JF Avenidas Novas inaugurou escultura em homenagem a Vasco Morgado

A Junta de Freguesia de Avenidas Novas (JFAN) inaugurou, na tarde deste sábado, dia 25 de janeiro, um memorial que pretende recordar e eternizar o legado de Vasco Morgado, produtor e empresário do teatro português, que viveu parte da sua vida nesta freguesia.

Vasco Morgado, ator, produtor e empresário do teatro português, que viveu parte da sua vida na freguesia das Avenidas Novas, foi homenageado, na tarde deste sábado, 25 de janeiro, com um memorial na Praça Duque de Saldanha, em frente ao antigo Cineteatro Monumental (atual banco BPI). Nesta homenagem, estiveram presentes os familiares diretos de Vasco Morgado (o filho e o neto, ambos com o nome do homenageado), o presidente da Câmara Municipal de Oeiras (CMO), Isaltino Morais, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas.

Estiveram ainda os vereadores Ângelo Pereira e Diogo Moura, o político Luís Marques Mendes, e ainda o autor desta escultura, Carlos Bajouca, entre várias personalidades ligadas ao mundo das artes. Carlos Bajouca começou por recordar que esta obra surgiu através de um convite do presidente da Junta das Avenidas Novas, Daniel Gonçalves. No entanto, ficou com dúvidas sobre como é que iria realizar este memorial, pois, “normalmente, é uma lápide onde vem descrita toda a história do artista. Achei que tinha um ar mórbido, e então decidi criar uma escultura onde estivesse presente tudo o que Vasco Morgado amava, que era o teatro e o cinema”.

Neto de Vasco Morgado agradeceu à CML e à JFAN por apostar na Cultura

“Espero que gostem do trabalho que eu fiz, dediquei todo o meu esforço naquela obra, e penso que lá está presente, não só o Monumental, mas também o grande Vasco Morgado”, disse o artista. Já o neto homónimo de Vasco Morgado, também ator e presidente da Junta de Freguesia de Santo António, começou a sua intervenção a agradecer a todos os presentes e a toda a classe artística. O autarca referiu que foi interpelado por Daniel Gonçalves acerca da intenção de fazer este memorial na freguesia das Avenidas Novas, uma freguesia que considera fazer “uma aposta muito forte na Cultura”. “Obrigado, Daniel, por apoiar a Cultura da forma como apoia. Obrigado presidente Carlos Moedas, por já ter aberto seis espaços novos de Cultura”.

“Há uns anos atrás, disse que queria fazer da cultura uma aposta, e a prova é que tem sido conseguida. Meu caro amigo Carlos Moedas, obrigado de tudo o que faz pela cultura em Lisboa”, rematou o neto do ator Vasco Morgado, antes de chamar ao palco o seu pai, que também se chama Vasco Morgado. “Estou comovido que, ao fim de 46 anos, se fez uma homenagem à pessoa que eu considero o expoente máximo do teatro em Portugal no século XX. Para mim, o meu pai foi a pessoa mais importante do teatro em Portugal. Quero também agradecer, do fundo do coração, a todos os produtores que continuam esta difícil tarefa de amarem o teatro e produzirem teatro”, disse.

Vasco Morgado marcou a história da cidade e das Avenidas Novas

Novamente de acordo com o seu filho, “é muito bom ver nesta plateia o público, o povo, as pessoas que dão vida ao teatro, aqueles que pagam bilhete para se sentarem numa cadeira durante uma hora e meia ou duas, para se abstraírem dos problemas do mundo. É ótimo ver o poder político sentado com o poder cultural, com o povo, todos juntos numa lógica de proximidade. Temos aqui a nata da nata da política portuguesa”. “Meus senhores, todos juntos nós conseguimos fazer mais e melhor pela Cultura em Portugal. Muito obrigado a tudo aquilo que vocês já fazem”.

Daniel Gonçalves, presidente da JFAN, começou o seu discurso a agradecer a presença de todos os convidados, salientando que “é fantástico olhar para estas pessoas todas, que nos transmitem uma energia especial, uma espécie de manifestação coletiva, de afeto e gratidão, que emana de toda uma cidade, a nossa cidade, que não esquece a sua história, nem os protagonistas dessa mesma história”. A história de Vasco Morgado cruza-se com a história das Avenidas Novas, uma vez que, para além da sua residência, foi nesta freguesia que o ator trabalhou no Cineteatro Monumental, juntamente com a sua mulher, a atriz Laura Alves. Para além de ator, foi ainda empresário teatral, tendo produzido mais de mil espetáculos e peças que marcaram a história do teatro em Portugal.

“Vasco Morgado fez a diferença, marcou uma época e abriu caminho às épocas que sucederam, ao defender o teatro, não desistindo do teatro, ao fazê-lo crescer enquanto empresário e produtor, marcou mesmo a comunidade artística, e a prova disso é que há muito que não via tantos atores”, disse o presidente da JFAN.

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Homenagem devida há muito tempo, sublinha Daniel Gonçalves

“Esta homenagem que aqui vivemos, há muito que lhe era devida, merecida e justa. Hoje é dia de celebrar a vida, a memória e a obra do empresário com sorriso de galã de cinema e que conquistou o coração da grande atriz Laura Alves. Importa recordar o homem, o pai, o empresário, o produtor e o avô”. Vasco Morgado viveu na Avenida Praia da Vitória, “onde se fazia a entrada dos atores e trabalhadores do Monumental. Mas atenção, a sua ligação à freguesia de Avenidas Novas não foi apenas geográfica. Foi muito mais do que isso. Foi emocional. Vasco Morgado fez da nossa freguesia o seu espaço de vida e de criação, que muitas vidas e talentos tocou e incentivou”.

Recordando o antigo Cineteatro Monumental, Daniel Gonçalves referiu que este espaço foi um local emblemático da freguesia e que “fez parte de uma memória cultural e coletiva” da cidade. “O homem que hoje aqui homenageamos e que alguns chamam o pai do teatro moderno português, geriu teatros, produziu espetáculos, descobriu talentos, criou trabalho, divulgou a Cultura e, acima de tudo, defendeu o teatro”. “É a Cultura que nos une e estrutura, sedimenta-nos enquanto sociedade, dá-nos referências, conhecimento e vivências comuns. Aqui, nas Avenidas Novas, valorizamos todas as figuras, todas as histórias e todas as memórias que, como a de Vasco Morgado, nos ajudaram a compreender quem somos e para onde vamos”.

Várias iniciativas culturais na JFAN, lembra Daniel Gonçalves

“Com o tempo, forma-se um sentido de pertença, de identidade cultural partilhada, associada a uma época e às suas personalidades mais marcantes. A atriz Laura Alves e o empresário teatral Vasco Morgado fazem parte das minhas memórias felizes da juventude que associo à época em que, ainda muito jovem, trabalhava na Livraria Bertrand e estudava à noite. Foi nesse espaço que me cruzei com Aquilino Ribeiro, Urbano Tavares Rodrigues e Augusto Abelaira, três grandes nomes da literatura portuguesa”.

“Com este memorial, reafirmamos a nossa vontade de continuar a ser uma freguesia onde a cultura e as artes estão vivas e encontram espaço para crescer”, reforçou o autarca, acrescentando que a JFAN “tem feito tudo para que haja mais proximidade, mais descentralização e mais livre acesso à cultura”. Exemplos disso são a “colaboração com o Teatro Avenidas, em que juntos levamos a Cultura ao Bairro, até aos concertos de jazz no Jardim do Arco Cego, como aconteceu no passado mês de Agosto, passando pela ópera com os Três Barítonos. Temos feito de tudo para que haja livre acesso à Cultura e a uma oferta de qualidade, diversificada e adaptada às características dos nossos fregueses”.

Uma freguesia das artes, reforça Daniel Gonçalves

“Desde teatro infantil para os mais novos, até aos passeios culturais, não esquecendo as iniciativas para toda a família, como as feiras gastronómicas e culturais temáticas, como foi o Festival do Alentejo ou da Madeira. Tentamos não só levar os fregueses ao teatro, como levámos em Dezembro passado ao Maria Vitória ou ao Politeama, mas também levar o teatro aos fregueses”, referiu. Nos próximos dias 14 e 15 de fevereiro haverá uma iniciativa relacionada com o Dia dos Namorados, em que, durante dois dias, haverá arte no Mercado do Bairro de Santos ao Rego, mas também bailarico, poemas e prémios para a melhor declaração de amor ao vivo.

“Queremos que, cada vez mais, esta freguesia seja um palco das artes, apostando nos novos talentos e valorizando os já consagrados, como estamos hoje a fazer com a homenagem ao ilustre Vasco Morgado”, concluiu o autarca, aproveitando ainda para agradecer a colaboração da CML, na pessoa do presidente Carlos Moedas, que promove a “defesa e dinamização da Cultura”, o que, a seu ver, tem permitido “valorizar a nossa história e a nossa cultura”.

Uma figura que representa a história da cidade

Por seu turno, o presidente da CML, Carlos Moedas, agradeceu a todos os presentes nesta homenagem, reforçando que, “hoje, celebramos a história da nossa cidade e do nosso país, celebramos um homem que representa a história da cultura de Lisboa, um homem que representa mais do que todos aquilo que é a nossa identidade, a nossa alma. Um homem que transcende o tempo, que é um símbolo de criatividade, inovação e audácia, que é a personificação da paixão pela arte. A história do teatro português é inseparável da sua visão, do seu trabalho e da sua coragem”.

“Mas este tributo não simboliza apenas a sua importância para a arte e para a cultura portuguesa: simboliza a ligação profunda a Lisboa e em particular aqui à freguesia das Avenidas Novas”. O autarca sublinhou ainda a importância de “preservar a memória”, ressalvando que homenagear “Vasco Morgado é contar aquilo que é a história do teatro, é contar aquilo que se passou aqui, repetir aquilo que se passou aqui e o teatro que se viveu aqui. E esta magnífica escultura de Carlos Bajouca vai ficar aqui para sempre, a relembrar aqueles que aqui passaram e vida do Monumental. Mas vai também relembrar que Vasco Morgado foi um dos maiores embaixadores da nossa capital”.

Vasco Morgado sonhou alto, refere o presidente da CML

Para Moedas, Vasco Morgado foi “um empreendedor que acreditou na Cultura como uma força transformadora, mas também um visionário que tinha grandes sonhos e não tinha medo de sonhar grande. Ele sonhou em grande na Cultura e transformou-a porque não tinha medo de sonhar. Sabia que a Cultura era a alma e a identidade de um povo, que tem por missão tocar vidas e o poder de projetar o futuro. Por isso, ele sabia que a Cultura era o pilar fundamental de qualquer sociedade. Numa época em que o teatro também enfrentava dificuldades, ele apostou tudo. Produziu espetáculos que desafiavam as convenções do momento e investiu em talentos que outros ignoravam. Provou que a cultura é uma força capaz de revitalizar comunidades”.

Vasco Morgado começou a sua carreira de empresário teatral no final dos anos 40, sendo que, durante mais de quatro décadas, foi o empresário do Teatro Monumental e de todos os teatros de Lisboa e do Porto, entre os quais o Teatro Sá da Bandeira e Rivoli, apresentando também grandes espetáculos no Coliseu do Porto. Enquanto empresário, foi responsável pela produção de mais de mil espetáculos, tendo sido dinamizador de salas como o Teatro Monumental, o Teatro Maria Vitória, o Teatro Capitólio ou o Teatro Laura Alves, mas a maior ligação de Vasco Morgado é ao antigo Cineteatro Monumental.

Desta forma, referiu o presidente da CML, “desempenhou um papel crucial na renovação do teatro em Lisboa, no Porto e noutras partes do nosso país. Mas sobretudo acreditou no teatro como um meio de diálogo entre o público e a arte e fez questão que as peças não fossem apenas uma forma de arte, mas um reflexo das inquietações da sociedade”.

“Não vamos desistir do Parque Mayer”, afiança Moedas

Na visão do autarca, Vasco Morgado tinha “a capacidade de unir as pessoas em torno da arte. Era um homem de um talento raro, verdadeiramente raro, porque conseguia chegar a todos. Vasco Morgado sabia que o teatro tinha que refletir toda a sociedade e talvez isso me inspire na minha visão sobre a Cultura. Vasco Morgado mostrou-nos que a Cultura é também esse instrumento de coesão social. O teatro é de todos e para todos. E foi inspirada nessa ideia que, nas primeiras conversas que tive com o [neto] Vasco Morgado, decidimos avançar com esta ideia dos Teatros em Cada Bairro. Que coincidência foi o primeiro Teatro em Cada Bairro ser nas Avenidas Novas”.

Carlos Moedas aproveitou também para recordar o “construtor de sonhos que fez do Parque Mayer um símbolo de Lisboa: Helder Freire Costa, que acreditou que aquele espaço podia ser o coração cultural de Lisboa e podia ser o lugar onde os artistas e o público encontrassem e partilhassem experiências únicas”. “Foi com essa visão e essas histórias que nós construímos a nossa alma. Lembro-me bem quando o Vasco Morgado, me disse que, pela primeira vez desde 1995, temos três teatros a funcionar no Parque Mayer”, recordou o autarca, sublinhando que “não vamos desistir do Parque Mayer”, pois “o teatro pode-nos unir contra essa polarização da sociedade que pode destruir a Democracia”.

“É isso que também estamos aqui a fazer hoje: a celebrar essa história e a manter viva a memória. Este memorial é isso: é um agradecimento da cidade e dos lisboetas a Vasco Morgado, e uma forma de garantir que as futuras gerações nunca esquecerão um homem que deu tanto ao teatro e à cultura no nosso país”, concluíu.

N.R: notícia atualizada às 16h38 de 26/01/2025

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