A Câmara de Lisboa lançou um programa anual de 200 mil euros para apoiar media. Com 20 prémios de 10 mil euros, ‘Lisboa, Cultura e Media’ dirige-se directamente a jornalistas e produtores de conteúdos digitais. “É importante para a cidade e para o país salvaguardar os jornalistas porque temos que salvaguardar a nossa democracia”, disse Carlos Moedas após apresentação do programa.
A Câmara Municipal de Lisboa lançou esta quarta-feira o Programa “Lisboa, Cultura e Media”, projeto que visa a valorização do setor dos media e pretende incentivar a criação de conteúdos relacionados com a cidade de Lisboa e com a cultura. O programa conta com uma dotação anual de 200 mil euros para premiar um total de 20 projetos.
A escolha dos projetos a apoiar cabe a Miguel Esteves Cardoso (presidente do júri), Paula Moura Pinheiro, Pedro Boucherie Mendes e Rosália Amorim, não havendo qualquer intervenção editorial por parte do município ou da Lisboa Cultura, assegura o executivo municipal.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa considerou que o programa, no valor de 200 mil euros, vai apoiar 20 jornalistas para salvaguardar a liberdade e a democracia, sem condicionalismos políticos ou partidários.
Para o presidente da autarquia é necessário “dar recursos aos jornalistas para poderem fazer bom conteúdo, conteúdo independente” numa altura em que “o mundo digital está a destruir o jornalismo e ir a fundo, mas aí não tem recursos, ou, então, ser populista”.
“A sociedade civil tem que contribuir, as autarquias têm que contribuir e eu espero que este programa seja seguido, também, por outras instituições”, defende Moedas.
Defesa da liberdade de imprensa
“É de uma grande importância para a cidade e para o país de salvaguardar os jornalistas porque temos de salvaguardar a nossa democracia e a nossa liberdade. Vivemos um momento muito difícil, o mundo digital que veio transformar aquilo que o jornalismo representa, que é o rigor, a independência, o conseguir aprofundar os assuntos”, disse Carlos Moedas.
No salão nobre dos Paços do Concelho, Carlos Moedas, que assumiu a pasta da Cultura em maio, após a suspensão do mandato do vereador Diogo Moura, sublinhou que na defesa da liberdade é preciso que todos possam dar o seu contributo.
“Vamos poder ajudar pelo menos 20 projetos, com 10.000 euros cada um, em que não há qualquer interferência política, em que os jornalistas vão poder desenvolver e aprofundar investigações por temas que têm a ver com cultura com Lisboa e que, a partir daí, possam fazer o seu trabalho”, referiu.
Na Sala do Arquivo, onde se juntaram diversos agentes da cultura, artistas, jornalistas e administradores de media, não faltou a referência de Carlos Moedas à proximidade com a área do jornalismo, pelo facto de ter crescido com o pai a escrever para o extinto Diário do Alentejo. “Os que me conhecem sabem que cresci dentro do jornalismo”, descreveu o autarca, qualificando o sector como “um parceiro indispensável da democracia” e chamando a atenção para a crise atual e a responsabilidade do poder local em tentar combatê-la. “As autarquias têm de estar na linha da frente desta luta”, defendeu Moedas.
Apoio direto aos jornalistas
O programa apoia diretamente jornalistas e produtores de conteúdos e não empresas de media, já que o objetivo, segundo o autarca, é “dizer aos jornalistas para escreverem o que quiserem, para investigarem o que quiserem”.
“A razão deste programa é única, é valorizar o jornalismo através dos jornalistas. Este programa é mais do que um prémio, é um ponto essencial no momento em que vivemos da defesa da liberdade”, sublinhou Carlos Moedas.
Sobre o apoio específico a conteúdos digitais fora do quadro do jornalismo, Carlos Moedas justificou a opção com a necessidade de “aprofundar a qualidade do conteúdo” publicado em diferentes plataformas. No seu conjunto, o programa, acredita o autarca, insere-se num “esforço pela liberdade de pensamento”.
Carlos Moedas lembrou que, atualmente, um dos “maiores desafios” é a “própria democracia”, considerando que não pode voltar a acontecer os jornalistas “não terem recursos”, como o caso recente ocorrido com os jornalistas do Diário de Notícias, da TSF e do Jornal de Notícias.
“São programas como estes que podem ajudar em que cada um destes projetos poderá ter 10.000 euros à disposição para fazer o seu trabalho”, sublinhou, especificando que o valor será para o próprio jornalista e não para o meio de comunicação social em si e para os produtores de conteúdos ‘online’.
Princípio de não intervenção
Por seu turno, Gonçalo Reis, administrador não executivo da empresa municipal Lisboa Cultura (EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural) referiu que a intenção do programa não é “subsidiar os meios de comunicação social ou apoiar financeiramente”, reiterando que os princípios de “não intervenção são essenciais”.
O responsável garantiu também que nenhum equipamento da Lisboa Cultura irá ficar prejudicado com a atribuição deste prémio, continuando as programações como até aqui.
Nas palavras de Gonçalo Reis, o investimento financeiro neste programa representa “menos de 1% do orçamento total” da empresa municipal, salientando que a iniciativa foi desenhada “para que haja novos talentos, ideias e projetos”. Foi, ainda, sublinhada a salvaguarda do carácter independente do programa. “Não queremos ter meios preferidos nem promover reportagens simpáticas ou fofinhas”, disse o administrador.
O programa Lisboa, Cultura e Media tem como missão promover a criação e difusão de notícias e conteúdos relacionados com cultura e a cidade de Lisboa, com um valor anual de 200 mil euros: 10 mil euros de prémio para 10 projetos jornalísticos e 10 mil euros de prémio para 10 projetos de plataformas digitais.
De acordo com Carlos Moedas, o júri do programa é de “altíssima qualidade”, com Miguel Esteves Cardoso como presidente, Pedro Boucherie Mendes, Paula Moura Pinheiro e Rosália Amorim.
Assim, a partir desta quarta-feira e até 31 de outubro, os jornalistas interessados podem submeter a sua candidatura no site da Lisboa Cultura.
Em janeiro de 2025 serão apresentados os vencedores e entregues os prémios em março, sendo 31 de março de 2026 a data limite para a conclusão dos projetos.