Oeiras assinalou 25 de Novembro com painel alusivo à data

A inauguração do terceiro painel do mural “Passeio da Democracia”, desta feita dedicado ao 25 de Novembro, ficou marcado pela explicação histórica de Isaltino Morais sobre a data. O autarca disse que o 25 de Novembro pôs fim “à anarquia” que se vivia das ruas e consolidou “os ideais de Abril”.

Foi inaugurado, esta terça-feira, dia 25 de novembro, o terceiro painel do mural “Passeio da Democracia”, criado pela artista Mafalda Gonçalves e que se encontra junto à Praia de Santo Amaro de Oeiras. Esta iniciativa insere-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril que tiveram início em 2024 e se prolongam até 26 de abril de 2026.

Num discurso explicativo sobre a obra, a autora dos painéis Mafalda Gonçalves referiu que o “mural” sobre o 25 de Novembro, “não é propriamente uma celebração da data, mas um assinalar do momento” histórico “que consolidou a democracia no país”.

A obra recuperou várias manchetes de jornais da época, como o “Diário de Lisboa” e “O Jornal”, em que se mencionava a eminência de uma “guerra civil”, uma afirmação do coronel Jaime Neves, comandante dos comandos, que avisava: “Não permitiremos mais que se brinque com o Povo”, fazendo-se ainda referência à ocupação dos para-quedistas de unidades da Força Aérea.

O designado “Passeio da Democracia” tem como objetivo celebrar a liberdade e a democracia, valorizando a história e a memória coletiva através da arte urbana.

“Lição” de História sobre o processo democrático

O presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, participou na cerimónia, acompanhado pelo executivo municipal, sublinhando a importância desta homenagem para a comunidade e para as futuras gerações.

Isaltino Morais ressalvou que este ato “é a verdadeira comemoração do 25 de Novembro, o povo representado pelos eleitos locais do povo”.

O autarca lembrou a importância da História para a vida de todos nós. “A História é fundamental para sabermos que onde viemos e para onde queremos ir”.

Por isso, “fico surpreendido (com algumas afirmações), pois eu vivi intensamente todo o processo de construção e consolidação da democracia que nos conduziu até hoje”.

“E é interessante vermos hoje como o oportunismo, a demagogia e também a ignorância que fazem que aqueles que antes eram de esquerda, agora são de direita (e vice-versa).

Uns querem ser donos do 25 de Abril, outros do 25 de Novembro, mas não deixa de ser interessante, porque o que se comemora realmente é a democracia, a liberdade, a descolonização, a tolerância e os objetivos de desenvolvimento, todos os valores fundamentais e que estiveram na origem do 25 de Abril”.

Militares do 25 de Abril “fizeram o 25 de Novembro”

Para o edil, o “Passeio da Democracia” de Oeiras assinala um dado histórico que muitos esquecem. “Os mesmos militares que fizeram o 25 de Abril, como Vasco Lourenço, também fizeram o 25 de Novembro.

Depois de conquistada a liberdade, houve desvios, que eram naturais numa revolução, mas é de lembrar quem viveu na rua entre o 11 de março (intentona da extrema-direita em tomar o poder liderada por António Spínola) e o 25 de Novembro, sentia que havia uma anarquia total na rua. Estivemos próximos de uma guerra civil, evitada pelo 25 de Novembro”.

Segundo a visão de Isaltino Morais, e ao invés das o 25 de Abril e o 25 de Novembro estiveram irmanados. “Indiscutivelmente, sem 25 de Abril não teria havido 25 de Novembro, mas também é verdade que sem esta data os ideais de Abril não seriam cumpridos”.

Críticas aos “oportunistas”

Isaltino Morais reforça, por outro lado, que o 25 de Abril é a “data fundamental” de todo o processo democrático, mas contesta o clima de crispação e a tentativa de apropriação da data pela esquerda, mas também pelos “oportunistas” da “extrema direita”, que “andavam com o rabinho entre as pernas”, e que agora reclamam os direitos de autor sobre o 25 de Novembro, uma data “que não lhes pertence”.

O autarca lembra a realidade sociopolítica de Oeiras, em que os cidadãos “são verdadeiramente democratas”, e que celebram a instauração do processo democrático no seu todo, tendo até atribuído o nome de uma rua ao 25 de Novembro, em Miraflores, não se deixando contaminar por discursos contaminados ou revisionistas da História recente de Portugal.

“No nosso concelho, não me lembro de nenhum tipo da direita ou da extrema-direita a assistir ao descerramento da lápide que assinalou a atribuição do nome da rua. Muitos deles, já nasceram depois destas datas históricas e que pretendem ser agora os arautos dos valores do 25 de Abril e do 25 de Novembro.”

Em suma, Isaltino Morais afirma que as comemorações de Oeiras “é que são as mais corretas”. “Em Oeiras, comemora-se a democracia”, anotou.

Em nota paralela, o autarca referiu ainda que a artista Mafalda Gonçalves “teve liberdade total” para compor os painéis, assinalando que também nesse ponto “se cumpriu a democracia”. A artista confirmou a “liberdade criativa” e o apoio ao processo criativo dos três painéis que compõem o “Passeio da Democracia”.

 

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