A localidade de Ponte de Lousa, na freguesia de Loures, foi oficialmente reconhecida como ‘Capital das Cegadas’. Neste sábado, 3 de fevereiro, a União Cultural Recreativa e Desportiva de Ponte de Lousa, juntamente com o presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, e os presidentes das Juntas de Freguesia de Loures e Lousa, António Pombinho e Lino Franco, respetivamente, inaugurou uma placa alusiva ao título.
O concelho de Loures já tem uma ‘Capital das Cegadas’. Fica em Ponte de Lousa, localidade conhecida pela organização de cegadas. Ou seja, as cegadas são pequenas peças de teatro de rua, onde são feitas sátiras políticas e sociais. Esta localidade tem ainda, todos os anos, um Festival de Cegadas, que junta à volta de 400 participantes. A marca ‘Capital das Cegadas’ foi proposta pela direção da coletividade local União Cultural Recreativa e Desportiva de Ponte de Lousa (UCRDPL). Esta apresentou uma candidatura ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para formalizar o título. A candidatura foi aprovada e, neste sábado, 3 de fevereiro, foi oficialmente inaugurada a ‘Capital das Cegadas’.
“As cegadas são vistas por muitos como coisas trapalhonas ou discussões. Mas, no século XIX, o saloio saiu à rua com o seu fato e, em representações teatrais que animavam o Carnaval, era uma forma de satirizar problemas políticos e sociais da altura”, começou por explicar o presidente da UCRDPL, Miguel Ângelo Jorge, na inauguração da ‘Capital das Cegadas’. “Foi em pleno Estado Novo, aqui, em Ponte de Lousa, pela mão do saudoso Virgílio Marques, que foi criado o primeiro grupo de cegadas em Ponte de Lousa”, explicou. No passado, lembrou ainda, “muitas vezes acaba uma cegada, e começava logo outra”. Contudo, e durante várias décadas, esta tradição foi-se perdendo, sendo retomada por um grupo de crianças em 2010.
Manter a tradição saloia
“14 anos depois, mantemos viva a tradição saloia”, reforçou Miguel Ângelo Jorge. Até ao momento, já foram apresentadas, de forma ininterrupta, 14 cegadas, apresentadas para “mais de 400 pessoas”. “A Ponte de Lousa é, de hoje em diante, a Capital das Cegadas”, afirmou o presidente da UCRDPL. Miguel Ângelo Jorge agradeceu a diversas personalidades que, ao longo dos últimos 14 anos, fizeram parte das diversas cegadas. Igualmente, deixou também um agradecimento à população local, bem como aos executivos das Juntas de Loures e de Lousa, e ainda da Câmara Municipal de Loures.
Por sua vez, José Manuel Abranja, autor de várias cegadas, disse que “é uma honra estar presente neste evento”. A ideia de criar a ‘Capital das Cegadas’ partiu dele, “uma vez que havia tantas capitais por esse país fora”. “Qual melhor do que a Ponte de Lousa para desempenhar esta função?”, prosseguiu o autor. “As cegadas nasceram numa altura em que a informação não era dada pelas redes sociais nem pela televisão”, referiu. Desta forma, “eram os saltibancos, pessoas que andavam de terra em terra a contar os crimes e coisas que aconteciam noutras aldeias”, recordou José Manuel Abranja.
Cegadas são sátiras políticas e sociais
Contudo, “havia quem inventasse para criar mais suspense, e outros que se faziam passar por cegos”, prosseguiu. Foi assim que surgiu o nome ‘cegada’, que mais tarde, ficou associada às sátiras políticas e sociais. “É como muito orgulho que a nossa Ponte de Lousa é Capital das Cegadas”, concluiu o autor. Por sua vez, o presidente da Junta de Lousa, Lino Franco, deu os parabéns a Ponte de Lousa por ter concretizado o seu objetivo em ser ‘Capital das Cegadas’. Aqui, reforçou que a Junta de Freguesia disponibilizou-se, desde logo, para apoiar a UCRDPL em tudo o que foi solicitado e que irá continuar a apoiar esta coletividade.
Por outro lado, António Pombinho, presidente da Junta de Loures, começou por agradecer aos presentes, reconhecendo o mérito da UCRDPL por tomar a iniciativa em transformar aquela localidade na ‘Capital das Cegadas’. “A parte principal e originária do chamado Carnaval Saloio” eram as cegadas, recordou o autarca. Atualmente, “o Carnaval de Loures tem uma dimensão completamente diferente e que é muito importante para todo o concelho e, nomeadamente, para a freguesia de Loures”. Neste sentido, prosseguiu, a Junta de Loures quer continuar a incentivar e “apoiar o Carnaval”.
Diversidade cultural
“Quando fomos informados desta iniciativa, só podíamos dizer imediatamente que sim e foi o que fizemos”, concluiu António Pombinho. Nesta inauguração, esteve ainda presente o presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão. O edil começou por sublinhar que o concelho “é o sexto maior do país, com 170 quilómetros quadrados e 210 mil habitantes. Uma diversidade cultural imensa e até do ponto de vista geográfico”, com “culturas e realidades muito diversas”.
Desta forma, lembrou que o concelho de Loures é marcado por zonas urbanas, tais como “Loures, Sacavém, Moscavide ou Santa Iria da Azóia”, mas também por zonas rurais, como “Lousa ou Bucelas”. “Parece que estamos em dois concelhos, e isto traz desafios, mas, como é óbvio, gerir um concelho como este traz oportunidades”, acrescentou Leão. Na sua perspetiva, “um concelho é tão rico quanto mais forte for o seu movimento associativo”. O autarca lembrou ainda a importância das associações locais para ajudar a manter as tradições. Por fim, aproveitou também para parabenizar a UCRDPL por “manter a tradição em Ponte de Lousa”.
Mais uma capital no concelho
Agora, considera o presidente, com a Capital das Cegadas, Loures passa a ter mais uma “capital de mais uma tradição”. Até ao momento, o concelho de Loures já incluí a Capital do Arinto (Bucelas), a Capital do Caracol (Loures), entre outras. “Gosto muito do Carnaval”, disse ainda o autarca. Por outro lado, Ricardo Leão agradeceu ainda “à população e à associação” de Ponte de Lousa, mas também “a todos aqueles que contribuíram para a manutenção de mais uma tradição no nosso concelho.
Espero que, de facto, continuemos a sermos este concelho rico na diversidade que tem”. Desta forma, disse ainda, “é assim que nos diferenciamos de todos os concelhos restantes da Área Metropolitana de Lisboa”. Por fim, foi descerrada uma placa alusiva à Capital das Cegadas, acompanhada de uma atuação da Banda Filarmónica da Freguesia de Lousa.