A FORÇA DO CINEMA DE RUA NO BAIRRO DE ALVALADE

Salão Lisboa é uma mostra itinerante de cinema português que devolve o cinema aos bairros de Lisboa. Em conjunto com algumas das mais emblemáticas coletividades de Lisboa, abrem-se as portas dos salões da cidade para que se volte a sentir o Cinema no Bairro. Nesta 2ª edição, o Alvalade Cineclube e a Junta de Freguesia de Alvalade prometem reavivar a memória dos cinemas de rua no «bairro do cinema».

Salão Lisboa é uma Mostra de Cinema Português em espaços de memória. Ao longo de quatro semanas, a partir de 2 de julho, Alvalade vai receber «toda a cidade em espaços que representam a memória do cinema, da cidade e do país, para juntos vermos cinema português no verdadeiramente grande ecrã, ao ar livre». Nesta 2ª edição, o Alvalade Cineclube e a Junta de Freguesia de Alvalade prometem reavivar a memória dos cinemas de rua no «bairro do cinema».

Assim, no jardim junto ao King Triplex, no Quarteto, no espaço exterior junto ao Caleidoscópio e no Jardim dos Coruchéus, a dois passos do ABCine, estão montados o ecrã e a plateia e projeta-se cinema português. São projeções de cinema ao ar livre. «Quatro dias, quatro filmes, quatro memórias, uma sessão por dia, quatro oportunidades para afirmar o cinema feito por realizadores, histórias, atores e imagens, luzes e espectadores em Portugal», revelam os organizadores desta «iniciativa» cinematográfica.

Como recordam «foram centenas os cinemas de Lisboa», salientando que, «dos anfiteatros gigantescos aos salões sociais e aos pequenos estúdios, os cinemas da cidade ofereceram histórias, universos e imagens de forma generosa durante um século. Hoje, existem três cinemas de rua em Lisboa, resistentes ao avanço dos complexos comerciais e das novas plataformas».

Em Alvalade existiram nove cinemas a funcionar em simultâneo, com perto de 20 salas. Foram milhares de lugares únicos para abrir os olhos e deixar entrar tudo oque a sétima arte queria mostrar. Ao mesmo tempo, a «cidade nova», desenhada a régua e esquadro, acolheu a geração do Cinema Novo português, com Fernando Lopes, Paulo Rocha e outros tantos olhares curiosos a deambular entre o Vá-Vá e o Luanda, entre o ver, o fazer e o filmar.

Hoje, lamentavelmente, existe um cinema em Alvalade, mas as memórias do King Triplex, do Quarteto, do Caleidoscópio e do ABCine permanecem, adiantam os organizadores, sublinhando que querem «resgatar estas memórias do cinema, na cidade, em Alvalade, com o coração no passado e o olhar no futuro».

Assim, a partir de 2 de julho, Alvalade vai receber as seguintes sessões, com entrada livre e a ocorrerem a partir das 22 horas:

Centro de Enfermagem Queijas

2 de julho – Alcindo

A 10 de Junho de 1995, sob o pretexto múltiplo de celebrar o Dia da Raça e a vitória para a Taça de Portugal do Sporting, um grupo volumoso de etno-nacionalistas portugueses sai às ruas do Bairro Alto para espancar pessoas negras que encontra pelo caminho. O resultado oficial foram 11 vítimas, uma delas mortal, cuja trágica morte na Rua Garret atribui o nome ao processo de tribunal – o caso Alcindo Monteiro. Este é um documentário sobre uma noite longa – uma noite do tamanho de um país.

Local: Largo ao lado do antigo Cinema King – R. Bulhão Pato 1B, 1700-082 Lisboa

9 de julho – Kilas, o Mau da Fita

Portugal, 1976. Rui Tadeu, aliás Kilas, é amante de uma artista de variedades, Pepsi-Rita, à custa de quem vive – em casa da Madrinha, uma mulher nostálgica, que resgatou o afilhado da infância desvalida. Pela sua esperteza, Kilas lidera um grupo de marginais, contrados por um enigmático Major, para vigiarem um prédio, onde vão reunir-se personalidades “suspeitas”. Quando tal acontece, e alertado o Major, uma bomba explode na casa que se anuncia dum conhecido anti-fascista. Alarmado, Kilas procura desligar-se – mas o seu destino está já marcado, por uma rivalidade passional…

(Fonte: José de Matos-Cruz, O Cais do Olhar, 1999, p.192)

Local: Places (antigo Cinema Quarteto) – R. Flores do Lima Nº16, 1700-196 Lisboa

16 de julho – Já Estou Farto!

Este documentário faz um retrato intimista do músico, contado na primeira pessoa, numa viagem espacial e temporal, pelo bairro de Alvalade, em Lisboa, que o viu crescer e onde reside. Este é também um mergulho no género underground da música portuguesa, uma narrativa complementada por quem o acompanhou ao longo da sua carreira musical desde os idos dos anos 80 até ao presente. Inclui testemunhos de amigos, familiares, músicos e radialistas que ajudam a compreender quem é este músico e a relevância da sua posição no universo da música portuguesa. (A realização deste documentário recebeu o apoio da Junta de Freguesia de Alvalade)

Local: Jardim dos Coruchéus

23 de julho – A Cidade Branca

Paul, mecânico a bordo de um navio de carga, desembarca em Lisboa sem razão particular. Instalado numa pensão, vive aquela estadia como um parêntese na sua vida, um interlúdio durante o qual experimenta um grande vazio existencial. Vagueia durante dias pela cidade, filmando com a sua câmara Super-8 imagens que envia à mulher, na Suíça, acompanhadas de cartas com relatos das suas longas horas de meditação.

Conhece Rosa, que serve num bar, envolve-se com ela e apaixona-se. Agredido e assaltado na esquina de uma rua, é hospitalizado. Sem notícias suas e crendo-se abandonada, Rosa parte para França sem deixar morada. Paul apanha então o comboio para regressar a casa.

(Medeia Filmes)

Local: Jardim do Campo Grande, junto ao Caleidoscópio

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