Casa do Artista assinalou Dia do Teatro com almoço comemorativo

Cerca de duas centenas de artistas reuniram-se, esta quarta-feira, dia 27 de março, Dia Internacional do Teatro, num almoço de confraternização na Casa do Artista, em Carnide, e que teve como objetivo assinalar esta efeméride. O convívio contou ainda com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e de vários atores conhecidos do grande público.

A Casa do Artista, em Carnide, recebeu, esta quarta-feira, dia 27 de março, e Dia Internacional do Teatro, cerca de duas centenas de artistas, de várias áreas, que se juntaram para um almoço de confraternização. O objetivo deste convívio, organizado pela Casa do Artista, foi assinalar esta efeméride. Este almoço contou ainda com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, que referiu, na sua intervenção, que “o Teatro é um espelho de nós mesmos”. O autarca agradeceu o convite da Casa do Artista para participar nesta iniciativa. Igualmente, aproveitou para recordar o malogrado ator e encenador Carlos Avillez, que dirigiu inúmeras peças, algumas delas exibidas no Teatro Nacional D. Maria II.

“O Carlos Avillez era um espelho perfeito dos valores do teatro. As suas peças desafiam-nos a questionar, a refletir, a conectar-nos com os outros. [Ele] viveu o teatro e é justo dizer que o teatro deu tanto a ele e a nós”, prosseguiu o presidente da autarquia lisboeta. De seguida, Carlos Moedas referiu os três valores do teatro. “ O primeiro tem a ver com a empatia”. Ou seja, o facto de os atores terem o poder de transformar “as palavras em sentimentos, os sentimentos e os silêncios em suspense, os gestos em ações”, transportando os espetadores “para mundos imaginários. Já o segundo valor, considerou, é o facto de o teatro “ser uma escola de vida”.

Câmara de Lisboa garante estar a acompanhar de perto a situação dos Artistas Unidos

“É o interregno em que paramos as nossas vidas para mergulhar numa vida paralela. Temos tanto a aprender e o teatro tem tanto para nos ensinar”, disse ainda o presidente da CML, que destacou também o “poder transformador do teatro”, o terceiro valor desta arte. Isto é, “o teatro ensina-nos que, mesmo dentro dos desafios mais difíceis, podemos encontrar uma saída. O teatro não é apenas para os artistas, é para todos nós. É para aqueles que procuram inspiração, para os que procuram fugir a tantos problemas, mas também para aqueles que desejam desbravar novos horizontes”, sublinhou Carlos Moedas, destacando a importância de “conservar e apoiar” o Teatro, considerado a 5ª Arte.

Na autarquia, frisou ainda, “fazemo-lo sempre, acima das ideologias e das políticas”. Aqui, deu ainda como exemplo a criação do projeto ‘Teatro em Cada Bairro’, que foi baseada “numa ideia” de Paulo Quaresma, antigo presidente da Junta de Carnide, eleito pelo PCP, e atual presidente da Boutique da Cultura. “Lutaremos sempre pelo Teatro”, concluíu Carlos Moedas. Neste sentido, aproveitou para adiantar que a autarquia está ainda atenta à situação da companhia Artistas Unidos, cujo contrato de arrendamento do Teatro da Politécnica, perto do Jardim Botânico do Museu de Ciências e História Natural, está a terminar e não será renovado.

Casa do Artista celebra 25 anos em setembro

Deste modo, o presidente da CML anunciou que esta companhia irá passar para o Bairro Alto, regressando ao antigo edifício onde funcionou, em tempos, o jornal A Capital. Esta foi uma das preocupações manifestadas nas diversas intervenções que existiram neste almoço, uma delas do diretor da Casa do Artista e também ator José Raposo. O artista lembrou ainda, na mesma intervenção, que a Casa do Artista celebra 25 anos em setembro de 2024, e aproveitou para agradecer a todos aqueles que “construíram esta obra”. “É, de facto, uma obra única”, disse o ator, lembrando que este almoço “é o retomar de uma tradição” antiga.

Aqui, destacou ainda a colaboração do vereador com o pelouro da Cultura da CML, Diogo Moura, e também do vice-presidente da autarquia, Filipe Anacoreta Correia, que ajudaram a organizar esta celebração, que, de acordo com o artista, superou as expetativas. Por fim, José Raposo deixou também uma palavra de agradecimento às antigas direções da Casa do Artista, em especial à atriz Manuela Maria. A artista foi uma das fundadoras e integrou, desde o seu início, as cinco direções anteriores desta instituição. Recorde-se que a Casa do Artista funciona como uma residência para artistas e personalidades ligadas ao mundo do espetáculo. A atriz foi ainda convidada a ler um poema sobre o que é ser artista.

A arte é união entre as pessoas

Também interveio o ator Miguel Loureiro, que referiu ainda que “a arte atravessa as barreiras entre línguas, regiões e países”. Esta junta “não apenas as qualidades individuais de cada pessoa, mas também as características individuais de cada grupo de pessoas, por exemplo, de cada nação”. Na sua opinião, a arte “é a melhor forma de juntarmos opostos”, ao contrário das guerras que atualmente se vivem no mundo. “A guerra e a arte são opostos”, disse ainda o ator, sublinhando que, “toda a arte boa, no fundo, orbita sobre a mesma ideia”, isto é, “pegar naquilo que é totalmente único e específico, e torná-lo universal”.

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Por sua vez, Carlos Paulo, encenador, ator e dobrador, leu uma mensagem escrita pelo escritor Tiago Torres da Silva, na qual lembrava “o maravilhoso ofício que é o Teatro”. Recordando Carlos Avillez, o ator destacou a sua influência para os atores “de tantas gerações”, que com ele trabalharam. “Temos novas gerações de atores, muito talentosos, a brilhar por todo o país”, disse ainda Carlos Paulo, destacando o trabalho de Carlos Avillez à frente do Teatro Experimental de Cascais, que lançou nomes consagrados da dramaturgia nacional.

Atores apelam aos poderes políticos para que preservem o teatro

“O que importa é que o teatro está vivo e continua a ser um lugar onde o artista nos olha nos olhos. Fala sem filtros, sem Photoshop, sem inteligência artificial”, prosseguiu. Contudo, manifestou ainda a sua preocupação com os baixos orçamentos das companhias de teatro. Por isso, afirmou, é preciso, muitas vezes, “programar peças com poucas personagens”. Por outro lado, alertou ainda que “está na hora de parar” com o facto de as peças estarem “em cena três ou quatro dias, sem deixarem o espetáculo crescer e que o boca-a-boca funcione. O boca-a-boca sempre foi a melhor publicidade para um espetáculo e ainda é, sobretudo nos tempos das redes sociais”.

Carlos Paulo pediu ainda que os poderes políticos olhem com atenção para estas questões, e para que se tomem medidas rápidas, para que não se acabe com a hipótese de “criar novos públicos”. “Quando subimos para o palco estamos sempre a inventar uma nova liberdade. Os partidos de extrema-direita crescem em todo o mundo, e este crescimento põe em risco os direitos que já considerávamos oprimidos. Está na hora de voltar a localizar o teatro como instrumento de mudança para o mundo”, reforçou ainda o ator, que pediu ainda que não se olhe para o teatro apenas numa lógica capitalista, apenas com “grandes sucessos” de bilheteira.

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