João Barreta, ex-diretor das Atividades Económicas da Câmara de Lisboa, entende que os problemas do comércio no Bairro Alto giram em torno das mesmas questões. Por isso, não importa falar de um «novo normal» porque nunca se viveu um «velho normal».
Não sendo daqueles que creio num “novo normal”, muito em especial no que ao Comércio de Proximidade diz respeito, o caso concreto do Comércio do Bairro Alto pelas suas peculiaridades de sempre, afigura-se merecedor de considerações próprias e reflexão, quiçá, mais alargada.
Há alguns anos que acompanho as dinâmicas comerciais do Bairro Alto, desde o tempo em que reuníamos os atores envolvidos e/ou a envolver (Câmara Municipal de Lisboa, Junta de Freguesia, Associações Sectoriais (Comércio, Restauração, etc…), PSP, entre outros), para discussão de tantos problemas de um “velho anormal” (os horários dos estabelecimentos, a higiene urbana, a segurança, o ruído, etc., etc.). Reporto-me, concretamente, a 2007/2008, quando desempenhava funções de diretor Municipal das Atividades Económicas na Câmara Municipal de Lisboa.
Estranhamente, ou talvez não, os problemas parecem girar em torno das mesmas questões, daí que tenha a perceção geral de que não importa falar num “novo normal” porque na realidade nunca se viveu um “velho normal”. Tal constatação será válida para o Comércio de
Proximidade, em geral, de todo o país, e não só, para o Comércio do Bairro Alto.
O ponto de partida do Comércio do Bairro Alto, para a “construção do seu futuro próximo” residirá na aceitação de que a nova realidade parte de uma oferta que importa refletir, de uma procura bem menor e, portanto, definir qual a estratégia comercial que se pretende para o Bairro Alto.
O que se pretende “construir”? Um BA para a procura local, um BA para a procura dos turistas, um BA para “vida noturna”, um BA para jovens? Trabalhar o BA como um “centro comercial a céu aberto” será uma via possível, desde que se estude o problema e se defina aquilo que se pretende.
Num “centro comercial” há que conhecer a procura potencial, definir o “grupo-alvo, adequar a oferta, etc.., afigurando-se, crucial, apostar numa gestão comum que privilegie o planeamento e o ordenamento comercial. Nem sempre nos é “oferecida” a possibilidade de “começar de novo”, evitando-se erros do passado e ciclos viciosos cujos resultados, infelizmente, já conhecemos e vivenciámos.
Raramente nos será “oferecida” a possibilidade de erguer um “novo normal”. Pode ser este o momento!
Autor: João Barreta, ex-diretor das Atividades Económicas da Câmara de Lisboa