DO LIXO AO HIDROGÉNIO

O concelho de Cascais vai dispor de um sistema que transforma lixo doméstico em hidrogénio, para ser utilizado no abastecimento de autocarros municipais e veículos de recolha de resíduos. O projeto, desenvolvido pelas empresas Floating Particle e IPIAC, arrancou hoje e consiste «num sistema capaz de transformar 50 toneladas de lixo doméstico em cinco toneladas de hidrogénio por ano», explica o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras.

O concelho de Cascais continua a assumir a vanguarda com medidas concretas na sua estratégia para a descarbonização, com redução de emissões poluentes e deve «ser vista como território de laboratório de inovação», afirma o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, que hoje assinou um protocolo com as empresas portuguesas Floting Particle e IPIAC para a transformação do lixo que produzimos em nossas casas em hidrogénio.

Em vez de ir para aterro, o lixo é transformado em hidrogénio para ser utilizado no abastecimento de autocarros municipais e veículos da recolha de resíduos, reduzindo totalmente as emissões de todo o processo de tratamento do mesmo. Segundo, os responsáveis da Floting Particle, Diogo Soares e Luís Duarte Silva, assim como Alberto Puttin, da IPIAC, o concelho de Cascais com este projeto vai estar «na vanguarda e transformar-se numa referência internacional em termos de economia circular e de sustentabilidade ambiental».

«Vamos transformar os resíduos que temos em nossas casas naquilo que são as tecnologias já reais em termos de mobilidade urbana», sublinham os responsáveis das empresas que assinaram este protocolo, salientando que o projeto Stela é «uma parte das soluções para minimizar os problemas ambientais, numa economia mais sustentável»

Futuro pode estar no hidrogénio

Para o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, o hidrogénio pode ser o futuro, mas em Cascais já é o presente, com os dois autocarros movidos com esta fonte de energia que integram o serviço municipal de transporte rodoviário, nomeadamente as rotas na zona do Parque Natural de Sintra-Cascais e realizar duas linhas (Guincho e Pisão) no Verão e devem circular cerca de 250 km por dia. Num mês de referência vão percorrer cerca de 7.500 quilómetros, segundo estimativas técnicas.

Para além de ser o primeiro município do país a possuir este tipo de veículos, Cascais é o único local em Portugal a deter um posto de abastecimento deste tipo de energia. Contudo, agora com o Stella, essa capacidade de abastecimento vai ser reforçada. Como explicou Diogo Soares, o Stella consiste numa unidade de produção (basicamente, um pequeno reator) que apenas necessita de utilizar resíduos domésticos, ar e uma pequena quantidade de água, sendo autossuficiente em termos energéticos. Todo o processo de produção é eco-friendly, eliminando problemas como os dos alcatrões e sem emitir para a atmosfera qualquer gás nocivo.


Segundo Carlos Carreiras, a Câmara ao investir 230 mil euros nesta tecnologia, está a contribuir localmente para resolver dois dos problemas ambientais mais urgentes a nível global: a gestão dos lixos domésticos recolhidos pela autarquia (eliminando custos de transportes e o recurso a aterros sanitários) e a utilização de energias fósseis, que são altamente poluentes e cada vez mais caras.

Do ponto de vista do autarca, que considera que «estamos a viver uma pandemia climática», este projeto poderá «evoluir para uma central de abastecimento para os autocarros e veículos de lixo da autarquia», minimizando assim os impactos ambientais, lembrando que «os problemas de nível local, tem consequências a nível global».

«Estamos a investir na investigação»

Carlos Carreiras, que pretende «criar» um laboratório territorial no concelho, admite que, «neste momento, estamos a investir na investigação e considera que Cascais assume «a vanguarda com medidas concretas na sua estratégia para a descarbonização, com redução de emissões poluentes e racionalização de custos, uma vez que o município terá também a possibilidade de abastecer veículos ligeiros e pesados».

Na perspetiva de Carlos Carreiras, a Câmara Municipal de Cascais tomou, uma vez mais, posição pioneira no desenvolvimento para a era do hidrogénio, implementando um sistema capaz de transformar 50 toneladas de lixo doméstico em cinco toneladas de hidrogénio por ano.

De acordo com o parecer sobre a Prova de Conceito Tecnologia STELLA Vasco Amorim, Docente do Departamento de Engenharias da Escola de Ciências e Tecnologia – UTAD Investigador INESC TEC, «globalmente este projeto contribui para, pelo menos, três dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas, nomeadamente Cidades e comunidades sustentáveis; Energias renováveis e acessíveis; Indústria, inovação e infraestruturas».

O hidrogénio fabricado será 100% verde. Os resíduos entram no reator STELLA, dando-se início ao processo de gasificação dos resíduos. Do reator, obtém-se hidrogénio e outros produtos como biocarvão e oxigénio. O hidrogénio produzido pode ter diversas aplicações, nomeadamente a produção de eletricidade ou, no caso específico da Camara Municipal de Cascais, o abastecimento de autocarros movidos a hidrogénio já em circulação em Cascais.

O Stella Cascais é um equipamento de prova de conceito para a produção de hidrogénio, com uma capacidade de conversão de resíduos de 250 kg/dia; uma capacidade de produção de hidrogénio de 24 kg/dia. A pureza de hidrogénio produzido é de 99,995%@25 Bar. A potência elétrica de carga da estação é de 35 kVA.

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