Os Casamentos de Santo António estão de volta a Lisboa, após dois anos de interrupção devido à pandemia. Momento alto das festas da cidade, a celebração dos matrimónios, no dia 12 de junho, véspera do feriado municipal, conta com 16 casais. Onze trocam alianças na Sé de Lisboa, e cinco nos Paços do Concelho. E, à noite, todos desfilam na Av. da Liberdade com as marchas populares.
Dois anos depois de receberem a notícia pela qual mais ansiavam, os noivos de Santo António ainda tiveram de esperar dois anos para concretizarem um sonho antigo, que vai finalmente realizar-se daqui a um mês, a 12 de junho. Em 2020, a pandemia covid-19 adiou o casamento dos 16 casais selecionados para os Casamentos de Santo António, que foram oficialmente anunciados, esta quarta-feira, no Cineteatro Capitólio, em Lisboa. A iniciativa é organizada pela Câmara de Lisboa e pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) há 25 anos.
Cada casal poderá levar 20 convidados, uma realidade muito diferente daquela que viveu quem se casou há 50 anos. «Só podíamos levar os pais e os padrinhos, mas na altura éramos 60 casais», conta Maria Mendes, 73 anos, que casou em 1972. «Só tivemos dez pessoas à mesa, mas foi um dia muito feliz. As noivas iam do Parque Eduardo VII para a Sé num carocha Volkswagen», recorda o marido Vítor Mendes, 74 anos, que só não teve lua de mel, ao contrário dos casais agora selecionados.
Segundo Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, em mensagem enviada, salientou que «Lisboa, cidade de partidas e chegadas; palco de grandes eventos nacionais e internacionais; capital europeia virada para o futuro, mas com profundo respeito pelas tradições e raízes populares», defendendo que lisboa é «uma cidade que se afirma orgulhosamente cosmopolita, e honra, em simultâneo, o seu compromisso com todos os que aqui habitam, trabalham ou nos visitam, garantindo uma Lisboa sustentável, inovadora e solidária».
Após salientar que a capital está aberta a todas e a todos que a escolhem para aqui viver e constituir família. Carlos Moedas faz questão de referir que, «no ano em que se comemoram os 25 anos da organização dos Casamentos de Santo António, pela Câmara Municipal de Lisboa, e passados dois anos de interregno, é com muito orgulho que anuncio que voltaremos a celebrar a alegria das Festas Populares», desafiando «os casais apaixonados de Lisboa a celebrarem Santo António e a unir os seus destinos sob a sua proteção».
Já Diogo Moura, vereador da Cultura, fez questão de realçar que «o dia 12 de junho vai ser um dia muito importante, tanto para os casais, como para a história de Lisboa», salientando que a autarquia lisboeta tem como objetivo atrair casais jovens para «viverem na cidade».
Por seu turno, Nicolau Santos, presidente da RTP, depois de se referir aos 4 casais de ouro que há 50 anos casaram nos noivos de Santo António, reafirmou que a RTP «vai continuar a associar-se a esta iniciativa».
Historia
Os Casamentos de Santo António, tradição muito antiga na nossa Cidade, começaram por ser uma iniciativa do extinto jornal Diário Popular, em 1958, com o objetivo de possibilitar o matrimónio, apadrinhado por Santo António, a casais com maiores dificuldades económicas, materializando a fama de casamenteiro deste Santo, padroeiro principal da cidade de Lisboa. Os noivos selecionados ganhavam um enxoval e equipamentos domésticos. Esta iniciativa, desde cedo, contou com o apoio incondicional do município e foi, igualmente, muito bem acolhida pela população da capital.
Os Casamentos de Santo António foram interrompidos em 1974 e retomados em 1997, sob a égide da Câmara Municipal de Lisboa, que substituiu o jornal Diário Popular como o grande promotor deste evento. Em 2020, fruto de uma situação absolutamente imprevisível e resultado de uma pandemia que afetou todos, os Casamentos de Santo António foram interrompidos, não se tendo realizado durante os anos de 2020 e 2021.
O carinho que os lisboetas dedicam a Santo António é visível um pouco por toda a cidade, particularmente na presença de pequenas imagens do santo, em diversos locais, especialmente nos bairros históricos e junto à Sé, local onde Fernando/António nasceu há mais de 800 anos. Santo António distinguiu-se como um grande orador e sobretudo como um grande milagreiro. Dos muitos milagres que lhe são atribuídos, destacam-se os relacionados com o casamento e proteção dos namorados e por isso as raparigas recorriam ao santo, escrevendo cartas para que intercedesse para encontrarem namorado. Outras vezes a sua proteção era solicitada através de inúmeras fórmulas ou mesmo práticas mais ou menos violentas. Por isso, Santo António era mergulhado em poços ou colocado em bacias de água quando demorava a atender os pedidos.
Lisboa sempre festejou o Santo António com procissões e arraiais, a que se juntou, já no século XVIII, a tradição dos Tronos de Santo António. Ainda hoje os lisboetas são convidados pela EGEAC/Museu de Lisboa – Santo António a armarem o seu trono durante o mês de junho, trazendo um colorido especial à cidade
Na atualidade, os Casamentos de Santo António afirmaram-se, definitivamente como um dos momentos altos das Marchas Populares de Lisboa. Trazem à rua milhares de pessoas, atraem turistas de todas as partes do mundo e captam a atenção mediática, mobilizando jornais, revistas, rádios e televisões. Para os casais que nele participam, este evento representa um momento inesquecível, onde se cumpre o sonho do casamento; para a cidade representa o respeito pela tradição e pelas raízes populares de Lisboa.
Com esta edição passarão a ser 368 os casais de Santo António – são praticamente quatro centenas de jovens famílias lisboetas apadrinhadas pela autarquia, na edição 2022, os casais selecionados são oriundos de diversas freguesias como: Ajuda, Benfica, Marvila, S. Vicente, Lumiar, Beato, Santo António, Santa Clara, Olivais e S. Domingos de Benfica. Em 2019 foram mais de 70 os parceiros que se associaram a este evento.