A VER OS BARCOS «PASSAR» NA TRAFARIA

Um dos principais problemas da Trafaria, em Almada, prende-se com o transporte fluvial: Apenas sete por dia, o que obriga os residentes, a maioria a trabalharem em Lisboa, a deslocarem-se de carro se tiverem de atravessar o rio.

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A falta de transportes fluviais e rodoviários, além do clássico problema de falta de casas que não motiva os jovens a instalarem-se, é uma das preocupações dos residentes da Trafaria, no concelho de Almada, que «acompanham» o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, no «pedido» de uma nova ponte a ligar a Trafaria a Algés, na margem norte do Tejo.

Essa infraestrutura, para além de «aliviar» o trânsito na 25 de Abril, poderia ser «uma ponte para a boa gastronomia» da Trafaria, onde muitos restaurantes tem «as melhores cozinheiras do mundo: as avós».

Atualmente, ainda em «ressaca» da pandemia do Covid-19, a Trafaria continua a ser o «local» preferido dos amantes da boa gastronomia para conviverem em torno de um tacho de arroz de polvo, confecionado por antigas varinas ou pescadores, porque «as melhores cozinheiras do mundo são as avós», garante Sofia Valério, do Centro Social da Trafaria da Misericórdia de Almada, que antes da pandemia estava a desenvolver um projeto gastronómico com «as avós da freguesia» que sempre cozinharam peixe. Este projeto tinha como principal objetivo a auto-estima dos idosos e o sentimento de pertença a uma comunidade.

Os menus dos diferentes restaurantes são, na sua maioria, caldeirada, arroz de choco, pataniscas com arroz de feijão, arroz de polvo. «São pratos muito bons», afirma Maria Angelina, funcionária pública e habitante nesta freguesia de Almada, que recorda, com algum saudosismo, os tempos que os «barcos para a Trafaria» permitia convidar colegas a «virem almoçar um bom peixinho à Trafaria».

Por outro lado, a nossa interlocutora, atualmente em tele-trabalho, lamenta que a Trafaria esteja esquecida. «Aproveitaram a situação da pandemia para cortarem nos transportes, principalmente o fluvial, agora reduzido a sete barcos por dia«, refere, lembrando que muitos restaurantes da Trafaria vivem das pessoas «que vem de Lisboa de propósito para comer».

Já Hugo Pereira, reformado, espera voltar a ver, no Verão, à volta das mesas das esplanadas dos cafés ou restaurantes da Trafaria, grupos de amigos a tomarem uma “imperial” fresquinha (cerveja à pressão) acompanhadas de um prato de cadelinhas (conquilhas), ameijoas à Bulhão Pato, lamejinhas ou até um pires de caracóis, petisco muito apreciado por estas bandas.

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Uma «ponte» gastronómica

Mas, para que isso suceda «é necessário melhorar os transportes rodoviários e fluviais», salientam os nosso interlocutores, que aplaudem a ideia de construção de um túnel a ligar a Trafaria a Algés, relançada pelo presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais.

«Esta ideia já não é nova. Já tem, pelo menos, 30 anos. Na verdade, a CRIL (Circular Regional Interior de Lisboa) só ficará completa quando ligar a Almada. Para já, temos só meia CRIL», lembra Isaltino Morais.

Maria Angelina e Hugo Pereira estão de acordo com o autarca de Oeiras, quando este considera que a construção desta travessia, que ligaria as localidades de Algés (Oeiras) à da Trafaria (Almada) «é de extrema importância para toda a Área Metropolitana de Lisboa (AML), quer a nível da mobilidade, quer da melhor distribuição do tecido empresarial na região».

Para os residentes na Trafaria, nomeadamente para Teresa Coelho, de uma empresa imobiliária, o túnel poderia melhorar as acessibilidades à Trafaria. E, por isso, está de acordo com Isaltino Morais que considera que, no atual contexto, esta travessia seria «fundamental para descongestionar outras vias estruturantes na AML, como a Ponte 25 de Abril, a Ponte Vasco da Gama, a CRIL, a CREL (Cintura Regional Exterior de Lisboa) e a Autoestrada 5 (A5)».

Hugo Pereira lembra que, em tempos, foi lançada uma petição «Por uma nova travessia, em túnel imerso, entre a Trafaria e Algés». Essa petição, com mais de 2500 subscritores, teve como objetivo lançar o debate público e pugnar pela realização dos estudos necessários à viabilização desta obra, inscrevendo-a como uma obra prioritária no âmbito do Plano Nacional de Investimentos 2030 e integrando-a no programa europeu Portugal 2030.

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