O concurso público para o metro ligeiro de superfície entre Loures e Odivelas foi lançado esta sexta-feira. A Linha Violeta terá um total de 17 estações e aproximadamente 11,5 quilómetros de extensão, entre o Hospital Beatriz Ângelo e o Infantado, em Loures, com ligação ao centro de Lisboa a partir da atual estação de Odivelas. Os presidentes de Câmara de Loures e Odivelas consideram que o processo é irreversível.
O concurso público para a construção da Linha Violeta do Metropolitano de Lisboa foi lançado esta sexta-feira, prevendo que o metro ligeiro de superfície entre Odivelas e Loures estará operacional em 2026 e custará 527 milhões de euros. Além do lançamento do concurso na plataforma de contratação pública, decorreu também hoje de manhã a assinatura do protocolo de colaboração entre o Metropolitano e os municípios de Loures e Odivelas, no distrito de Lisboa.
Segundo o concurso público, hoje lançado numa cerimónia em Lisboa, a nova linha custará 527 milhões de euros (já com IVA). Daqui, 390 são do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e 137,3 milhões de euros são financiados pelo Orçamento do Estado. A Linha terá 11,5 quilómetros e 17 estações (12 delas à superfície, três subterrâneas e duas em trincheira), entre o Hospital Beatriz Ângelo e o Infantado, em Loures, com ligação ao centro de Lisboa a partir da atual estação de Odivelas.
Vai servir as freguesias de Loures, Santo António dos Cavaleiros e Frielas, no concelho de Loures, com nove estações numa extensão de 6,4 km. No concelho de Odivelas serão construídas oito estações que servirão as freguesias de Póvoa de Santo Adrião e Olival de Basto, Odivelas, Ramada e Caneças, numa extensão total de 5,1 km.
Mudar paradigma…
Na sessão de lançamento, o presidente do Metropolitano de Lisboa, Vítor Domingues dos Santos, considerou que esta linha violeta mudará o paradigma da mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Desta forma, poderá depois expandir-se para outros concelhos na zona norte de Lisboa. Também o ainda secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, sublinhou que “este processo de investimento na área da mobilidade não pode parar aqui”.
“Temos um modelo de mobilidade que não é, eu diria, compatível com a imagem que gostaríamos de ter de nós próprios no século XXI”. Na sua opinião, a mobilidade em viatura própria gasta demasiados recursos, nomeadamente combustíveis fósseis, e é pouco eficiente do ponto de vista económico e ambiental, já que os transportes são responsáveis por 25% das emissões de CO2 e “não haverá transição climática sem uma ação direta sobre este setor”.
Mobilidade amiga do ambiente
O governante destacou que, nesta área, estão em curso ou comprometidos mais de 6 mil milhões de euros, ou mais de 2,5% do PIB nacional. Este é um investimento “que não tem paralelo com alguma coisa que se tenha feito na área da mobilidade no passado”. “E é isto que é preciso continuar a fazer. Não há alternativa, não há uma alteração dos padrões de mobilidade sem fazer do transporte público a espinha dorsal do sistema”, disse.
Jorge Delgado realçou também que se aproxima a fase de “ver os frutos dessas opções estratégicas”. “Este ano ainda abrirá no Porto a Linha Amarela, no próximo ano a Linha Circular de Lisboa, a Linha Rosa no Porto, em 2026, com o PRR, a Linha Rubi no Porto, a Linha Vermelha em Lisboa, a Linha Violeta que agora aqui também lançamos e os diversos BRT”, nomeadamente o de Guimarães, em Braga, enumerou.
Com estes investimentos, é esperado que mais 75 milhões de pessoas por ano utilizem os transportes públicos nestas redes das áreas metropolitanas, um aumento de 25% em relação aos atuais 270 milhões de utentes por ano, realçou.
Corrida entre o burro e o Ferrari
Ricardo Leão, presidente da Câmara de Loures (PS), destacou que esta é uma obra esperada há tanto tempo pelos moradores de Loures que estes “já estavam descrentes” nesta solução. O autarca lembrou que esta é uma “aspiração” das gentes de Loures e que foi uma promessa eleitoral de António Costa, em 1993, quando se candidatou a presidente da Câmara de Loures e que ficou celebre pela corrida entre um burro e um Ferrari.
Regressemos a 1993 e à alfacinha Calçada de Carriche, na altura uma das mais complicadas entradas em Lisboa. Mário Soares era o Presidente da República, Cavaco Silva o primeiro-ministro (no segundo governo) e António Guterres o secretário-geral do PS. O ano era de autárquicas e o PS lançava um jovem, mas já muito activo socialista na corrida à Câmara de Loures, um bastião comunista: o deputado António Costa, 33 anos na altura.
Costa apresentava como principal trunfo a exigência da extensão da linha de Metro até Odivelas, de forma a combater as caóticas filas de carros que todos os dias enchiam a Calçada de Carriche, que liga Loures a Lisboa. Segundo Ricardo Leão, Loures é um dos concelhos que mais viaturas faz entrar na cidade de Lisboa. As nove estações permitirão uma nova forma de mobilidade não só para Lisboa como para os circuitos internos do concelho, lembrando, contudo, que falta o projecto de mobilidade suave para a zona Oriental do concelho.
Do ponto de vista do autarca de Loures e também do de Odivelas, este projecto da Linha Violeta já não pode “ser parado”. Ricardo Leão afiança: “este projecto em concreto não pode ser afectado, até porque já foi adjudicado. Não esquecemos o papel de António Costa que encontrou soluções alternativas de financiamento, através do Orçamento de Estado”.
Hugo Martins quer linha partilhada
Por seu turno, Hugo Martins, presidente da Câmara de Odivelas (PS), considerou que este é “um dia histórico” para a mobilidade da área norte da AML. O autarca sublinhou que, para o seu concelho, os ganhos são sobretudo de menor pressão de tráfego e mais estacionamento. “O novo metro apanha os utentes em Loures mais a montante”, há um melhor acesso ao hospital Beatriz Ângelo, menor ruído e menos emissão de gases para a atmosfera, o que permitirá cumprir também metas ambientais.
Todavia, o autarca avisa: “não vamos desistir de uma entrada na linha amarela na futura linha circular, nas horas de maior fluxo de passageiros (principio da manhã e fim-de-tarde). Não podemos permitir mais um transbordo, no Campo Grande, para os cidadãos que se dirijam para a zona norte de Lisboa”. “Tínhamos uma garantia do anterior Governo que iria existir uma partilha da linha amarela nas horas de maior fluxo. Espero que o novo Governo cumpre com a promessa. Caso isso não aconteça, tanto a Câmara como a população vão realizar ações de protesto”, avisa Hugo Martins.
Quatro meses para apresentar propostas
Os concorrentes têm um prazo de 120 dias para a apresentação de propostas neste concurso, contado da data do envio do anúncio para publicação no Jornal Oficial da União Europeia (JOUE). O investimento inclui a conceção e construção da infraestrutura do Sistema de Metro Ligeiro e do reordenamento urbano envolvente, e a elaboração de todos os estudos para efeitos da instrução dos processos de expropriação por utilidade pública.
Também inclui o fornecimento de veículos tipo LRV-Light Rail Vehicle, e a prestação de serviços de manutenção da infraestrutura ferroviária e dos veículos pelo prazo de três anos. As obras deverão estar concluídas no segundo semestre de 2026.