Carlos Moedas esteve com empresários a ouvir problemas e receios

A União de Associações do Comércio e Serviços (UACS) realizou, esta sexta-feira, 9 de fevereiro, a primeira edição da iniciativa ‘No Café Com’, que juntou 38 empresários num pequeno almoço que aconteceu na Confeitaria Nacional, no Rossio, e que contou com a presença do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, que esteve a ouvir as preocupações dos empresários.

‘No Café Com’ é a iniciativa promovida pela União de Associações do Comércio e Serviços (UACS) que pretende juntar, mensalmente, os empresários e convidados. Em conjunto, estes vão debater sobre um tema relacionado com a economia e a cidade de Lisboa. A primeira edição realizou-se esta sexta-feira, dia 9 de fevereiro, na Confeitaria Nacional, no Rossio. O orador convidado foi o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas. O tema desta edição foi “A Sustentabilidade e a Estratégia para o comércio da cidade”. O encontro foi moderado por João Barreta, Mestre em Gestão do Território, Especialista em Urbanismo Comercial e ex-Diretor Municipal de Atividades Económicas (DMAE) da Câmara Municipal de Lisboa.

Aqui, estiveram presentes 38 empresários. Um dos problemas levantados pelos comerciantes, nomeadamente por Maria Carmona, diretora de uma loja de acessórios na Avenida da Liberdade, foi a perda de identidade da baixa da cidade. Esta empresária mostrou-se preocupada com o aumento excessivo de lojas de recordações turísticas e mercearias, que, na sua perspetiva, têm vindo a descaracterizar a cidade. Outra questão abordada, desta vez por Tiago Quaresma, proprietário de uma loja na baixa de Lisboa, foi ainda o tempo que os turistas perdem em filas para adquirir bilhete para as atrações turísticas da cidade.

Limitar o número de lojas ligadas a um determinado setor

Na opinião deste empresário, isto leva a que os que visitam Lisboa “não tenham tempo” para visitar o comércio local e gastar dinheiro nas lojas, o que têm efeitos na economia local. Em resposta a estes empresários, Carlos Moedas começou por afirmar que “muitos dos problemas não podem ser resolvidos sem a ajuda do Governo”. Aqui, o autarca referia-se ao aumento de lojas de souvenirs e mercearias em Lisboa. No entanto, a autarquia apenas só tem poder para autorizar a abertura de lojas, sendo que não pode recusar os pedidos em função do tipo de negócio.

Neste ponto, Diogo Moura, vereador com o pelouro da Economia e Inovação da CML, reforçou ainda que “o departamento do Urbanismo recebe dezenas de pedidos prévios”. “Nós não podemos decidir que tipo de negócio se instala na cidade”, acrescentou o autarca. Por isso, defende que “o Governo deve criar uma lei que permita à Câmara Municipal de Lisboa” travar o excesso de lojas do mesmo setor na cidade. “Queremos ter o poder de perceber o que pode haver na cidade. Não faz sentido, por exemplo, haver só hotéis na mesma rua”, vincou Diogo Moura.

Sistemas digitais de venda de bilhetes para monumentos

Por outro lado, o presidente da autarquia lembrou ainda alguns casos de lojas que estão associadas a situações de imigração ilegal ou evasão fiscal, entre outras. No entanto, “a única coisa” que a autarquia pode fazer, nestes casos, é “reportar às autoridades”. Sobre os sistemas digitais de bilhética, Carlos Moedas referiu ainda que irá falar com o presidente da Carris, no sentido de possibilitar a venda de bilhetes online para o Elevador de Santa Justa, uma das atrações turísticas da cidade que mais junta pessoas nas filas.

De igual modo, Diogo Moura reforçou que os monumentos geridos pela autarquia já dispõem de compra de bilhete online. “No Castelo de São Jorge, a venda de bilhetes digitais superou a venda de bilhetes físicos. Com esta mudança, conseguimos uma diminuição drástica das filas”, adiantou o vereador. Por outro lado, na mesma sessão, abordou-se ainda o aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo, bem como das obras do Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL).

Aqui, o presidente da Câmara de Lisboa disse que, atualmente, existem cerca de três mil pessoas em situação sem-abrigo, um problema que a autarquia quer mitigar. Sobre o PGDL, Moedas lembrou ainda a sua importância para a cidade e apelou ainda aos comerciantes que compreendam as obras que estão atualmente em curso. “É uma obra muito importante para a cidade e que nos vai permitir que não estejamos com o coração nas mãos sempre que chove”, reforçou.


Lojas com História devem ter mais força

No mesmo encontro, foi ainda abordada a questão das Lojas com História, um programa criado pela CML. Aqui, Moedas disse que a autarquia tem, para este programa, uma verba de 250 mil euros. Porém, a falta de candidaturas levou a que, no último ano, só fossem atribuídos “100 mil euros” em apoios. “Há muito desconhecimento”, reconheceu o presidente. Diogo Moura acrescentou ainda que está a ser preparado, em conjunto com a UACS, um novo regulamento para as Lojas com História, de forma a permitir que mais empresas possam aderir a este programa.

“Os novos contratos já não permitem a adesão ao programa. Por isso, queremos uma alteração à legislação para que também possamos proteger” esses empresários. O programa ‘Lojas com História’ foi criado em 2015, com o objetivo de preservar as lojas históricas da cidade. A presidente da UACS, Carla Salsinha, lembrou que o projeto foi criado assente em três fases. “A primeira foi a tentativa de salvaguarda daquelas lojas”, referiu, adiantando que, na altura, existiam “300 lojas” identificadas. A segunda fase foi a edição de um livro e de um site com a identificação de todos os estabelecimentos com este estatuto.

Contudo, lamentou Carla Salsinha, “a terceira fase nunca se concretizou”. Esta etapa seria a criação de um trabalho conjunto entre a CML e as associações de comerciantes. Desta forma, seria possível permitir que os empresários tivessem, dentro da autarquia, um organismo onde pudessem expor os seus problemas. “Falta criar esta terceira fase, ou seja, uma comissão constituída pelas associações todas”, reforça a presidente da UACS. Desta forma, considera, será possível criar uma maior proximidade entre a autarquia e os empresários.

Estacionamento e falta de segurança foram outras das questões levantadas

Outro empresário, António Soares Neto, proprietário de clínicas em Telheiras e Alvalade, questionou a autarquia quais os objetivos que tem para a cidade. Este empresário disse ainda que “Lisboa não termina no Marquês de Pombal”. Por isso, pediu medidas de proteção para os comerciantes que estão fora do centro histórico da cidade. Já Ricardo Claudino, proprietário de uma perfumaria na Rua Rodrigues Sampaio, referiu que, naquela artéria, todos os lugares de estacionamento estão reservados para moradores. Assim, pediu à CML que incentive a EMEL a disponibilizar lugares para os clientes do comércio local.

Por fim, Sónia Ell, proprietária de uma joalharia na Avenida da Liberdade, mostrou-se preocupada com a redução do número de agentes ao serviço na freguesia, lembrando que, atualmente, só existe uma esquadra que serve toda a freguesia, situada no Rato. À última, Carlos Moedas respondeu que “não tem poder sobre a PSP”, mas que é intenção da autarquia reforçar o número de agentes afetos à Polícia Municipal. “Atualmente temos 400 agentes ao serviço, mas queremos ter 600”, explicou o autarca.

Contudo, disse que a CML não consegue recrutar mais agentes porque estes “têm de ser contratados à PSP e há cada vez menos” operacionais. “Antigamente, a Polícia Municipal era vista como uma polícia administrativa, mas não é. Temos que mudar a mentalidade dos lisboetas para que também olhem para esta polícia com capacidade para atuar em caso de crime”, acrescentou o presidente da Câmara de Lisboa. Na mobilidade, Carlos Moedas disse que “a EMEL é necessária para a cidade”, na medida em que ajuda, não só a regular o trânsito na cidade, mas também para promover a mobilidade em Lisboa.

Próxima iniciativa terá o presidente da Carris

“Queremos menos carros na cidade”, afirmou. Contudo, a ideia não é retirar de vez os carros do centro da cidade, porque a CML quer que os moradores, comerciantes e clientes das lojas tradicionais possam continuar a ir de carro para aquela zona. “Quero fazer com que a Baixa tenha câmaras, na medida em que possamos identificar as matrículas e saber o que é que essas pessoas vêm fazer”, para que o centro da cidade não seja apenas um ponto de passagem. Por outro lado, a CML implementou, há cerca de um ano, novas restrições de trânsito na Baixa e Zona Ribeirinha da cidade. “A 5ª Circular está a funcionar. Já não vivemos os mesmos problemas que tínhamos há um ano”, referiu ainda o presidente.

A próxima edição do ‘No Café Com’ será no dia 15 de março, também na Confeitaria Nacional. Esta sessão será dedicada à mobilidade e aos transportes, e irá contar com a presença do presidente da Carris, Pedro Bogas. “O objetivo desta iniciativa é chamar os empresários, que estão no terreno e passam pelas situações, a debater com num determinado orador que tem influência”, disse Carla Salsinha ao Olhares de Lisboa. Estas iniciativas acontecem todos os meses. Igualmente, irão percorrer vários cafés e pastelarias do concelho. “A ideia é criar uma proximidade com quem gere a cidade”, reforçou ainda a presidente da UACS.

N.R: artigo atualizado às 12h12 de 11/2/24 com referência a João Barreta

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