A Câmara Municipal de Lisboa (CML) apresentou, esta segunda-feira, 5 de fevereiro, o projeto de requalificação da Praça do Martim Moniz, que irá trazer àquela zona um jardim e zonas de lazer, dando prioridade ao peão. Joana Almeida, vereadora com o pelouro do Urbanismo, adiantou que esta é uma obra que irá custar oito milhões de euros e será realizada no decorrer do ano de 2026.
A requalificação da Praça do Martim Moniz ficará a cargo da empresa FC Arquitetura Paisagística, que ganhou o concurso internacional aberto pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), ao qual concorreram 21 empresas. O projeto foi apresentado esta segunda-feira, 5 de fevereiro, numa sessão aberta ao público e que decorreu no Hotel Mundial. A sessão contou com as arquitetas Catarina Pacheco e Filipa Meneses, que apresentaram o projeto à população. De igual modo, estiveram ainda a vereadora com o pelouro do Urbanismo da CML, Joana Almeida, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, e ainda Sara Godinho, Diretora do Departamento do Espaço Público da CML.
Aos jornalistas, Joana Almeida adiantou que esta obra terá o custo de oito milhões de euros. “Temos agora a concretização desta proposta, o chamado estudo prévio”. Contudo, mais à frente, a autarquia irá realizar “uma nova apresentação do projeto, mais concreto e com todas as questões que foram aqui levantadas”. A vereadora acrescentou também que esta nova apresentação deverá acontecer em junho. “Depois, será a fase do projeto de execução da empreitada”, acrescentou ainda, sublinhando que a obra será realizada durante o ano de 2026 e inaugurada no início de 2027. “É um calendário ambicioso”, considera Joana Almeida, que se mostrou confiante que a obra fique concluída no final de 2026.
Acabar com “ilha” existente no centro da Praça
“O Martim Moniz é um espaço com muitos problemas sociais, com sem-abrigo, toxicodependentes, falta de higiene urbana, e por isso, precisa de uma intervenção urgente”, disse ainda. A vereadora do Urbanismo da CML adiantou também que haverá uma articulação com o pelouro dos Direitos Sociais, no sentido de realizar ações que visam mitigar estes problemas. “Queremos, a curto prazo, ter mais higiene urbana, polícia mais presente, e uma fiscalização do espaço público”, acrescentou Joana Almeida. O projeto para a Praça do Martim Moniz irá contar com um jardim, vontade esta que ficou expressa pela população no decorrer da consulta pública, que aconteceu em 2022.
Igualmente, o projeto tem ainda como objetivo acabar com o formato de ilha, abrindo o largo central e envolvendo-o com a área envolvente. Na apresentação do projeto, Catarina Pacheco e Filipa Meneses reforçaram que pretende-se criar “um Jardim do Mundo”, com “respeito pelas vivências e culturas daquele espaço”. Ao mesmo tempo, haverá também “uma articulação com o tecido histórico da Mouraria e uma reorganização da circulação rodoviária”. Neste sentido, será criada uma rotunda. Aqui, será possível fazer inversão de marcha e aceder ao Hotel Mundial. Será também aqui onde se irão concentrar os terminais dos autocarros e elétricos. Ao mesmo tempo, está ainda prevista a construção de um apeadeiro, com abrigos e melhores condições de conforto para aqueles que aguardam pelo transporte público.
Retirada de vias de trânsito
Um dos problemas detetados pelas arquitetas, foi “o trânsito, a dificuldade em atravessar” a praça, bem como “a falta de sítios para sentar e de sombra”. De igual modo, o projeto teve ainda em conta condicionantes como “o parque de estacionamento subterrâneo, o túnel do Metro, a ciclovia existente e ainda a ligação à Avenida Almirante Reis”. Para “desconstruir” a ilha existente no centro da Praça do Martim Moniz, prevê-se ainda a retirada de uma das vias de trânsito, concentrando a circulação automóvel no lado da Rua da Palma.
Já o eixo principal de circulação rodoviária terá duas faixas de rodagem em cada sentido, delimitadas por um separador central. As faixas do lado exterior são destinadas para os transportes públicos (incluindo o elétrico). Por sua vez, o passeio poente será alargado e serão criadas mais duas passadeiras. Uma delas terá uma ligação ao jardim através de uma rampa, ligando-se ainda à Capela de Nossa Senhora da Saúde e às Escadinhas da Saúde. Na mesma praça, prevê-se ainda a construção de uma ciclovia bidirecional que se irá ligar à ciclovia da Avenida Almirante Reis. A área pedonal será “semelhante” à que existe atualmente, mas será realizada de forma “contínua”, esclareceu a arquiteta.
Criar um “solo vivo”
A obra quer ainda criar um muro de suporte, preservando assim parte da Muralha Fernandina, construída no século XIV. Este será fundado no parque de estacionamento subterrâneo e vai, assim, ajudar a elevar o solo. Haverá também uma praça em torno da Capela de Nossa Senhora da Saúde, que estará virada para um grande espaço verde. Este, por seu turno, incluí, no topo norte, um parque infantil, esplanada e uma cafetaria com um miradouro com vista para o Castelo de São Jorge. Igualmente, serão plantadas árvores em caldeira, bem como diversos repuxos embutidos no pavimento. O acesso ao jardim será feito através de uma rampa e, junto à igreja, haverá uma espécie de anfiteatro. Á semelhança do que foi feito na Mouraria, também será instalada uma escada rolante de acesso à colina de Santana.
Por outro lado, este projeto prevê também mudanças nos acessos e da rampa de saída sul do estacionamento subterrâneo, bem como a supressão de alguns lugares. O objetivo é ali instalar uma cisterna de armazenamento de águas pluviais, que servirá para alimentar a rede de rega do jardim. Ao nível dos espaços verdes, prevê-se ainda “triplicar o número de árvores existentes” no local, explicou Filipa Meneses, bem como promover a existência de “um solo vivo, com milhões de microorganismos”. O projeto inclui ainda a instalação de sensores de humidade e de plantação de espécies adequadas ao local. Algumas delas são, por exemplo, sobreiros, carvalhos, oliveiras, e ainda espécies de outros países, tais como o jacarandá, entre outros.
Dar prioridade ao peão
A ideia é “criar uma relação de pertença entre os utilizadores e moradores do espaço”, acrescentou Filipa Meneses. Pretende-se também dar prioridade ao peão e “fomentar o envolvimento da população, da Junta de Freguesia, da Câmara Municipal e das associações locais” neste novo espaço, que se pretende que “seja para todos”. O projeto vai ainda requalificar a Torre da Péla. Para tal, a autarquia, em articulação com o pelouro da Cultura, já está a trabalhar numa solução para aquele espaço.
Por fim, em março, disse ainda Joana Almeida, a CML irá ainda realizar uma exposição, na Praça do Martim Moniz, com todos os projetos apresentados no decorrer do concurso internacional. No total, candidataram-se 21 empresas e gabinetes de arquitetura. “Este é um dia muito importante”, disse ainda a vereadora, sublinhando que este projeto “é o resultado da vontade” dos cidadãos. Contudo, na mesma sessão, o presidente da Junta de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, frisou que o projeto é “muito apropriado para o território”, esperando que se concretize “o mais rápido possível”.
“Preocupo-me, entretanto, com o uso da praça nestes dois ou três anos, em que isto vai demorar. Queria aqui dizer publicamente que esta praça é gerida pela Câmara Municipal, mas, no meu entender, pelo distanciamento, não é bem gerida”. Por isso, acrescentou que “a junta está disponível para assumir a responsabilidade na gestão desta praça até a sua obra”. No final da sessão, houve ainda um espaço dedicado ao público presente, onde este pôde colocar questões e sugestões. Uma delas foi a instalação de um Centro Interpretativo na Torre da Péla.
Requalificação da Almirante Reis irá acontecer em 2027
Por outro lado, e sobre a requalificação da Avenida Almirante Reis, a vereadora Joana Almeida adiantou ainda que o resultado do processo participativo “será conhecido em breve” e que este projeto deverá ser posto em marcha durante o ano de 2027. Por sua vez, o desenho daquilo que se pretende para a nova Almirante Reis será conhecido entre março e abril, disse ainda a autarca. Desta forma, pretende-se criar uma artéria que junta ciclovias, passeios pedonais e faixas dedicadas ao trânsito rodoviário. “Desde o primeiro dia, que tínhamos aqui um princípio, o equilíbrio. Temos um espaço entre fachadas muito estreito, para muitas funções diferentes”.
“A Almirante Reis é um eixo muito importante do ponto de vista rodoviário, mas também de circulação pedonal e de ciclovia. No fundo, vamos jogar, ao longo do eixo, com os vários perfis-tipo” que vão surgindo ao longo desta artéria, sustentou a vereadora do Urbanismo. No entanto, e ao contrário da requalificação do Martim Moniz, “não haverá um concurso internacional”. “Esses passos estão ainda por definir”, disse Joana Almeida, que, contudo, sublinha que “a ideia é ter já um plano de intervenção”.
A requalificação da Almirante Reis será “realizada por fases”. Por fim, a empreitada irá começar na Rua da Palma, junto ao Martim Moniz, terminando no Areeiro. O projeto de execução está previsto para 2025, e o lançamento dos concursos está previsto para 2026. Em 2027, será o ano da realização da obra. A Avenida Almirante Reis tem três quilómetros de extensão e, por isso, haverá uma estratégia de implementação, que será divulgada oportunamente, tal como a data de conclusão da empreitada.
Fotos / Maquetas do projeto: ordem dos arquitectos secção regional sul