Uma das zonas mais nobres da cidade, onde o preço da habitação por metro quadrado bate recordes, as Avenidas Novas continuam a ser um destino de eleição para quem quer ter qualidade de vida. Mas há problemas por resolver.
É a quarta freguesia mais cara de Lisboa. Quem lá mora diz que sempre foi um «mundo à parte», apesar de estar no centro da capital. Nas ruas largas das Avenidas Novas, o metro quadrado já custa mais de 3500 euros. Aumentou 40% num ano. Segundo números do Instituto Nacional de Estatística (INE), as casas das Avenidas Novas só perdem em valor para as do centro histórico. Santo António, Misericórdia e Santa Maria Maior compõem o pódio das freguesias mais caras de Lisboa. Mas as Avenidas estão na corrida pelos lugares da frente.
Hoje resta pouco terreno para construir na freguesia, mas, como já foi anunciado, vai nascer em Entrecampos, após a recuperação dos terrenos que eram da Feira Popular, um empreendimento de 700 casas a preços acessíveis.
Francesismo
Ex-libris de Lisboa na passagem para o século XX, as Avenidas Novas nasceram dos planos de extensão da cidade de Frederico Ressano Garcia ao estilo dos boulevards de Paris. Hoje, as Avenidas Novas são associadas também à mancha urbana que começa no Marquês de Pombal e se estende para Picoas, de um lado, e Bairro Azul, do outro, limites integrados na nova Junta de Freguesia das Avenidas Novas, que tem espaços verdes que vão desde o Parque Eduardo VII ao jardim da Fundação Gulbenkian, a outros mais pequenos como o jardim Amélia Carvalheira. .
Poluição
Apesar de ser conhecida pela qualidade de vida, existem também aqui alguns problemas, que são queixas comuns dos habitantes. A começar pela falta de estacionamento suficiente para os moradores, uma queixa já antiga, mas que ainda não se encontra totalmente resolvida.
Mas nem todo este espaço verde é suficiente para atenuar o efeito da poluição que se sente no ar, com o intenso tráfego automóvel que existe nas principais artérias da freguesia.
Um problema que pode causar problemas de saúde, principalmente a nível respiratório. Uma queixa que a moradora Isabel Pacheco bem ilustra: “as pessoas que sofrem de problemas respiratórios é mais complicado noto diferença na respiração”.
Oferta cultural da Fundação Gulbenkian
Apesar de ser uma zona com muita oferta comercial e também cultural, como a Fundação Gulbenkian, há quem entenda que falta um pouco de animação de rua, para atrair mais visitantes, como a que se verifica na zona da Baixa, como refere João Vieira: “falta na freguesia mais comércio, mais animação de rua”.
João Vieira, de 33 anos, empregado de balcão e mesas e morador Rua Elias Garcia, conhece bem as Avenidas Novas, um local onde trabalha há muito tempo na área da restauração. Para ele, a oferta na restauração é um dos pontos fortes da freguesia: “As Avenidas Novas estão cheias de restaurantes e pastelarias”, afiança.
Mas, do ponto de vista deste morador, o que também contribui para uma grande qualidade de vida dos seus moradores prende-se com a oferta cultural proporcionada pela Fundação Calouste Gulbenkian, que fica a escassa distância do seu local de trabalho, “com a sua oferta cultural, com os seus concertos e o jardim”.
Contudo, no entender de João Vieira “falta na freguesia mais comércio, mais animação de rua, como se faz na Baixa”.
Novas dinâmicas
Já para Maria Alves, de 68 anos, comerciante e moradora na Avenida Miguel Bombarda, não há defeitos a apontar nas Avenidas Novas, realçando a “bondade dos habitantes”. Esta é um as razões que, no seu entender, fazem com que “as pessoas venham para aqui viver, gostarem da zona”.
“A construção de prédios novos está a trazer novos moradores para aqui”, constata Maria Alves, imprimindo um novo dinamismo à zona e também é uma mais-valia para o comércio.
Do ponto de vista de Maria Isabel Pacheco, de 78 anos, reformada e a viver na Avenida Conde Valbom, “o bairro tem uma qualidade que é o contacto com as pessoas, passado a ser tratados como conhecidos”, é uma das qualidades que mais atraiu Isabel Pacheco.
Mas, entre outras qualidades, destaca também “a oferta cultural da Gulbenkian e tem um parque belíssimo para se estar. Mas não só. Tem as Galveias, há os cinemas, restaurantes, supermercados”.
Há algo que a encanta em particular: “Ao fim-de-semana parece a minha Lisboa de infância. Esvazia-se e só estão as pessoas que aqui moram ou que passeiam”.
Melhorar transportes e arranjar passeios
Mas nem tudo é um mar de rosas. Por exemplo, esta moradora refere que as “ruas e o calcetamento das ruas, provocam acidentes às pessoas que aqui andam. Eu própria já cai, vou a andar não olhava para o chão e caia nos buracos” dos passeios. “Melhorou um pouco, mas isto também é o problema dos países das árvores. O habitante da cidade tem um comportamento muito curioso com a vegetação. Adora árvores, mas, depois, a árvore é um incómodo permanente. Porque deita raízes e altera passeios”.
Para esta moradora a poluição também é um problema grave para a saúde dos habitantes, pois “as pessoas que sofrem de problemas respiratórios é mais complicado noto diferença na respiração”.
Maria Odete, de 67 anos, reformada, da Avenida de Berna, aponta a “falta de limpeza nas ruas”, criticando, principalmente, “o lixo nas traseiras do sítio onde mora”, onde – segundo ela – “há muito pouco comércio e faz muita falta”.
O executivo da junta de freguesia não foge às críticas destes moradores, “pois há muita coisa que está mal”. E exemplifica: “Recebo 280 euros de reforma e nunca recebi qualquer apoio da junta de freguesia para os meus tratamentos. Tenho que gastar muito dinheiro em diversos tratamentos de saúde e nunca me ajudaram em nada, apesar de ter pedido ajuda”, acusa esta habitante. “Se não fosse o meu filho ajudar-me não sei como conseguiria viver”.
Também a falta de transportes públicos no seu bairro é um problema, pois “só tenho autocarro de hora a hora”.
Temos tudo…
Quando se mudou para as Avenidas Novas, há mais de 40 anos Manuela Queirós, reformado e moradora na Av. 5 de Outubro, encontrou um local onde tem tudo o que precisa para o seu dia a dia.