VACINA ANTI-COVID DEMITE VEREADOR EM LISBOA

O vereador Carlos Manuel Castro apresentou hoje o pedido de demissão por renúncia ao cargo por ter sido vacinado com as sobras das vacinas destinadas a lares de Lisboa. O pedido foi de imediato aceite pelo presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, que nomeou para o pelouro da Proteção Civil o vereador Miguel Gaspar.

O vereador Carlos Manuel Castro apresentou hoje o seu pedido de renúncia ao cargo, após ter sido denunciado o facto deste responsável autárquico ter sido vacinado com sobras das vacinas destinadas a lares de Lisboa. Em comunicado, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que nomeou para o pelouro da Proteção Civil o vereador Miguel Gaspar, revela que «serão remetidos às autoridades competentes todos os elementos apurados relativos à participação da Proteção Civil no processo de vacinação dos lares para avaliação externa e independente dos mesmos”

Além do vereador da Proteção Civil de Lisboa, foram ainda vacinados, com as sobras das vacinas que estavam destinadas aos lares de Lisboa, elementos da Polícia Municipal e do Regimento de Sapadores Bombeiros e a diretora do departamento de Higiene Urbana. Contudo, apesar de todos terem sido vacinados na mesma altura, o presidente da Câmara de Lisboa afirma, no comunicado, que «reitera a confiança no comandante do Regimento de Sapadores Bombeiros, no comandante da Polícia Municipal e na directora Municipal de Higiene Urbana, cuja vacinação decorreu por determinação de superior hierárquico e na convicção do cumprimento de todas as normas».

Esta situação anómala, denunciada pela revista Sábado, é explicada pelo município lisboeta com o facto, de na primeira toma da vacina, terem sobrado 126 doses, uma média de 18 por dia, uma vez que «há circunstâncias só conhecidas ao longo do próprio dia de vacinação que impedem a vacinação da pessoa prevista», como por exemplo a existência de «novos casos positivos (individuais ou surtos), doença, tratamento médico ou medicamentoso por causas diversas, hospitalizações, óbitos etc». Em jeito de balanço à agência LUSA, o município detalhava, em 9 de fevereiro, que foram ministradas 26 doses a elementos das equipas envolvidas diretamente da operação de vacinação nos lares: 15 enfermeiros e oito elementos da Proteção Civil municipal, entre os quais o vereador que detém esta pasta, Carlos Castro, e também três elementos do departamento de Higiene Urbana, entre os quais a sua diretora, Filipa Penedos, «envolvidos no processo de recolha das seringas utilizadas na vacinação».

As restantes 100 sobras «foram ministradas a profissionais dos grupos constantes na primeira fase de prioridade definida» pela DGS: «56 bombeiros voluntários de várias corporações, próximas ao local de vacinação, que definiram quem seriam os elementos».

O processo de vacinação em lares e instituições de apoio a portadores de deficiência em Lisboa está a ser coordenado pelos serviços municipais da Proteção Civil, Polícia Municipal, Higiene Urbana e Bombeiros Voluntários, em articulação com os três agrupamentos de centros de saúde da cidade (Central, Ocidental e Norte).

De acordo com a autarquia, foram contactadas as autoridades de saúde para saber que destino dar às doses que sobravam e as determinações foram no sentido de «garantir o aproveitamento total das doses existentes», vacinando em primeiro lugar «todos os profissionais da linha da frente envolvidos na operação de vacinação». E passar depois para a vacinação dos «grupos da primeira fase de prioridade como os bombeiros e polícias».

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Fonte da autarquia explica que, em cada dia de vacinação são levantadas as doses que correspondem apenas a «80% das pessoas previstas vacinar em cada um dos dias». «Esta prática de segurança resulta desde logo das regras estritas quanto ao uso e conservação e das vacinas»: uma vez saídos dos centros de saúde, e mesmo conservados em frio em embalagem que monitoriza o seu estado de conservação, os «frascos não perfurados devem ser usados nesse dia» e «os frascos já perfurados não podem ser transportados». Como há profissionais que por vezes faltam, utentes doentes ou com alergias que não podem ser inoculados, acabam por sobrar doses, explica o município.

Norma da DGS desrespeitada

Uma norma da Direcção-Geral da Saúde (DGS) de 30 de Janeiro estabelece que «enquanto a disponibilidade das vacinas for limitada, a vacinação é priorizada para os profissionais envolvidos na emergência pré-hospitalar e no transporte de doentes urgentes, que ainda não tenham sido vacinados, os profissionais envolvidos na execução do Plano de Vacinação contra a covid-19 e os e titulares de órgãos de soberania e altas entidades públicas», onde se incluem os presidentes de câmara, uma vez que são os responsáveis principais da Proteção Civil.

Em Lisboa, essa responsabilidade está concentrada no pelouro, até aqui, tutelado por Carlos Castro. No entanto, o vereador terá sido vacinado por estar na «linha da frente», uma vez que têm acompanhado a operação nos locais de vacinação. A mesma justificação é dada para a vacinação da diretora municipal de Higiene Urbana. Já para o comandante e o subcomandante do Regimento de Sapadores Bombeiros, assim como para o comandante e o subcomandante da Polícia Municipal, a justificação prende-se com a necessidade de «garantir a cadeia de comando». Receberam também a vacina 42 elementos da Polícia Municipal.

Apesar de estes profissionais integrarem a primeira fase de vacinação prioritária definida pela DGS, os bombeiros começaram a ser oficialmente vacinados, na passada quinta-feira. No entanto, à semelhança do que aconteceu em Lisboa e mesmo antes de o atual plano estar concluído e sem que houvesse qualquer indicação formal nesse sentido, há bombeiros por todo o país que foram sendo vacinados com as sobras de lares de idosos, pelo facto de estarem na linha da frentes no transporte de doentes.

Segundo o balanço do município, a primeira toma da vacina contra a covid-19 em lares e residenciais para idosos da capital foi administrada a 6244 utentes e profissionais em 126 equipamentos, estando em falta 43 instituições. Entre 18 e 22 de Janeiro, 5410 pessoas receberam a primeira dose da vacina e, nos dias 2 e 6 de Fevereiro, foram vacinados 844 utentes e profissionais em 20 lares que «registavam surtos ativos na semana de 18 a 22 de Janeiro», detalhou o município. Faltava proceder à vacinação em 43 estruturas residenciais, que abrangem 3173 idosos e profissionais, aguardando «que estejam reunidas as condições técnicas necessárias, assim que as autoridades de saúde garantam a inexistência de surtos ativos»”.

Entretanto, em declarações ao Público, uma fonte municipal garantiu que a segunda dose da vacina começou a ser administrada na segunda-feira, tendo chegado, até quarta-feira, a 3063 utentes e profissionais.

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