seixal à CDU. Mas ficou à frente em Loures, Odivelas, Amadora, Vila Franca, Almada, Barreiro, Moita e Alcochete.

    O PSD reteve Cascais e, sem surpresas, ganhou Sintra, uma cidade com grande importância, mantendo Lisboa, com vitória alargada.

    Na margem Sul do Tejo, a CDU não perdeu o seu bastião autárquico, sobretudo na linha sul da AML em Setúbal, ficando com Palmela Seixal e Sesimbra. Tendo perdido Setúbal para a sua antiga militante Maria de Lurdes Meira, candidata independente com o apoio do PSD. A CDU manteve, embora por muito pouco, o Seixal e Sesimbra, ficando também com Palmela, com o regresso de Ana Teresa Vicente (que esteve no poder entre 2001 e 2013, cumprindo três mandatos antes do atual presidente, também da CDU). A CDU ganhou por apenas 183 votos.

    Isaltino o fenónemo

    Isaltino Morais foi o grande fenómeno político da Área Metropolitana de Lisboa – resistindo à polarização dos votos e levando os eleitores às urnas para o manter na presidência.

    O candidato independente por Oeiras venceu com mais de 62% dos votos, reforçando a sua posição, e colocando a coligação PS–PAN nos 11%, com uma diferença de 42,782 votos (mais 16 mil do que em 2021). E ainda menos o Chega com apenas 9%, longe da tendência de crescimento registada a nível nacional. Um fenómeno, portanto.

    Sintra foi um dos concelhos mais disputado destas eleições, com a saída do carismático Basílio Horta, independente pelo PS. A ex-ministra socialista do Turismo e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, saiu cedo da Assembleia da República para disputar as eleições na rua. Esteve sempre taco a taco nas sondagens com o social-democrata Marco Almeida, mas este levou a melhor, na terceira vez que tentou subir à Câmara – concorreu em 2013 como independente com o apoio do PSD e 2017 numa coligação PSD/CDS. O sintrense, sempre usou essa bandeira – esteve na freguesia de Agualva-Cacém, e em 2001 tornou-se vereador da Câmara de Sintra, tendo sido Vice-Presidente e tido os pelouros, como a educação, a saúde e habitação.

    A Amadora tinha dado nas vistas, por causa da polémica candidata que o PSD apoiou, a advogada das televisões Suzana Garcia, e comentadora da CNN, que adotou um discurso securitário inspirado nos valores da extrema direita, e tendo prometido para a Cova da Moura um lugar de habitação de luxo.

    Os movimentos independentes conquistaram as autarquias de Mafra, Montijo, Oeiras e Setúbal

    Leão reeleito

    Ricardo Leão foi reeleito pelo PS – e isto também apesar de todas as críticas dentro do partido. A sua viragem para temas mais polémicas garantiu-lhe uma muralha contra o forte crescimento do Chega, que se manteve grande no concelho, mas sem capacidade para vencer – Bruno Nunes, do Chega, que obteve, nas legislativas, 24,31 % dos votos, contra 26,21% do PS, em segundo lugar. Agora ficou em segundo lugar.

    O PSD apresentou nestas eleições, em coligação com o CDS Nélson Batista, que fora vereador com os pelouros da Economia e Ambiente no executivo de Ricardo Leão.

    Em Cascais, o PSD manteve a Câmara sem surpresas, com Nuno Piteira Lopes que substituiu Carlos Carreiras. Surpresa foi a candidatura independente de João Maria Jonet que elegeu dois vereadores ficando à frente do Chega por 0,2%.

    Em Setúbal a campanha foi longa e a noite eleitoral também: a ex-autarca Maria das Dores Meira só declarou vitória bem tarde. Mas conseguiu a vitória, distanciando-se dos seus apoios clássicos, da CDU (com a qual foi edil em Setúbal e concorreu em Almada contra Inês Medeiros em 2021), e sendo mesmo apoiada pelo PSD.

    O socialista Fernando José (PS) esteve sempre muito próximo de Maria das Dores nas sondagens, terminando num empate técnico, e dizendo-se herdeiro do célebre presidente socialista, Mata Cáceres.

    A Câmara do Montijo vai ser governada pelo grupo de cidadãos MVC, que ficou à frente do Chega, segundo partido mais votado, e em Mafra venceu o #HML 2025 (do recandidato presidente do município Hugo Moreira Luís, que se desvinculou do PSD), com apenas mais 146 votos do que os sociais-democratas.

    PS continua a mandar na AML

    Perante estes resultados eleitorais, o PS continua a aspirar presidir á Área Metroplitana de Lisboa, apesar de ter perdido a sua posição de dominância.

    Para conseguir presidir á AML, o PS pode necessitar de ter o apoio de autarquias da CDU ou do PSD, visto que a liderança da AML é eleita pelos presidentes de câmara dos 18 municípios que a integram.

    Não podemos esquecer que a  composição do Conselho Metropolitano é formada pelos presidentes das 18 câmaras municipais da AML, o que significa que o equilíbrio de poder depende da soma dos resultados em todos esses concelhos. A perda de Lisboa enfraqueceu a posição do PS.

    Em suma, as eleições autárquicas de 2025 indicam uma mudança no cenário político da Área Metropolitana de Lisboa, com o PS a perder a sua posição de dominância, mas com grandes probalidades de presidir na AML.

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