A primeira intervenção é a demolição de elementos e construções dissonantes e a contenção periférica, tendo já sido instalados contentores para colocação provisória da cafetaria, arquivos e outros serviços do Ministério da Cultura, durante as obras.
Anteriormente foi realizada a campanha arqueológica e sondagens geológicas para elaboração dos trabalhos. O projeto de arquitetura, da responsabilidade da Direção Geral do Património Cultural, está concluído, assim como diversos projetos de especialidade, assessorados por um perito internacional de segurança, dado o valor do espólio que será exposto. Por sua vez, o projeto de museologia e comunicação gráfica está a ser desenvolvido pela “Providência Design”.
Às demolições e contenção periférica seguir-se-ão as obras do edifício e da Calçada da Ajuda, bem como as obras de Museografia, de construção do equipamento expositivo, de montagem da exposição e de segurança.
O valor atualmente estimado para a totalidade do projeto é de cerca de 21 milhões de euros, que inclui também as obras na Calçada da Ajuda, a construção de um novo restaurante e diversas intervenções de reforço da segurança. Este investimento será maioritariamente suportado pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa, a que acresce um investimento de cerca de 5 milhões de euros da Associação Turismo de Lisboa e de cerca de 4 milhões de euros do Ministério da Cultura.
O projeto contempla o fecho da ala Poente do Palácio com uma implantação que vai respeitar os limites atuais da massa edificada do palácio. A nova fachada Poente, com desenho e expressão contemporânea, procura restituir a unidade de leitura do conjunto. É utilizada uma composição formal, com referências aos alçados pré existentes, onde se enfatizam as linhas verticais e horizontais, acentuando a marcação da leitura dos estágios das fachadas existentes, que se materializam em diferentes planos das lâminas verticais de sombreamento dos planos envidraçados.
São ainda utilizados dois corpos laterais mais elevados, com perfil e altura idêntica à dos torreões Norte e Sul da fachada Este, essenciais para o equilíbrio do conjunto. A aplicação de uma estrutura com lâminas de sombreamento (pele) permite a datação clara da intervenção e assume um carácter efémero e reversível da construção.
Nesta nova ala do Palácio será instalada a exposição permanente do valioso Tesouro Real, que inclui as Joias da Coroa e do Tesouro de Ourivesaria.
O projeto de valorização das áreas Poente e Norte do Palácio Nacional da Ajuda e posterior instalação da Exposição Permanente das Joias da Coroa e dos Tesouros de Ourivesaria da Casa Real tem a colaboração do Ministério da Cultura/Direção Geral do Património Cultural, da Câmara Municipal de Lisboa e da Associação Turismo de Lisboa. O prazo estimado para a conclusão do projeto é o primeiro semestre de 2020.
Características dos Acervos de Joalharia, Ourivesaria e Iconográfico e Documental
Exposição Permanente das Joias da Coroa e dos Tesouros de Ourivesaria da Casa Real
Acervo de Joalharia
A coleção de joalharia é constituída por cerca de 900 exemplares, com grande diversidade de tipologias e proveniências, num período cronológico entre finais do século XVII a finais do século XIX, assinalando-se nesta coleção a existência dos seguintes núcleos de peças: o das Joias da Coroa, que reúne um notável conjunto de peças predominantemente do século XVIII, de produção nacional – fruto das abundantes explorações auríferas e diamantíferas brasileiras – com grande riqueza de materiais, qualidade superior e dimensão de algumas gemas, assim como a elevada mestria técnica e artística empregues no trabalho de metal precioso e lapidação. Incluem-se neste núcleo as joias de adorno, armas de grande aparato, complementos de traje e uniformes de gala, assim como sumptuosas insígnias honoríficas, nacionais e estrangeiras usadas pelos monarcas em ocasiões solenes.
Este acervo integra ainda o núcleo das Joias do Quotidiano, com 830 exemplares, que compreende tipologias destinadas ao uso corrente e no qual prevalecem exemplares de produção oitocentista originários das oficinas nacionais, francesas e italianas.
Acervo de ourivesaria
A coleção de ourivesaria ronda os 6340 exemplares e é constituída por uma grande diversidade de tipologias e proveniências, abrangendo um arco cronológico entre o século XIV e início do século XX, onde se evidenciam núcleos de peças como as Pratas da Coroa, no qual se inserem objetos de Regalia da Coroa, como um sumptuoso conjunto de obras de ourivesaria civil quinhentista e de produção nacional, as pratas de aparato da Casa real, reconhecido como o maior conjunto desta época existente em Portugal e no mundo ou a Baixela da Coroa, também designada por Baixela Germain, encomendada pelo rei D. José ao exímio ourives do rei de França François-Thomas Germain e que se tornou um dos mais importantes trabalhos da sua oficina à época.
Neste acervo existem ainda as Pratas utilitárias e decorativas, onde se encontram cerca de 4694 peças, num diversificado acervo de objetos ligados à vivência da família real no Paço da Ajuda, muitos deles adquiridos pela própria rainha D. Maria Pia no decorrer da segunda metade do século XIX.
Destaque ainda para o núcleo da Ourivesaria religiosa, com 147 artigos de várias proveniências e cujos exemplares mais antigos remontam a finais do século XIV, inícios do século XV sendo, no entanto, constituído por peças dos séculos XVIII e XIX, integrando alfaias de culto religioso utilizadas nas capelas dos Paços Reais e exemplares que incorporaram os bens da Casa Real após a extinção dos conventos em 1834.
O acervo de ourivesaria conta ainda com as Ordens e Condecorações, com 172 peças, que reúne um diversificado conjunto de colares, bandas, insígnias e placas de peito que datam, na sua maioria, da segunda metade do século XIX e são, fundamentalmente, de origem europeia.
Acervo iconográfico e documental
No programa museológico para esta exposição, a iconografia a utilizar será, maioritariamente, constituída por pinturas e reprodução de fotografias que enquadrem as peças, mantos régios, plantas do palácio do séc. XVIII e XIX e outros materiais gráficos de grande raridade, tal como os manuscritos de monarcas (carta de D. Sebastião, Luís XIV ou partitura de Mozart).
O fator decisivo para que, finalmente, se possa concretizar o remate e complemento de uma das alas inacabadas do Palácio Nacional da Ajuda, criando, em simultâneo, condições para apresentação ao público de umas das coleções mais emblemáticas e de excecional valor patrimonial da história nacional: a coleção de Joalharia e Ourivesaria do Palácio Nacional da Ajuda é, justamente esta parceria entre o Ministério da Cultura/Direção Geral do Património Cultural, da Câmara Municipal de Lisboa e da Associação Turismo de Lisboa.
Esta iniciativa tem um elevado impacte a nível nacional, e em particular na cidade de Lisboa, ampliando a oferta de conteúdos no designado eixo Belém-Ajuda, que só com este projeto poderá verdadeiramente ter concretização, alargando, diversificando e potenciando os circuitos turísticos nesta área monumental da cidade, através da revelação de conteúdos com projeção internacional, nunca antes vistos, e da dinâmica que se cria complementando a oferta existente – residência histórica real – com o Tesouro da coleção até agora escondido.
NR: Artigo com pormenores e declarações dos intervenientes a desenvolver na edição impressa de Olhares de Lisboa