BERÇO DA LIBERDADE «PASSOU» PELA PONTINHA

Pontinha, ao abrigar o 25 de Abril, tornou-se o “Berço da Liberdade” em Portugal”. Contudo, passado quase meio século de história, Pontinha e Famões, apesar de terem uma melhor qualidade de vida, aparentemente «pararam no tempo». Para quem vive na União de Freguesias da Pontinha e Famões, os principais problemas são o trânsito, o estacionamento e alguns serviços públicos em falta. Mas, os moradores avançam com algumas ideias para ajudar a resolver esses problemas.

A Pontinha é uma vila que partilha território entre Odivelas e Lisboa. Numa das situações em que os habitantes que estão na parte de Odivelas mais se queixam é o estacionamento, que está sobrecarregado de viaturas. Quem se desloca para Lisboa, para evitar pagar os parquímetros na parte de Lisboa, estacionam dentro da vila, onde não se paga.

Os habitantes da freguesia queixam-se, também, da falta de dinamismo na promoção do comércio local e entendem que esse papel deverá pertencer à Câmara de Odivelas.

Outra falha apontada pelos moradores de Famões diz respeito há falta de uma estação de correios digna desse nome e de um centro de saúde que, dizem, não tem condições de acolher os utentes.

Apesar de registarem algumas melhorias após a passagem de Odivelas a concelho, as críticas avolumam-se. Alguns habitantes sentem-se esquecidos pelo poder autárquico e recordam a falta de investimento na freguesia.

Tiago Nunes, 47 anos, dono de uma tabacaria no centro da Pontinha desde 2007, refere que, em comparação com o passado, “a situação melhorou bastante”. E dá como exemplo a praça fronteira ao seu estabelecimento que “era de terra batida. Agora fizeram arruamentos e alguns arranjos urbanísticos, que foi uma mais-valia”.

No entanto, aponta algumas falhas no planeamento da vila, “construída na sua maioria de génese ilegal, das acessibilidades, principalmente rodoviária. Por exemplo, existe um deficit enorme de estacionamento, com o crescente aumento populacional, principalmente no final das décadas de 80 e 90, e consequente aumento do parque automóvel. Embora existam mais transportes públicos, como o Metro”.

Centro de Enfermagem Queijas

Este morador acusa “o poder local de não ouvir e ponderar as situações, pois deveriam ouvir um conjunto de associações e comerciantes, em relação a pequenas coisas, que podem ser grandes coisas”. E avança com um exemplo que ocorreu “há uns três anos, quando fizeram uma alteração no parque de estacionamento. Colocaram menos estacionamento e maiores possibilidades de circulação. Todavia, continua a haver o mesmo número de carros porque parte da circulação fica absorvida pelo estacionamento abusivo. E a circulação ainda está pior do que anteriormente”.

Recorda Tiago Nunes que “em Lisboa todo o estacionamento é pago, o que leva as pessoas a utilizarem o metro da Pontinha a estacionarem aqui, onde não se paga. Isso afeta a parte comercial, porque temos de cativar a população que reside aqui, mas também os de fora da Pontinha. Mas se a pessoa vem na sua viatura e não consegue estacionar…”

Também “em relação aos resíduos urbanos, fizeram umas cercas onde colocaram os caixotes, e como nem todas as pessoas têm formação cívica colocam desordenadamente o lixo junto aos contentores. Ora, não há penalizações e deveria haver”. Também “não há o cuidado de nos sítios com maior concentração de resíduos existir uma maior higiene desses locais. Isso leva a proliferação de pombos e não há nenhuma ação para tentar controlar a sua população”.

Este munícipe faz uma sugestão à autarquia. Segundo ele, “o poder autárquico deveria olhar para o comércio do concelho, tendo em conta que todos os concelhos recebem IVA originado na atividade comercial. Ora, o concelho de Odivelas só tem como grande espaço comercial o Strada. Todas as pessoas que residem na Pontinha vão aos centros comerciais Colombo e Dolce Vita, ou seja, vão dar IVA aos outros concelhos. Por isso, dever-se-iam dar determinadas dinâmicas ao comércio de rua. Por exemplo, abriram dois cafés nesta praceta. Em vez de haver um estacionamento, poderia criar-se uma praça de restauração”, sugere este comerciante.

Vila envelhecida sem perspetivas

Para Tiago Nunes “tudo isto demonstra uma vila envelhecida, sem projetos e sem futuro. Ela vai ser absorvida muito rapidamente pela capacidade de investimento que Lisboa tem. Cada vez mais me interrogo porque é que estas zonas da vila da Pontinha não pertencem a Lisboa. Estaríamos muito melhor”.

Para Leandro Vieira, 35 anos, “a falta de comércio em Famões é uma das principais falhas que noto. Não existem caixa de multibancos, só existem nos supermercados”.

Este morador, que reside na freguesia há nove anos, considera que existe um problema “na avenida marechal Gomes da Costa que (liga Famões a Odivelas e à Pontinha) está sempre congestionada porque está sempre em obras. É uma coisa que podem melhorar”.

Para Leandro Vieira, “não há falta de espaços verdes nem de equipamentos para a população.  O que existe é suficiente”.

“Não tenho razão de queixa de nenhum serviço público” no que respeita à autarquia, revela Hermínio Antunes, 79 anos, residente na Pontinha há 60 anos.

Este morador entende que “a freguesia tem as coisas básicas e está bem servida de serviços públicos”. Na sua perspetiva, também “há espaços verdes suficientes na Pontinha.

Famões tem falta de serviços

Para Luís Figueiredo, 42 anos, proprietário de uma ótica em Famões “o que mudou mais foi desde a junção das freguesias da Pontinha e Famões, em que se notou que Famões ficou um pouco à parte da Pontinha.

“Nota-se que houve um desmazelo na freguesia. Por exemplo, há estradas cheias de buracos e passeios com muitas ervas, e antigamente isso não havia”, refere este comerciante.

Luís Figueiredo também critica também a inexistência de uma estação de correios.  “Só existe um posto de atendimento numa papelaria”.

Também crítica as condições do centro de saúde, que “está precário, é numa vivenda. Há anos que está ali e já prometeram um novo centro de saúde diversas vezes que iam mudar, mas continua tudo na mesma”.

Onde nota algumas mudanças positivas é “nas novas empresas que estão a vir para Famões, o que faz com que haja mais movimento nas ruas. Isso é bom para o comércio”.

“Desde que esta freguesia passou de Loures para Odivelas cresceu muito mais”, refere Mário Neves, 47 anos e a residir em Famões há 35 anos. Dá como exemplo, “os centros comerciais que abriram aqui por perto, que são importantes para a freguesia”.

Refere que por “ser mais uma zona de vivendas e haver poucos prédios, existem mais espaços verdes. É uma zona mais acessível às pessoas”.

Celeste Miranda relembra que “há dois anos a câmara fez um concurso, para arranjar as ruas. E nós perdemos esse concurso. Mas a situação junto à minha rua está má. A praceta nas traseiras da minha casa não tem alcatrão e os carros, quando passam ali, rebentam os pneus e as suspensões”, acusa Celeste esta moradora de 74 anos.

Também acusa a autarquia de pouco fazer em relação á falta de habitação, recordando “que existem por perto várias casas desabitadas”. Dá o exemplo do seu “neto e a mulher a viverem comigo. Tenho uma reforma pequena para estar a sustentar a família. Eles precisavam de uma casa para viver e podiam estar numa dessas casas desocupadas”, sugere esta reformada. Nenhum campo encontrado.

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