MARCHA DA MADRAGOA QUER VOLTAR A CONQUISTAR O 1º LUGAR

No desfile de 2022 trouxeram uma rosa da Madragoa moderna, juntamente com um pescador moderno destes novos tempos

João Medeiros, ensaiador da Marcha da Madragoa diz que “ainda não caiu a ficha na totalidade” por terem sido os vencedores em 2022. No entanto, assegura que estão a trabalhar para voltarem a conquistar o 1º lugar nas Marchas Populares de Lisboa 2023.

Depois de dois anos parados devido à pandemia da Covid-19, a Marcha da Madragoa voltou a desfilar em 2022 com o tema “Para Sempre Madragoa”. Um tema que fez referência à história do bairro da Madragoa, conhecido pela sua ligação ao Rio Tejo e às origens piscatórias, um local onde a grande maioria das varinas habitavam juntamente com os pescadores.

No entanto, não foi a única referência a ser exibida. Com o título “Para Sempre Madragoa” fizeram uma alusão à conhecida Rosa da Madragoa, uma personagem de vários fados.

Rosa da Madragoa

No desfile de 2022 trouxeram uma rosa da Madragoa moderna, juntamente com um pescador moderno destes novos tempos. A rosa não representa apenas uma personagem, mas também é um símbolo de beleza, paixão, coração e alma, simbolizando os elementos que estão associados ao amor que os marchantes têm pelo Bairro da Madragoa.

No início da exibição no Altice Arena, onde desfilaram no último dia, 5 de junho, os 48 marchantes da Madragoa começaram calçados, mas fizeram cumprir a tradição e terminaram o cortejo descalços.

Prémios conquistados

A Marcha da Madragoa, além de ter vencido o Concurso das Marchas Populares de Lisboa 2022, também conquistou as categorias de melhor coreografia, melhor figurino e melhor desfile na Avenida, local onde desfilaram no dia 12 de junho.

João Medeiros foi o ensaiador da Marcha da Madragoa e o responsável, juntamente com Fauze El Kadre, pelos figurinos e cenografia. Já as músicas das marchas deste famoso bairro, foram compostas por António Duarte Martins e Francisco Bahuto. As mascotes foram Bruno Sanhá e Mia Pereira.

Os figurinos e a cenografia fizeram a ligação entre o moderno e o tradicional e as músicas trouxeram uma mistura entre o passado e o presente. Na marcha inédita 1, desfilaram o tema “Para Sempre Lisboa”, já na marcha inédita 2 a música escolhida foi “Vem aí a Madragoa”. Por fim, o tema selecionado para a Marcha foi “Venham ver a Madragoa”.


(…) Que marcha tão gira/ Que dançar o vira/ Faz vibrar Lisboa./ São belas as varinas/ Nascidas nas trinas/ É a Madragoa (…)”

A influencer digital Ana Garcia Martins, mais conhecida por A Pipoca Mais Doce, e o ator Bruno Cabrerizo foram os padrinhos da marcha em 2022. A Marcha da Madragoa volta a participar este ano no Concurso das Marchas Populares de Lisboa no dia 2 de junho, no Altice Arena. A 89º edição do concurso tem como tema o Parque Mayer.

Vencer novamente”

Numa visita ao bairro da Madragoa, o jornal Olhares de Lisboa falou com alguns moradores para saber mais sobre a Marcha vencedora do Concurso das Marchas Populares de Lisboa 2022. Ao caminhar pelas ruas inclinadas do bairro, encontrámos Bárbara Miranda. Nasceu e cresceu na Madragoa e diz que viver neste bairro já vem de geração em geração.

A jovem de 22 anos participa na Marcha da Madragoa desde 2015. O ano passado celebrou a vitória da sua marcha e descreve a sensação como “incrível, uma loucura”. Contudo, afirma que já estão focados neste ano e garante que estão a “lutar para vencer novamente”. Os ensaios começaram no dia 27 de março e a marchante diz estar “muito entusiasmada” por voltar a ensaiar.

Marchante passam de geração

Além da Bárbara, também falámos com Teresa Chaves que participou na marcha do seu bairro durante 27 anos. Ao Olhares de Lisboa contou que decidiu ser marchante porque “é algo que nos é quase incutido desde que somos novos”.

Embora lamente não ter vencido enquanto ainda pertencia a Marcha da Madragoa, recorda que foram tempos “muito bons”. Teresa Chaves, explicou que participar na marcha é algo que passa de geração em geração. “Houve uma altura em que marchei juntamente com a minha filha, depois com o meu filho. Até o meu sogro andou na Marcha da Madragoa. Depois acabei por sair e a minha filha lá ficou”.

Desta forma, teve de desistir para ficar a cuidar da sua neta para que a filha consiga ir aos ensaios e porque “já não tinha muito tempo para as minhas coisas”, explicou. Mas também há histórias sobre os que sempre tiveram o sonho de participar na Marcha da Madragoa, mas não conseguiram. É o caso de Ana Rosa, de 88 anos.

Recordar velhos tempos

“Antigamente as marchas levavam uma bateria dentro dos arcos para a iluminação. Portanto, eles escolhiam raparigas e rapazes que tivessem capacidade para pegar no arco, visto que era muito pesado, e eu como na altura era muito magra e também não tinha a força que era necessária, acabei por não conseguir entrar para a marcha”, explicou.

Contudo, não é por este motivo que Ana Rosa deixa de “viver a marcha”. Contou que vai sempre ao Altice Arena para ver as exibições e no dia de Santo António confessa que fica acordada até saírem os resultados. Ao Olhares de Lisboa disse que a Marcha da Madragoa “não precisa de muita coisa, vão sempre da mesma maneira: de varina. Por isso, é que eu digo que a Madragoa é linda”, finalizou.

Vamos trabalhar para vencer”

Com o mês de junho a chegar, a Marcha da Madragoa já começou a ensaiar. Neste sentido, os 48 marchantes juntam-se de segunda a sexta-feira para os ensaios, que se realizam nas instalações da academia da Estrela.

“Já começamos a primeira semana de ensaios de canto e correu extremamente bem, temos um grupo tão unido como o do ano passado e com tanta ou mais vontade de trabalhar bem e de ensaiar”, contou João Medeiros, responsável pela marcha.

Acrescentando que a “grande maioria” dos marchantes são os mesmos que participaram em 2022. Desta forma, existe um par de suplentes fixos, como habitual, mas confirma que têm de reserva “alguns contactos de pessoas que se inscreveram e não foram aceites de primeira mão, mas temos esses contactos para o caso de acontecer alguma coisa”, explicou.

Maior procura

Neste sentido, o responsável pela Marcha da Madragoa recorda que nunca tiveram uma “avalanche tão grande de inscrições como este ano, tanto femininas como masculinas”. No entanto, diz que um dos motivos para tanta procura pode estar relacionado ao facto de terem sido os vencedores em 2022.

“Não sei se este é realmente o motivo, acho que pode ser um dos motivos. Mas é um facto que termos sido vencedores ajudou bastante porque a vitória deu uma grande publicidade à marcha. Secalhar as pessoas acabaram por se identificar com a madragoa e quiseram inscrever-se na nossa marcha. Por isso, acho que este pode ter sido um dos fatores, mas não o único”, clarificou.

Para entrar na Marcha da Madragoa não são precisos grandes requisitos, mas é necessário que “a pessoa esteja ciente que é um compromisso que está a assumir com a marcha. Além disso, também procuramos saber qual a disponibilidade da pessoa para vir aos ensaios, isto porque gostamos de ter os 48 marchantes presentes todos os dias para trabalhar”.

Amar o bairro é fundamental para entrar na Marcha da Madragoa

Contudo, o João Medeiros conta que o requisito principal é “terem vontade de trabalhar, terem espírito de grupo e união e, acima de tudo, amarem a Madragoa”, complementou. Por outro lado, relativamente aos apoios por parte da Câmara Municipal de Lisboa e da Junta de Freguesia da Estrela, o responsável assegura que recebem “grandes ajudas”.

“Existe uma grande preocupação para que os marchantes tenham direito a várias coisas, como jantares, massagens no dia do Altice Arena e, por vezes, há coisas que são precisas há última da hora e eles nunca deixam faltar nada”.

A Marcha da Madragoa foi a vencedora da 88ª edição. No entanto, perto de completar um ano de vitória, João Medeiros conta que “ainda não percebemos muito bem qual foi a sensação, foi um misto de vários sentimentos. Sinto que a ficha ainda não caiu na totalidade”.

No entanto, assume que foi um “grande orgulho ver que o nosso esforço e dedicação deu-nos este resultado incrível”, recordando o trabalho em união e os momentos “divertidos” que viveram durante “a caminhada”.

Trabalhar para ganhar outra vez

“Este ano o caminho é o mesmo. Sabemos que temos alguma responsabilidade por termos conquistado o primeiro lugar em 2022, mas assumimos todos, marchantes e comissão, na primeira reunião de marcha 2023 que o ano passado estava ultrapassado e que este ano não somos campeões. Portanto estamos a começar tudo do zero, sem essa ideia pré-concebida”, acrescentando que este ano “vamos trabalhar ainda mais para sermos os vencedores outra vez”.

Este ano, os responsáveis pela letra são Mariana Peres e João Medeiros, também coreografo da Marcha da Madragoa, e que se junta a Fauze El Kadre para a cenografia e figurinos. Já a música é da responsabilidade de António Duarte Martins e Francisco Bahuto. O par de mascotes será Ariana Sanhá e Tomás Almeida e os padrinhos ainda não foram divulgados.

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