VAMOS AO MERCADO | MERCADO DE CARNAXIDE UM SÍMBOLO NA LUTA CONTRA O COVID-19

Os mercados retalhistas, nomeadamente o de Carnaxide, desempenharam um papel essencial durante a pandemia na distribuição de produtos de qualidade às populações e foram um símbolo de comércio urbano autêntico e seguro na luta contra o Covid-19.

Para que em casa nada falte aos consumidores, centenas de pessoas continuam a trabalhar na produção e distribuição de produtos agro-alimentares. Foi e é o caso do mercado de Carnaxide, onde pequenos empresários e comerciantes adaptaram os seus negócios a estes tempos diferentes de crise do coronavírus.

O mercado de Carnaxide, onde foi e é sempre seguro, comprar bons legumes, o peixe mais fresco e a fruta da época, demonstrou ser uma excelente opção para encontrar «tudo o de bom» que faz falta «em nossas casas», a preços acessíveis.

Comprar no mercado, como dizem os comerciantes do mercado de Carnaxide, é valorizar a qualidade do que é produzido localmente, é ter um atendimento personalizado e o cuidado de quem está lá todo o ano e que, nestes dias difíceis, lá se mantém na linha da frente para que nada falte, salientando ainda que «os preços não são assim tão mais caros que os praticados nas grandes superfícies»

Para responsáveis políticos, como Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras, comprar nos mercados municipais «é escolher ter uma oferta variada, para conseguir fazer uma alimentação saudável, tão importante nesta altura. Além disso, ir ao mercado significa não ter de fazer grandes deslocações para ir às compras, muitas vezes a sítios onde há uma maior concentração de pessoas».

Aliás, o presidente da edilidade oeirense lembra que, «para garantir toda a segurança nestes equipamentos municipais, a Câmara tomou e mantêm um conjunto de medidas para prevenção do contágio por Covid-19 e estabelecendo regras de acesso que visam proteger vendedores e clientes» e, inclusivamente, limitou o número de pessoas no interior dos mercados.

Para ver como correram as coisas, Isaltino Morais, acompanhado pelo executivo municipal visitou os Mercados Municipais de Algés, de Linda-a-Velha e Carnaxide.

Centro de Enfermagem Queijas

Durante a visita de trabalho foram verificadas as necessidades de cada mercado, os projetos de requalificação e ouvidos vários comerciantes.

O Presidente da Câmara Municipal de Oeiras mostrou-se satisfeitos com o que viu e, em conjunto com comerciantes e presidentes das Uniões de Freguesia, vai implementar medidas que contribuam para a revitalização destes espaços, dando assim continuidade a uma política de proximidade.

O autarca que recordou que, a autarquia tem tomado algumas medidas para desenvolver novos conceitos de exploração destes espaços, lembrando que, nos finais dos anos 90, os mercados começaram a cair, devido ao aparecimento das grandes superfícies. Agora, é necessário «fazer alguma coisa» para não os deixar morrer.

Mas, independentemente do importante papel que teve durante a crise pandémica, mantendo-se sempre as suas portas abertas, o mercado de Carnaxide registou uma quebra acentuada no número de clientes que o procuram. A maioria optou por voltar «a realizar compras nas grandes superfícies», abandonando quem «tão bem os serviu em tempos de crise», lamentam os comerciantes.

Oferta de mais produtos

De facto, em Carnaxide, registou-se uma perca considerável de fregueses que, rapidamente, esqueceram que o mercado municipal conseguiu, durante o estado de emergência, dar uma resposta eficaz às necessidades da população, mostrando claramente que era seguro e «em conta» realizarem-se compras nesse espaço.

Contudo, passado o período critico, um grande número de clientes abandonou-os e decidiu regressar às grandes superfícies. Agora, para colmatar essa quebra, a União de Freguesias de Carnaxide e Queijas e os comerciantes estão à «procura» de soluções para encontrarem cenários para o futuro. Uma das hipóteses reside na atração de novas ofertas, designadamente em termos de venda de produtos regionais.

Para utentes e comerciantes, a ideia de que os mercados municipais estão a morrer não é «tão descabida» como se pensa. É, realmente, um facto que muitos desses espaços estão em decadência porque «falta de clientes».

Apesar de, em Carnaxide, o mercado ter demonstrado a sua «vitalidade» e que tem condições para sobreviver, um facto é que a maioria dos seus comerciantes se queixa da falta de clientes. No entanto, como defendem, acreditam que basta introduzir algumas mudanças para voltarem a atrair clientes.

Lurdes Cunha, da única peixaria do mercado, lembra que «já existiram 11 peixeiras». Na altura, havia clientes para todas, «hoje, infelizmente, os clientes são poucos e temos que encontrar soluções para sobreviver», afiança Lurdes Cunha que, já há alguns anos, «vai ao encontro dos fregueses», fazendo a entrega domiciliária de peixe a clientes que tem espalhados pelos concelhos de Oeiras, Lisboa e Vila Franca.

Para a única peixeira do mercado, este espaço tem de ser dinamizado com produtos frescos e mais diversificados. Do ponto de vista desta comerciante, também deveria existir uma outra organização das bancas que permitisse aos clientes «visualizarem rapidamente» todos os produtos.

Aliás, sob as novas formas de organização das bancadas, o presidente da União de Freguesias, Inigo Pereira, está totalmente disponível para, em conjunto com os atuais e futuros comerciantes do mercado, discutirem uma nova «disposição de bancas» e também de produtos frescos.

Mário Reis, com uma loja de conserto de sapatos e feitura de chaves, também se queixa da falta de clientes. «Isto já não estava uma grande coisa. Com a pandemia isto foi de mal a pior. Se não tivesse uma almofada não sei como teria conseguido sobreviver», afiança Mário Reis, defendendo à semelhança de outros lojistas a «necessidade de se criarem novos pólos de interesse no mercado».

Aliás, para angariar mais clientes e, ao mesmo tempo, diversificar a oferta dos seus serviços, este sapateiro decidiu abrir a um novo «nicho de mercado»: amolar facas e tesouras.

Louvando a decisão da União de Freguesias de não cobrar rendas durante a pandemia, considera que os poucos lojistas existentes têm capacidade de «renascer e criar uma nova dinâmica», em colaboração com a União de Freguesias de Carnaxide e Queijas.

O mesmo pensa Maria José Fausto, da loja de venda de vestuário para bebés, crianças e senhoras. Segundo ela, «a esperança é a última coisa morrer e, por isso, há que ter fé que a situação melhore rapidamente».

Para isso, é necessário introduzir alguns melhoramentos que atraiam novos clientes e que possibilitem, ao contrário do que está a acontecer, consigam escoar alguns dos produtos que tem para venda.

União de Freguesias tem projetos com Fábrica do Empreendedor

Apesar da grande máxima que «se vão os anéis, mas ficam os dedos», os comerciantes de Carnaxide pensam que a revitalização do mercado passa pela «complementaridade» de actividades, designadamente com a instalação de novas bancas com outro tipo de ofertas de venda.

Inigo Pereira, presidente da União de Freguesias de Carnaxide e Queijas, está atento ao problema e tem desenvolvido vários contactos, nomeadamente com a Fábrica do Empreendedor para encontrar uma solução.

Neste momento, estão «em cima da mesa de negociações» entre a União de Freguesias e a Fábrica do Empreendedor para a «angariação» de novos comerciantes para os espaços disponíveis de bancas e lojas. Essa medida, aliada às obras realizadas no interior do mercado, podem trazer uma nova dinâmica ao mercado.

Aliás, as duas lojas de produtos regionais que estiveram abertas em plena pandemia no mercado de Carnaxide, uma de fumeiro e outra de pão, «trouxeram novos clientes». Mas, infelizmente, com o desconfinamento essas bancas fecharam, porque «os lojistas voltaram a fazer as feiras municipais e deixaram de ter interesse em comercializar os seus produtos em Carnaxide».

Como reconhece Inigo Pereira, os Mercados Municipais, como é o caso do de Carnaxide, são reconhecidos como estruturas tradicionais de comércio retalhista de proximidade, funcionando como posto de abastecimento e de encontro das populações, «apresentando ao longo dos tempos uma vertente socioeconómico, cultural e urbana muito forte e revelando-se como uma mais-valia para a evolução e dinamização dos centros em que se inserem».

Contudo, estes espaços têm perdido algum destaque como lugar de sucesso, se comparado com o que acontecia noutros tempos. Por esse motivo, «precisam de ser preservados e animados», sendo esse o caminho a seguir na ótica da reabilitação urbana. Só assim se podem manter como relevantes e, desse modo, projetarem-se para o futuro.

O mercado de Carnaxide tem 59 espaços. Nas suas bancas é possível encontrar frutas e legumes; peixe; rações; pão e bolos; produtos avícolas e charcutaria e frutos secos. Nas 13 lojas existentes existem empresas de mobiliário; pronto-a-vestir; cabeleireiro; florista; retrosaria; restaurante; churrasqueira; reparação de calçado; cerâmica; lavandaria e loja social.

A União de Freguesias tem em permanência uma equipa de manutenção que realiza a desinfeção e higienização, garantindo assim a segurança de utentes e comerciantes

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