Cientistas vão à Antártida para ajudar a combater as alterações climáticas

Um grupo de cientistas portugueses vai participar na expedição científica COASTANTAR 2024, na Antártida, de forma a encontrar medidas para combater as alterações climáticas. A equipa é composta por 11 cientistas das universidades de Lisboa, Algarve e Coimbra. Por sua vez, estes estarão acompanhados por estudantes das universidades Autónoma de Madrid e Pontíficia do Chile.

Cientistas da Universidade de Lisboa (POLAR2E/ULISBOA) vão participar na expedição COASTANTAR 2024, que será na Antártida. Esta é uma das regiões mais sensíveis do planeta em relação às alterações climáticas. Desta forma, o Programa Polar Português (PROPOLAR/FCT), juntou-se ao Colégio de Ciências Polares e de Ambientes Extremos da Universidade de Lisboa (POLAR2E/ULISBOA), a fim de organizar esta expedição, que será feita em veleiro pela Antártida. O projeto foi apresentado esta sexta-feira, na Universidade de Lisboa.

Para Cecília Rodrigues, vice-reitora da Universidade de Lisboa, esta é uma “expedição importante”, e que vai ajudar a criar “mecanismos para ajudar a combater as alterações climáticas”. Já Ana Noronha, diretora da Ciência Viva, a Antártida “é um sítio onde as alterações climáticas se fazem sentir”. Esta expedição será co-financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pela Universidade de Lisboa. Ao mesmo tempo, conta ainda com a colaboração logística do Comité Polar Espanhol e do Instituto Antártico Chileno, e ainda da Ciência Viva.

Equipa vai passar 15 dias no mar

Missão assenta num modelo logístico de baixo-custo e de reduzido impacto ambiental, uma abordagem inovadora e eficiente para um programa polar. Aqui, a equipa irá observar as mudanças em curso nas regiões costeiras e de mais díficil acesso da Península Antártica. Desta forma, a COASTANTAR vai estar no mar durante 15 dias em fevereiro próximo, num veleiro de 24 metros. Aqui, estará uma equipa de 11 cientistas das universidades de Lisboa, Algarve e Coimbra, acompanhadas por estudantes das universidades Autónoma de Madrid e Pontíficia do Chile.

Segundo Gonçalo Vieira, coordenador da expedição e geólogo, “todos têm experiência na Antártida”. Estes cientistas vão fazer as suas observações enquadradas em 10 projetos, integrados nas áreas da marinha, ecologia terrestre, ciências da atmosfera, riscos naturais, entre outros. A expedição será perto das ilhas de Rei Jorge e o arquipélago de Palmer, com visita a diversas áreas. Por sua vez, a equipa irá começar a sua jornada em Punta Arenas, no Chile, onde irão ficar durante dois dias, antes de embarcar para a ilha de Rei Jorge. “A Antártida está no centro do sistema global”, acrescentou Gonçalo Vieira, investigador na Antártida desde 2000.

Vai ser gravado um documentário sobre a expedição

No total, este continente tem 14 milhões de quilómetros quadrados e é formado por diversos glaciares e zonas de gelo marinho. “Houve um aumento de 25% das áreas livres de gelo”, alertou Gonçalo Vieira. A equipa irá ficar numa zona onde se registam temperaturas de -1ºC. “Os verões com neve estão a mudar para verões com chuva”, prosseguiu o coordenador, acrescentando que, “tudo o que acontece na Antártida é determinante para todos nós”. Durante cinco dias, a equipa ficará alojada na base chilena Prof. Julio Escudero e trabalhará em projetos na Baía Collins.

Atualmente, já estão na Antártida três investigadores, nomeadamente Henrique Zilhao, Joana Baptista e Pedro Guerreiro, que estão a desenvolver dois projetos de investigação científica nas ilhas Livingston e Rei Jorge. Contudo, para além dos investigadores, irão ainda quatro tripulantes e uma realizadora, que vai gravar um documentário da expedição, mostrando o dia-a-dia do veleiro. Gonçalo Vieira acrescentou ainda que algumas das vantagens desta expedição, realizada pela primeira vez por uma equipa portuguesa, são o “acesso a áreas importantes para as embarcações, a formação, a internacionalização, e a reduzida pegada ecológica”.

Evolução da investigação

A expedição tem um custo reduzido, a rondar os 150 mil euros, e vai ainda permitir a “consolidação da atividade científica portuguesa na Antártida”. Já ao nível dos desafios, alguns deles são a “meteorologia, o espaço limitado a bordo e as limitações no equipamento científico e espaço laboratorial”, e ainda a Gripe das Aves. Esta será a 14ª vez que Gonçalo Vieira, especialista em permafrost, vai à Antártida.

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O permafrost, por sua vez, diz respeito ao solo que está congelado durante períodos muito longos, e que começa a descongelar com as alterações climáticas. “Com as alterações climáticas, o solo começa a descongelar, e começa a existir reações químicas entre o solo e a atmosfera”. Deste modo, estes “gases retidos no solo vão para a atmosfera”, disse ao Olhares de Lisboa. Por fim, o especialista disse ainda que esta expedição vai permitir “colocar a ciência polar portuguesa” em locais que, até agora, “não foi possível explorar”.

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