NADA PAROU ALTO PINA NA NOITE DE TODAS AS MARCHAS

Em vésperas do dia de Santo António, Lisboa é uma explosão de cores e alegria. As Marchas Populares descem a Avenida, os espetadores apreciam e seguem com atenção figurinos e marcações de marcha.
Foram 24 as Marchas Populares que desceram a Avenida e, com elas, desceu também todo o esforço de quase um ano de trabalho. Encostados às grades que «proíbem a passagem para a Avenida», as claques esperavam ansiosamente a passagem da sua marcha. Cada um acredita na sua: «hoje é que têm de dar o litro para ver se ganham». Pelo meio lá vão lançando o «grito de guerra»: «Ié, ié, ié a minha marcha é que é».

Mas, demonstrando um grande «fair play», a maioria dos elementos das claques pediam «que ganhe o melhor». Um facto, é que havia um toque de para bairro a cada passo que se dava, mostrando que as Marchas Unidas representam o que de mais puro e belo existe no sentimento bairrista de todos os envolvidos neste grande acontecimento cultural da cidade de Lisboa.

Os telemóveis estavam «ao alto» para fotografarem e gravarem os marchantes do bairro. As marchas acabam à porta dos Restauradores e a festa continua, pela madrugada dentro. Os bairros voltam ao seu sitio, mas levam a festa consigo e quem foi ver também os segue.

Este ano, para além do Alto Pina, vencedor incontestável, no pódio das Marchas Populares ficaram Alfama, que conseguiu o segundo lugar depois de vencer em 2018, e a Penha de França, que ficou em terceiro.

Aos gritos de «campeões, campeões» marchantes e os padrinhos do Alto Pina festejaram, pela madrugada dentro e «com tudo a que tinham direito», a conquista da «taça» do «campeonato lisboeta» das Marchas Populares.

«O Alto Pina chegou, a todos encantou» e foi tudo à sua maneira cantava, de uma forma premonitória, a Marcha do Alto Pina, durante o desfile na Avenida da Liberdade. De facto, o Alto do Pina confirmou as previsões e venceu as Marchas Populares de Lisboa 2019.

Esta é a quarta vez que o bairro do Alto Pina ganha esta competição, cujo primeiro concurso de marchas da capital foi organizado em 1932 pelo Parque Mayer. No segundo lugar ficou Alfama, depois de ter ganho no ano passado, e no terceiro ficou Penha de França.

Com centenas de participantes, o 87.º concurso das marchas contou com 20 grupos: Alfama, S. Vicente, Carnide, Bica, Bela Flor-Campolide, Ajuda, Baixa, Madragoa, Penha de França, Graça, Beato, Marvila, Bairro da Boavista, Olivais, Mouraria, Parque das Nações, Castelo, Alto do Pina, Alcântara e Bairro Alto.


Em extra competição, desfilaram pela Avenida da Liberdade as marchas Infantil A Voz do Operário, Mercados, Santa Casa e, como convidada, a Marcha Popular de Ribeira de Frades (Coimbra).

Na sua conta de Instagram, Teresa Guilherme publicou um vídeo e na legenda confessou estar «muito feliz. Estou tão feliz! Tão feliz! Pelo trabalho, dedicação, amor, garra de toda esta gente maravilhosa do Alto do Pina. A minha marcha GANHOU!!!! 5 prémios. Coreografia, letra, música, figurino e desfile na Avenida! Parabéns a todos! Estou mesmo muito feliz!!», lê-se.

Também o padrinho Marco Costa escreveu um longo texto onde agradece o carinho recebido pelos marchantes. «Espero que tenham gostado do padrinho tanto quanto eu gostei dos meus ‘afilhados’! Quando fui convidado para ser padrinho, fui recebido de braços abertos por todos os marchantes do Alto Pina, sou bairrista, mas não era do vosso bairro, receberam me como se fosse!», começou por escrever.

CAMPO DE OURIQUE VENCEDOR EM 1932

De recordar que o primeiro concurso de marchas da capital foi organizado em 1932 para o Parque Mayer. A Câmara de Lisboa agarrou a ideia e em 1935 houve pela primeira vez uma canção comum para todos os marchantes. Ainda longe da ribalta, foi também nesse ano que Amália se estreou como solista.

O Bairro de Campo de Ourique, com uma marcha organizada pela Academia Filarmónica Verdi, conquistou o “1º prémio de imponência” no primeiro concurso de marchas populares em Lisboa. Corria o ano de 1932, os versos não eram de poetas, nem as músicas de compositores célebres. Também não houve padrinhos conhecidos, mas a vontade bairrista de ganhar já lá estava e a adesão superou as expectativas, lembram os jornais da época.

A iniciativa partiu do diretor do Parque Mayer, casa de espetáculos no centro da vida lisboeta. Os Santos Populares já eram festejados nas ruas da cidade e havia a memória das «velhas marchas populares» de cada bairro, chamadas também de ranchadas, que se encontravam junto ao chafariz da rua Formosa, hoje rua do Século, lembra o ensaiador José Ramalho, num texto guardado no arquivo do Gabinete de Estudos Olisiponenses da Câmara Municipal de Lisboa. Campos Figueira pensou em revitalizar a tradição com um “espetáculo inédito”, com direito a palco e prémios, e criou a competição que, mesmo com alguns anos de menor entusiasmo, durou até aos dias de hoje.

A primeira edição foi promovida pela revista “Notícias Ilustrado”, com o envolvimento do diretor Leitão de Barros, e pelo “Diário de Lisboa”. Os «ranchos» de cada bairro, afinal a tradição inspirava-se no folclore regional, receberam um subsídio para ajudar nas despesas. Mas, alguns dias antes da data marcada para a exibição, só três ranchos estavam em condições de se apresentarem em público para o anunciado concurso: Alto do Pina, Campo de Ourique e Bairro Alto disputariam o primeiro concurso e o Parque Mayer revelou-se pequeno para tanta euforia.

O DESFILE «TINTIN A TINTIN»

Aos gritos de “Ié, Ié, Ié” e “A nossa marcha é linda”, milhares de lisboetas deram as boas-vindas às marchas populares que se exibiram na Av. da Liberdade, em Lisboa. Para trás ficaram meses de trabalho intenso e muito afinco para que as marchas decorressem da melhor maneira.

No ar, sentia-se o cheiro a gente determinada a tentar levar o seu bairro à vitória. Entre um «veja lá que o nosso bairro tem a melhor marcha» e as músicas das marchas cantadas em coro a uma só voz, não se pode negar que dá vontade de fazermos parte daquele mundo.

A Marcha convidada veio de Ribeira de Frades, uma pequena aldeia do concelho de Coimbra, com um bairrismo muito próprio. Assim, a Marcha de Ribeira de Frades abriu o desfile no «Tempo Mais que Perfeito», numa referência a um passado e presente que se cruzam para formar memórias profundas.

De seguida. nada melhor que «um sorriso de uma criança», acompanhado com «muitas brincadeiras e travessuras» para mostrar que «Lisboa menina e moça desperta e vai à janela espreitar o amanhecer», depois sai «com um ar namoradeiro e a saia cor do mar» para ver passar a Marcha Infantil da Voz do Operário que apenas pede: «Queremos o verde que tem a natureza/À nossa volta para não haver tristeza/Queremos ter tempo para ver e aprender/A ser amigos, amigos a valer».

Intimamente ligado às marchas populares está o fado, representativo de um património único lisboeta. Numa «viagem de descoberta contínua», a saudade e o Fado uniram-se para consolidarem a nossa identidade e, como disse Fernando Pessoa, o Fado «é o nada que é tudo», cuja «lenda se escorre / A entrar na realidade».

E foi precisamente o fado que a Marcha dos Mercados elegeu como tema, afiançando que «os mercados de Lisboa, onde muitos fadistas nasceram, trazem o fado no coração». E, como dizem na canção: «Maria Flor/Junto aos cravos encarnados/Escutei a sua canção/E sei agora/Que há em Lisboa, Mercados/Com fado no coração».  Mas, a Marcha do Mercado não esqueceu os típicos elétricos lisboetas e, dessa forma, canta: «Estava à cunha, o amarelo/Mesmo antes de ali passar/Mas respondendo ao apelo/Teve logo que parar».

As marchas populares conservam uma vitalidade invejável e são, ainda hoje, o ex-libris das festas da cidade, graças às centenas de pessoas que se empenham em manter a tradição viva, passando este testemunho de geração em geração. É essa passagem de testemunho que a Marcha da Santa Casa levou à Avenida. Orgulhosos dos seus mais de 500 anos, ainda dizem à cidade que «estão aí para as curvas» e vão marchar «até que o pé e a voz doam».

Todos os que desfilaram por esta marcha, que já vai na sua terceira participação consecutiva, afirmam garbosamente que a Santa Casa participa para mostrar a Alma e o Amor que fazem mover esta instituição e, por isso, cantam: «Somos felizes como vês/Abraçando sonhos teus/Sejas ou não português/… Assim nos ajude Deus».

Já o bairro do santo padroeiro de Lisboa, S. Vicente, o primeiro a concurso a desfilar, contou a «estória de amor» entre um cocheiro, o Tozé, e uma criadinha espevitada de seu nome Filó, revivendo, desta forma, a época dos coches e dos carros engalanados que, constantemente, cruzavam as ruelas de S. Vicente, recordando: «São vicente tem a sua fidalguia/Com palácios, carruagens e brasões …/Entre os aios e os lacaios de uma casa/A criada e o cocheiro … estão a ver/Ela é linda, põe-lhe o coração em brasa/E ele afasta o alazão só para a ter…»

A Marcha de Carnide, além de apregoar que já existem arraias no coreto, cheio de pares a dançar, quis contar a história do seu bairro e apelou: «Dança comigo, Carnide/Dança comigo/Que é neste bailarico/Que o mestre ou o maçarico/Passam a noite a dançar», lembrando: «No arraial de Carnide/Fazemos com precisão/Tantas fitas e enfeites/Bandeirinhas e deleites/Nas ruas desta canção».

E, como por entre ruas e ruelas, jardins, escadinhas, becos e fontes já se sente o cheiro da sardinha assada dos arraiais, a Marcha da Bica, que fez questão de homenagear Fernando Duarte, afinou as vozes e cantou: «Toda a gente já saiu para o arraial/Por lá se encontram mulheres ditas de má vida/E outras senhoras que a má língua não comenta/Que a nossa marcha quando desce a Av./Baralha o  tempo e volta aos anos 60».

E falar de Lisboa sem falar do Tejo é como ir «a Roma e não ver o papa», a Marcha de Alfama lembra que o «Tejo sempre abraçou Alfama antes de se lançar ao mar, proporcionando o sustento diário às suas gentes. E, daí o refrão: «Quero abraçar Alfama/Antes de me lançar ao mar/Teu povo muito te ama/sempre que canta te chama/Não há nada a recear».

O 60º aniversário de Campolide, que cresceu com a criação da Calçada dos Mestres e do Bairro da Serafina, foi recordado na Avenida. A Marcha da Bela Flor – Campolide homenageou o seu património, na figura do aqueduto das Águas Livres e das suas gentes, evocando os seus pátios, as suas vilas e o seu espírito bairrista e, como não poderia deixar ser, o «regressar do tilintar do Elétrico 24»: «Tantos pátios centenários/Tantas vilas e cenários/De uma revista de outrora/A mudar a toda a hora/E o vinte e quatro que passa/A tilintar a sua graça/Põe ares de coisa mundana/Na saia de uma cigana».

Em mês de sardinha assada e arraias, a Marcha da Ajuda decidiu lembrar os assadores dos arraiais que saem para a rua neste mês de santos populares. Na prática, a Ajuda quis homenagear aqueles que trabalham nas grelhas dos arraiais e, com amor e paixão pelos bairros e marchas, dedicam grande parte do seu tempo para que tudo decorra «segundo os conformes…». Apregoando a boa e bela sardinha: «Venham, venham aqui ver/estes assadores na Ajuda/não nos falte bom comer/a bela sardinha assada/os coiratos estão na grelha/com uma boa salada».

Segundo a Marcha da Ajuda, este tema retrata as «festividades que são feitas em honra ao santo padroeiro dos arraiais de Lisboa», mostrando, em forma de festa, alegria e paixão à cidade, os arraiais de Santo António, os assadores, as sardinhas e as varinas.

A baixa das tabernas e tascas, da ginjinha e dos pregões populares da Lisboa antiga que a Marcha da Baixa não quer deixar morrer e, por isso, ainda «bate o pé» ao recordar: «O importante, o importante/Era o vinho o importante/A caneca ia acima/Depois logo vinha a baixo» e, talvez devido a isso: «Andavam de esquina, em esquina/A partilhar felicidade/Pelo povo e a gente fina/Que povoava a cidade/ Não havia ‘telélé’/Não havia o ‘fast food’/Eram pregões do Zé/Era toda uma atitude».

A Lisboa dos nossos dias, à semelhança do que sucedia num passado distante, sempre foi uma capital multicultural e, pelo bairro da Madragoa, onde desde sempre existiu gente de todos os tipos e credos, passaram muitas culturas que contribuíram para a sua expressão e identidade. Tendo isso em conta, a Marcha da Madragoa «recriou» o Sítio do Mocambo – local onde, até finais do sec. XIX, se concentrava um maior número de africanos que habitavam em cubatas. Assim, a Madragoa entoava, alto e bom som: «Olha a Madragoa vai tão engraçada/Baila na cubata – Desavergonhada/Veio de visita para ver o Mocambo/Vestida bonita com um belo manbo/Tirar uma rodilha em tranç’africana/Misturou missangas com a filigrana/Só peca numa coisa que não vai levar a mal/Não meteu o avental de tecido capulana».

As chaminés a fumegar, as colinas salpicadas nos mais diversos tons, a multiplicidade de odores e a presença daqueles que delas cuidam, os limpa-chaminés, tornam Lisboa numa tela de Bual, Júlio Pomar ou Maluda. E, «voando sobre os telhados de Lisboa» e com o apelo: «Ó Maria, olha os limpa chaminés», a Marcha da Penha de França retratou a Lisboa de outros tempos, cantando: «Sobe aos telhados, limpa-chaminés/e grita quem és/… de lá de cima tens Lisboa aos teus pés/… de lá vês tudo de lés a lés».

As vilas operárias de Lisboa, criadas nos princípios do século XX, fazem parte integrante do património arquitetónico de Lisboa, também «desfilaram pela mão» da Marcha da Graça que, desta forma, homenageou esses bairros que já se tornaram ex-libris da capital. Mas, como não poderia deixar de ser, a Marcha da Graça «puxou a brasa à sua sardinha» e homenageou a Vila Berta, dedicando-lhe o seu tema: «Anda Berta/Vem saltar uma fogueira/E dançar a noite inteira/Vem dai para o bailarico/Vila Berta/És esperta e ladina/E com o teu ar de menina/Vais arranjar namorico».

O espírito bairrista voltou a «assentar arraiais» com o Zé do Beato, figura típica das festas de Lisboa que, de bailarico em bailarico, andava à procura de namorada. E, como boa casamenteira, a Marcha do Beato arranjou-lhe namorada: a Maria Lisboa. Pelos diferentes bailaricos andaram entoando: «Vamos lá/bater o pé/pelas ruas de Lisboa/a Maria e o José/são figuras de proa/… nesta noite/de alegria/cá nos bairros lisboetas/baila o Zé/e a Maria/até os velhos marretas».

Também fiel às suas tradições e querendo homenagear profissões tradicionais de Lisboa, que ainda fazem parte de um imaginário da cidade que se pretende manter viva, a Marcha de Marvila levou ao Altice Arena os «heróis da fuligem», os operários e operárias que nas mais diversas indústrias contribuíram para o progresso do bairro. E, assim, «Na oficina ou na fornalha/Para ganhar o seu salário/Fato-macaco ou bata de cotim/Noutros tempos era assim/Que vestia o operário».

Todavia, como «cada bairro é um noivo que com ela quer casar», a Marcha do Bairro da Boavista cantou, a quatro ventos: «Só pelo meu bairro/Sinto esta paixão/Que me conquista/E é de Lisboa/É boa, tão boa/Boa…vista». Com esta letra, as «gentes» da Boavista quiseram mostrar publicamente os seu amor por este bairro que constituiu, nos inícios dos anos 40, o primeiro programa sistemático de habitação social.

A globalização e a «internacionalização cultural» da capital portuguesa vieram «à baila» com a Marcha dos Olivais que contou, através da música e coreografia, «uma história onde também o Santo António é uma figura central», pois os turistas e o pessoal de bordo chegam a Lisboa para … «ver como ela é linda na noite de Santo António». Assim: «Ao chegar e ao partir/De onde vens, p’ra onde vais/Sempre, vais e hás de vir/Do bairro dos Olivais/Diziam-se da Portela/Mas ninguém o diga mais/O aeroporto, coisa bela/É mesmo dos Olivais».

No entanto, como a noite já ia longa e os foliões precisavam de matar a sede, a Marcha da Mouraria levou, à Avenida, as olarias e os aguadeiros, que em tempos passados carregavam as bilhas de água de cerâmica e, por isso, a Mouraria convidava os presentes e os telespectadores a: «Vem comigo desfilar/Ó minha oleira bonita/Dá-me um braço, vem amar/…Traz o teu vestido novo/Vem arraial empolgar/Sou uma mulher do povo/Basta dançar e cantar».  O fado também esteve presente: «Oleiros de par em par/Vêm lembrar a Severa/E contar como ela era/Num fado que vão cantar».

Mas, como salienta a Marcha do Parque das Nações, o sonho também fez parte dos «grandes portugueses que, ao longo dos séculos, fizeram dos descobrimentos a grandeza de Portugal. «As princesas dos Oceanos», enquadradas por marinheiros, trouxeram: «A princesa estouvadinha /lá vem ela/… a pensar ser rainha», mas «trazes bem o retrato/do oceano guerreiro». Apesar de novo, o Parque das Nações levanta bem alto os seus pergaminhos bairristas, recordando: «És cidadela a fervilhar/por onde passam multidões/com o sol sempre a brilhar/Só no parque, só no parque/só no Parque das Nações».

Através da história também andou «altaneira» a Marcha do Castelo que, a toque de caixa, desceu a velha colina para desfilar na Avenida da Liberdade e, qual milagre de Santo António, «ressuscitou» os «velhinhos» uniformes de bandas e fanfarras militares e os tambores do Castelo de S. Jorge. Mas para que isso tivesse acontecido: «abriu-se a porta ao castelo/saiu marcha triunfal/no seu porte altivo e belo/tem encanto natural/as raparigas airosas/são como alegres flores/corações a arder/até fazer crer/que todo o bater/são alegres tambores».

«Alto lá com o Alto Pina», foi o mote do desfile triunfal da Marcha do Alto Pina que, desta forma, fez jus ao seu bairrismo e também ao amor que as suas gentes nutrem pelo bairro que, como uma Fenix renascida,  tenta manter as suas tradições vivas, envolvendo-se na modernidade dos tempos que correm. Assim, e «A Volta do Alto Pina» lá foi dizendo: «Um bairro com gente/Bem fiel e crente/Do seu próprio poder/Que do Alto desceu/E depois renasceu/Com ganas de vencer».

A Marcha de Alcântara, . Num fiel «retrato» à profissão de amoladores – iniciada por galegos com uma roda de carroça que, impulsionada pelo pé, fazia girar a pedra de esmeril que afiava os mais diversos objetos – os marchantes cantavam: «Gira, roda gira/Como o mundo vai girando/… Que a vida vai-se amolando/… A gaita volta a tocar/… Nada agora o faz parar», porque «Há amolador à porta/De novo a voz apregoa/Roda a roda que transporta/Saudades desta Lisboa».

Mas, como junho é mês de folia, o Bairro Alto lá vai cantando: «Bate palmas/trás, trás, trás/bate o pé/tem tum, tum/a marchar/para a frente e para trás/como bairro/não há mais bairro nenhum/mão no ar/oeo/sem cansaços/oeo/abre os braços/alguém te ensinou/… o Bairro Alto é que é».

A Marcha do Bairro Alto também fez questão de lembrar o típico engraxador «que andava e morava» no bairro que «O Sol viu sob o seu doirado manto/sair à rua o velho engraxador/com uma caixa cheinha de espanto/de quem o vê passar com tal splendor».

CLASSIFICAÇÃO FINAL

1.º Marcha do Alto do Pina (216 pontos)

2.º Marcha de Alfama (207,5 pontos)

3.º Marcha da Penha de França (194,5 pontos)

4.º Marcha de S. Vicente (182,5 pontos)

5.º Marcha do Bairro Alto (171,5 pontos)

6.º Marcha de Alcântara (171 pontos)

7.º Marcha de Marvila (170,5 pontos)

8.º Marcha da Bica (170 pontos)

9.º Marcha dos Olivais (168,5 pontos)

10.º Marcha de Carnide (167 pontos)

11.º Marcha do Castelo (161,5 pontos)

12.º Marcha do Bairro da Boavista (155,5 pontos)

13.º Marcha da Madragoa (149,5 pontos)

14.º Marcha da Baixa (146 pontos)

15.º Marcha da Ajuda (142,5 pontos)

16.º Marcha da Mouraria (138,5 pontos)

17.º Marcha da Graça (135 pontos)

18.º Marcha da Bela Flor-Campolide (132 pontos)

19.º Marcha do Beato (128 pontos)

20.º Marcha do Parque das Nações (110 pontos)

CLASSIFICAÇÃO POR CATEGORIAS

Cenografia: Marcha de S. Vicente e Marcha de Carnide

Coreografia: Marcha do Alto do Pina

Desfile na Avenida da Liberdade: Marcha do Alto do Pina

Figurinos: Marcha do Alto do Pina, Marcha de S. Vicente e Marcha de Alfama

Letra: Marcha do Alto do Pina e Marcha do Bairro Alto

Melhor Composição Original: Marcha do Alto do Pina com “Alto lá com o Alto do Pina”

Musicalidade: Marcha da Mouraria

Júri da 87.ª edição das Marchas Populares de Lisboa: 

Presidente do Júri: Pedro Santos Franco

Apreciação da Coreografia: Cláudia Nóvoa

Apreciação da Cenografia: António Jorge Gonçalves

Apreciação do Figurino: Joana Barrios

Apreciação da Letra: Tito Lívio

Apreciação da Música: Ricardo Parreira

Apreciação Global: Joana Amendoeira

Representante da EGEAC: Cecília Folgado

NOIVOS DE SANTO ANTÓNIO DANÇARAM NA AVENIDAA véspera do Dia de Santo António (feriado municipal na capital) foi ainda marcada, como é tradição, pelos Casamentos de Santo António, com 16 casais que se juntaram às marchas à noite, e com vários arraiais pela cidade.

Doze horas depois, os 16 casais de noivos de 2019 dos Casamentos de Santo António dançaram na Avenida da Liberdade. Para trás ficou um dia repleto de emoção, com 5 nubentes a dizerem o «sim» numa cerimónia religiosa nos Paços do Concelho de Lisboa e os restantes 11 a trocarem juras de amor eterno na Sé Catedral da capital.

E se o ambiente que se viveu no edifício da Câmara da cidade foi mais recatado, muito dominado pelos nervos e pela azáfama, as noivas e os noivos que se casaram pela Igreja puderam, por sua vez, sentir o calor das centenas de pessoas que se reuniram à porta para com eles celebrar aquilo que muitas apelidaram de «o sonho de uma vida».

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