A Câmara de Elvas (Portalegre) apresentou um voto de pesar “em honra à vida e à memória” do empresário Rui Nabeiro, fundador do Grupo Nabeiro – Delta Cafés, e decretou três dias de luto municipal. O empresário morreu hoje, 19 de março, aos 91 anos, vítima de doença respiratória, no Hospital da Luz, em Lisboa.
Morreu hoje, em Lisboa, o empresário Rui Nabeiro que, mesmo depois de entrar nos 90, sentia muita vontade de fazer. Em 2015, já falava na morte e apontava o rumo para o grupo Delta. “Mesmo que desapareça o homem, fica aqui o trabalhinho. Não é aconselhável parar”. O homem morreu este domingo, aos 91 anos, na sequência de uma doença respiratória grave. Mas, o legado continua.
“O Senhor Rui”, como era conhecido na terra que o viu nascer, Campo Maior, criou um império do nada e tornou-se num dos homens mais ricos de Portugal. Pôs uma vila alentejana no mapa e o café em Portugal será sempre sinónimo do seu nome.
O Presidente da República, na nota de condolências enviada à família, reconhece o legado deixado pelo empresário, salientando: “Rui Nabeiro foi um precursor, construiu uma marca global, como há poucas no nosso país, mantendo sempre a sede e o coração da sua atividade em Campo Maior, terra onde nasceu e onde deixa um generoso legado”.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “num tempo económica e socialmente desafiante, o exemplo de Rui Nabeiro, na sua preocupação social e participação cívica, com a comunidade e com o país, devem ser um exemplo e uma inspiração para todos quantos podem devolver à sociedade um pouco daquilo que esta lhes deu”.
Todos lamentam
Da política à economia, passando pelo desporto e pela tauromaquia (dois dos seus netos são toureiros), incluindo o Presidente da República, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia da República, são várias as figuras que lembram Rui Nabeiro como uma referência para os empresários.
Nunca pensou apenas em si ou na empresa, garantiu nas muitas entrevistas que deu. “O ser humano, para mim, está à frente de tudo”, garantiu à TVI quando fez 90 anos. Quando a pandemia de covid-19 afetou o negócio, a Delta não avançou para layoff. Rui Nabeiro fez questão de arcar com os custos, para garantir que os trabalhadores mantinham o seu nível de vida.
A Delta é a empreitada da sua vida. Fundou-a em 1961, com três colaboradores. A marca foi uma sugestão de uma firma de patentes e marcas. “Uma delas era Delta, que tem uma boa acústica e uma expressão natural. Qualquer pessoa o diz, até os chineses”, disse ao Expresso em 2016.
E a verdade é que o café da Delta chegou mesmo à China. Hoje exporta café para mais de 40 países, incluindo Angola, Cabo Verde, Bélgica ou Estados Unidos da América, empregando mais de três mil funcionários.
Desfrutar de um sonho
Rui Nabeiro fez questão de nunca deixar as rotinas da empresa, mesmo quando, em setembro de 2021, passou a liderança da empresa para o neto, Rui Miguel Nabeiro, que dele herdou o nome e a vontade de fazer crescer o império, que hoje sabe a café, azeite, vinho. Mas que abre também a porta ao lazer, ao apostar no turismo. “Apêndices da indústria do café”, brincava.
“Quando comecei, sonhava poder desfrutar da vida de uma forma diferente, fazer eu o meu trabalho. Mas não sonhava com uma grandeza. A grandeza foi sonhada aos poucos”, costumava dizer, o homem que criou um dos maiores impérios económicos e que sempre apostou na inovação e na tecnologia, como foi o caso da apresentação, a nível mundial, da Rise Delta Q e da primeira quinta em Portugal de economia circular que transforma borras de café em cogumelos orgânicos.
A 9 de junho de 1995, Mário Soares, então Presidente da República, atribuiu-lhe o grau de comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial Classe Industrial, e a 5 de janeiro de 2006, na sua presidência, Jorge Sampaio distinguiu-o como comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Em 2021, recebeu a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa.