A criação de um novo transporte rápido Lisboa-Oeiras irá gerar 27% de novos utilizadores de transporte público. De acordo com os estudos prévios apresentados hoje, o projeto, que contará com a colaboração da Carris, deverá evitar a entrada de 4000 veículos por dia nas zonas onde circula. Isaltino Morais aproveitou a ocasião para pedir a entrada de Oeiras no capital social da Carris.
Foi hoje apresentado, na Carris de Miraflores, o projeto de transporte intermunicipal que ligará Lisboa a Oeiras com uma solução rápida, frequente e fiável de transporte público. Com este projeto, a cidade de Lisboa vê reforçado o acesso por transporte público ao Parque Florestal de Monsanto, reduz os congestionamentos em Benfica e Alcântara, reforça a ligação ao concelho de Oeiras, melhora o serviço e torna as ligações mais rápidas.
O “Transporte Rápido Lisboa-Oeiras” é um projeto que conta com a parceria da Carris e assenta na tecnologia Bus Rapid Transit (BRT) com autocarros elétricos, permitindo reforçar duplamente as ligações nos eixos Alcântara-Algés e Benfica-Algés. As novas ligações serão feitas em canal dedicado, num traçado de 21 quilómetros.
A apresentação do Projeto foi feita conjuntamente entre os dois autarcas que detêm os pelouros da Mobilidade em ambos os concelhos, nomeadamente o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Anacoreta Correia e a vereadora do Município de Oeiras, Joana Baptista.
Segundo Joana Baptista, o projeto “não foi fácil” de levar a cabo por causa de várias condicionantes, mas salientou que ambos os concelhos “partilham da mesma visão e estratégia para o território”, que permitiu viabilizar este novo sistema de transportes.
Anacoreta Correia, por seu turno, ressalvou que os dados “revelam que, de facto, estamos a ajudar na criação de uma nova área ocidental de Lisboa e de Oeiras”.
A vereadora de Oeiras assume que este projeto “é absolutamente extraordinário” porque irá revolucionar a solução de transportes para os moradores de Oeiras e, também, todas as pessoas que trabalham no território de Oeiras, mas também em Lisboa.
Esta “alternativa na mobilidade urbana”, em transporte público, em canal dedicado, ligará Lisboa a Oeiras de forma rápida, frequente e fiável, uma vez que tem as características de um transporte rápido, elétrico.
Menos carros, mais sustentabilidade
Joana Baptista explicou que o lançamento deste meio de transporte público traduzirá a “retirada da circulação nas estradas [de] cerca de 4 mil carros”, tendo uma procura estimada de “22 mil passageiros por dia”, sendo que mais de um quarto (27%) serão novos utilizadores de transporte público. Anacoreta Correia sublinhou (e enalteceu) a entrada destes novos passageiros “no sistema de transporte público”.
A vereadora de Oeiras lembrou o facto de este novo meio de transporte ter como ponto de partida Algés, “que não é um ponto qualquer”, vai reforçar uma “nova centralidade urbana” de Algés, onde, na realidade, “tudo está a acontecer. Não é só o LIOS (Linha Intermodal Ocidental Sustentável , é também a intervenção da Ribeira de Algés, e que tem uma influência direta naquilo que está em curso nesta zona”.
Estas duas novas valências em Algés, irão desencadear um “processo profundamente transformador da freguesia”, que será alvo de “uma regeneração urbana e económica”, não só nesta freguesia de Oeiras, mas também na Grande Lisboa.
Ganhos consideráveis de tempo
O vice-presidente da CML ressalvou, porém, que [a] “ambição antiga” de “trazer o Metro de Lisboa até Oeiras” não está “abandonada”.
“Nós sabemos que este tipo de projetos, pela sua dimensão e investimento, nunca serão projetos imediatos. Por isso, avançamos com este LIOS para a zona ocidental”.
Joana Baptista entende que a “grande conquista” do LIOS “é a ligação de Algés ao Colégio Militar (Benfica)”. “Temos, portanto, uma ligação a Sul e a Norte. Estamos aqui na Carris (em Miraflores) numa zona que todos os dias recebe mais de 10 mil pessoas para aqui vir trabalhar. E é isso que evidencia a sustentabilidade deste sistema de transporte”.
O autarca de Lisboa ressalvou os ganhos deste novo sistema de transporte, nomeadamente os ganhos “extraordinários de tempo” para os utilizadores. “Estamos a falar de ganhos de cerca de 35% de tempo. Serão cerca de 7 minutos na ligação de Algés ao Colégio Militar e de 13 minutos na ligação Alcântara a Linda-a-Velha. Se um passageiro fizer estes trajetos duas vezes por dia, ganha 5 horas mensais de tempo na ligação de Algés a Benfica e quase 8 horas na ligação de Alcântara a Linda-a-Velha”.
Para Anacoreta Correia, são estes dados que conseguem conquistar novos passageiros e que acabam por impactar nas melhorias significativas da mobilidade nestes territórios.
Deixar o carro na garagem
Joana Baptista concorda e assegura que o LIOS, combinado com o novo SATU de Oeiras e a ligação de comboio que liga Lisboa, Oeiras e Cascais, se traduzem numa nova “sustentabilidade”, já que os cidadãos “irão deixar o carro em casa” para se deslocarem entre os vários aglomerados urbanos nestas áreas metropolitanas.
Com a implementação desta rede de transporte, totalmente elétrica, “iremos ter uma redução significativa de CO2, equivalente à plantação de 275 mil árvores no nosso território”, revela a vereadora oeirense.
Grosso modo, esta é a alternativa de mobilidade mais sustentável, mais rápida, mais confiável, mais direta, com maior conforto e maior frequência, mas também com maior capacidade de transporte ao serviço da população que reside numa área em franco crescimento.
O investimento previsto de cerca de 94 milhões de euros, “está em linha com aquilo que tinha sido traçado até para uma linha inferior”, ou seja, “com o mesmo valor, conseguimos ter um projeto com outra abrangência”.
Anacoreta Correia revela ainda que o LIOS irá gerar um “benefício social de 155 milhões de euros”.
A obra irá arrancar em 2026/27, segundo o mesmo responsável. “Este projeto irá acontecer num curto espaço de tempo, é para amanhã”.
Joana Baptista lembrou que não pode haver hesitação, até porque a (grande) obra de reabilitação de Algés, com um investimento previsto de 40 milhões de euros, “vai mesmo acontecer em 2027/2028” e que “não faz sentido estar a abrir valas para, depois, termos de voltar a fazer o mesmo”.
Oeiras pretende entrada no capital social da Carris
O presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, enalteceu a colaboração de ambos os municípios neste novo projeto partilhado, mas aproveitou para lançar um repto a Moedas. “Espero que este projeto seja o tiro de partida para que Oeiras possa entrar no capital social da Carris. Faz todo o sentido. Até para participarmos nos prejuízos… Somos solidários com Lisboa”, ironizou.
Isaltino Morais lembrou que o LIOS era uma necessidade “muito antiga” para a ligação “das duas maiores economias do país”, sendo “fundamental” para que o PIB de Oeiras e Lisboa continue a crescer.
O edil, depois de explicar as várias medidas que estão em curso em Oeiras, revelou que o grande objetivo do Município “é ter a Avenida dos Bombeiros, em Algés, sem carros”.
“Estas medidas poderão revoltar os moradores, mas quando percebem que irão ter estacionamento para todos e melhor qualidade de vida, acabam por concordar”.
Elogios “à visão metropolitana” de Isaltino
O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, enalteceu a “visão metropolitana” de Isaltino Morais, pois o autarca de Oeiras “olha para os interesses do seu Município”, mas também “para os interesses da área metropolitana de Lisboa”. E essa visão “é importantíssima”.
“Há uns anos, quando falava com Isaltino Morais sobre a importância dos unicórnios (em Lisboa e Oeiras), lembrou-me que o presidente Isaltino me replicou que os unicórnios não são de Lisboa nem de Oeiras, são da área metropolitana. Aquelas palavras marcaram-me. Nós dependemos uns dos outros”.
Em relação ao interesse de Oeiras entrar no capital social da Carris, Carlos Moedas respondeu a Isaltino Morais, alegando que “o objetivo da Carris não é ter lucro, é servir as pessoas. Mas também nunca estivemos negativos…”, alegou, não respondendo, porém, se veria com bons olhos a entrada de Oeiras na Carris.
O autarca de Lisboa não deixou de saudar o “trabalho da Carris” nos últimos anos. “Neste mandato, a Carris fez o maior investimento de sempre. Em 2023, a Carris investiu 45 milhões de euros, estando previsto um investimento de 165 milhões até 2028”.
Menos 90 mil pessoas na estrada
Carlos Moedas sublinhou que este novo meio de transporte vai fazer com que “90 mil pessoas deixem de usar o carro”. E reforçou que o facto deste transporte circular num canal dedicado, vai acabar com “os carros que andam na faixa BUS”, pois este tipo de carril de circulação está barrado aos automóveis e outros meios de transporte.
“O BRT vai circular sozinho, sem os impedimentos habituais que se constatam no dia a dia”, gerando maior rapidez no transporte e consequente aumento da qualidade de vida dos passageiros, que serão transportados por transporte seguro, rápido e amigo do ambiente.
Ambos os autarcas sustentam ainda que este é um projeto que estimula as fortes ligações entre as duas maiores economias do país – Lisboa e Oeiras – potenciando mais emprego, mais competitividade, mais crescimento.
Por outro lado, desenvolve novos usos do território e uma ampla requalificação urbana, como na Avenida dos Bombeiros Voluntários de Algés e na Estrada do Calhariz de Benfica, promovendo a coesão territorial e a inclusão social.
“Alternativa” à A5
O ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, sustenta que o Governo central deve “apoiar, facilitar e interagir” com este projeto. O governante lembrou que, desde 2021, o volume de trânsito da A5 tem vindo a aumentar. Para mimetizar os impactos da sobrelotação na A5, tem de se “atuar com outras medidas para reduzir a utilização dos transportes públicos”.
Para Pinto Luz, a realidade atual nas cidades da Grande Lisboa obrigará a uma mudança de hábitos de transporte. “Temos de mudar as nossas cidades, centradas no ser humano, e o transporte público tem de estar resiliente, com mais qualidade, previsibilidade”.