Moedas diz ter sempre defendido esta solução e Leão quer discutir destino dos terrenos da Portela

Campo de Tiro de Alcochete é a localização escolhida para o novo aeroporto, cuja abertura acontecerá no prazo de dez a 15 anos. Humberto Delgado será expandido e terá melhores acessibilidades, mais tarde é para desativar. Aeroporto avançará em paralelo com a construção da Terceira Travessia do Tejo e a Alta Velocidade com a ligação Lisboa-Madrid para fazer em três horas em 2034. Carlos Moedas diz Moedas sobre o aeroporto: “Foi a solução que sempre defendi”

Presidente da Câmara de Lisboa diz que esta era já a sua escolha “enquanto engenheiro e cidadão”. Já o presidente da Câmara de Loures quer estar presente nas reuniões do Governo sobre o destino dos terrenos do Aeroporto Humberto Delgado, sublinhando que a maior parte da infraestrutura está localizada no município.

Uma solução única: o Campo Tiro de Alcochete será o novo aeroporto internacional de Lisboa, com o Humberto Delgado a ser alvo de um aumento de capacidade, para que possa servir a procura até a nova infraestrutura arrancar. O Executivo de Luís Montenegro aprovou esta terça-feira três resoluções de Conselho de Ministros, instrumentos essenciais para que a nova solução aeroportuária de Lisboa avance e simultaneamente se construam novas acessibilidades rodo-ferroviárias, a Terceira Travessia do Tejo (TTT) e a Alta Velocidade Lisboa-Madrid – que é uma nova linha.

O novo aeroporto de Lisboa, que se vai chamar Aeroporto Luís de Camões, vai nascer no Campo de Tiro da Força Aérea, também conhecido como Campo de Tiro de Alcochete (pela proximidade deste núcleo urbano), fica maioritariamente localizado na freguesia de Samora Correia, no concelho de Benavente (distrito de Santarém), tendo uma pequena parte na freguesia de Canha, no município do Montijo (distrito de Setúbal).

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa já veio a público confessar estar muito satisfeito pela escolha de Alcochete para localização do novo Aeroporto Internacional de Lisboa, anunciada pelo Governo ao final do dia de terça-feira. “Foi a solução que sempre defendi, quer como engenheiro, quer como cidadão”, declarou aos jornalistas, nos Paços do Concelho, ao início da tarde desta quarta-feira, momento em que revelou ainda total concordância com a decisão de se fazer a ligação em alta velocidade entre a capital portuguesa e Madrid e com a construção da Terceira Travessia do Tejo.

“A decisão tomada ontem pelo senhor primeiro-ministro é uma decisão muito importante para os lisboetas. O Governo decidiu e isto é absolutamente crucial. Durante oito anos, com toda a inércia, a indecisão, e não estava tomada esta decisão. E esta é uma decisão fundamental para o futuro do país”, disse o edil, congratulando o executivo liderado por Luís Montenegro (AD) por o ter feito. “Tomar a decisão em 30 dias não era fácil, mas foi preciso tomá-la”, disse, explicando que essa é a primeira de um conjunto de três razões pelas quais o anúncio de ontem se revela importante.

A segunda está relacionada com a escolha de Alcochete. Carlos Moedas considera que o Governo decidiu “bem”. “Temos os estudos técnicos, que indicam que é esta a melhor decisão para o Aeroporto de Lisboa. Ainda em campanha eleitoral, estive sempre do lado desta decisão”, afirmou. “Como engenheiro e como cidadão, era a escolha que defendia. Mas como presidente da câmara decidi não tomar nenhuma posição, exatamente para hoje a poder defender. Mais importante do que a decisão, era tomá-la”, considerou.

Em terceiro lugar, o presidente da câmara da capital salienta a relevância ambiental da decisão. “O atual aeroporto da Portela vive tempos muito difíceis no seu funcionamento, com um grande congestionamento. Não há nada de pior para o ambiente e para a sustentabilidade do que termos um aeroporto congestionado. E é isso que temos tido nos últimos anos”, afirmou. “Por isso, saúdo também estas obras na Portela, porque elas vão ajudar a descongestionar um aeroporto com um tráfego aéreo já acima daquilo que é a sua capacidade e, por outro lado, vamos ainda ter aqui um período de 10 a 12 anos em que vamos ter aqui a Portela”, notou.


Já sobre as obras previstas para a expansão do aeroporto da Portela e risco do aumento da poluição na cidade, o autarca diz que há investimento que deve ser feito para mitigar o problema, assinalando que é necessário viver com a situação.

“Nestas obras para a Portela uma parte deste dinheiro tem que ser alocado a mitigar a poluição na cidade de Lisboa”, aponta, lembrando que “esta situação vai durar 10 ou 12 anos”. “Nós vamos ter que viver com esta situação e vamos ter que mitigar”, indicando que “hoje há novas tecnologias, há novos métodos, seja na engenharia, seja nos combustíveis dos próprios aviões”.

Para Moedas, a situação ideal seria ter um novo aeroporto muito rapidamente, mas “não se consegue construir um novo aeroporto de um dia para o outro”, sublinha.

Gratidão ao Governo

O presidente da Câmara de Lisboa diz ainda estar satisfeito com o anúncio de uma nova linha ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid e fala em benefícios económicos. “É importante para a nossa economia, vai ser mais emprego que vai ser criado, mais economia, mais dinamismo entre as duas capitais, em que a comunidade Madrid, só por si, é uma região com um Produto Interno Bruto da mesma dimensão do nosso país. Portanto, isso é muito importante em termos económicos e em termos sociais”, realça.

Carlos Moedas diz ainda estar satisfeito com o facto de o Governo ter optado por uma ligação rodoviária e ferroviária entre Lisboa e Alcochete e deixa agradecimentos ao Executivo. “Fico muito contente que o Ministro Pinto luz tenha decidido a avançar com um estudo que olhe também para o modo rodo-ferroviário, ou seja, rodoviário e ferroviário. E penso que neste momento, depois de toda a pressão que coloquei no Governo, ter uma decisão em menos de 30 dias, só posso agradecer a este Governo a coragem, a coragem de decidir, a coragem de não vacilar”, conclui.

Loures quer estar nas reuniões sobre terrenos da Portela

Já o presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, apesar de estar de acordo com o anúncio feito pelo Primeiro-ministro, reivindicou esta quarta-feira a presença nas reuniões do Governo sobre o destino dos terrenos do Aeroporto Humberto Delgado, sublinhando que a maior parte da infraestrutura está localizada no município.

No final do anúncio, o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, disse que o Governo estaria “em diálogo estreito com a Câmara Municipal de Lisboa, o Estado português e os vários ministérios”, para desenvolver “uma nova centralidade” nos terrenos da Portela onde se localiza atualmente o Aeroporto Humberto Delgado, que será desativado.

“Convém relembrar o senhor ministro Miguel Pinto Luz que deve conhecer melhor a realidade da Área Metropolitana de Lisboa. Uma boa parte do aeroporto e das pistas respetivas situam-se no concelho de Loures. Portanto, se já teve esse cuidado de se reunir com a Câmara de Lisboa, comigo não”, criticou Ricardo Leão.

No seu entendimento, o município de Loures, contíguo à capital, deve ter um papel importante na discussão do projeto que vier ali a ser desenvolvido, após o desmantelamento do Humberto Delgado.

Miguel Pinto Luz prometeu na terça-feira que iria avaliar com autarcas, associações e até moradores, formas de reutilizar os terrenos onde atualmente se localiza o aeroporto de Lisboa, ressalvando que terão de ser descontaminados.

O executivo decidiu também mandatar a Infraestruturas de Portugal para concluir os estudos para a construção da Terceira Travessia do Tejo e da ligação ferroviária de alta velocidade Lisboa-Madrid.

A Comissão Técnica Independente (CTI) designada para avaliar as opções da nova infraestrutura publicou no dia 11 de março o relatório final da Avaliação Ambiental Estratégica do novo aeroporto, mantendo a recomendação de uma solução única em Alcochete ou Vendas Novas, mas apontou que Humberto Delgado + Santarém poderia “ser uma solução” transitória.

 

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