O Ginásio do Alto do Pina (GAP) tem uma nova sede na Rua 4 de Agosto, mas o espaço, explicou o responsável ao Olhares de Lisboa, Marco Campos, é pequeno para as atividades da coletividade. A Câmara de Lisboa já prometeu um novo espaço, localizado nos antigos lavadouros do Alto do Pina. Contudo, a mudança só deverá acontecer daqui a três anos.
O Ginásio do Alto do Pina (GAP) promove atividades como Boxe, Jiu-Jitsu, danças, Ping-Pong, entre outros. Todavia, segundo Marco Campos, a atual sede não consegue acolher todas estas modalidades. Por enquanto, a única coisa que consegue realizar é a Marcha do Alto do Pina, cujos ensaios de canto vão arrancar este mês. Por sua vez, os ensaios de coreografia, previstos para abril, vão realizar-se na Escola Básica Patrício Prazeres.
De acordo com o responsável, o GAP teve de sair da antiga sede, localizada na Rua Barão de Sabrosa, porque o contrato chegou ao fim e o senhorio “não o quis renovar”, adiantando, por outro lado, que o espaço também não oferecia condições para as atividades do clube.
“Ficámos sem 20 e tal mil euros em material de desporto, sacos de boxe, material de combate, entre outros. Ficou tudo danificado devido a uma inundação”, disse Marco Campos. Por outro lado, lamenta, a coletividade nunca foi ressarcida pelo dono do espaço.
O executivo liderado por Carlos Moedas deu a hipótese ao GAP de mudar a sua sede para uma loja municipal situada no Bairro Portugal Novo, nas Olaias. Apesar de reconhecer que é uma boa solução, Marco Campos recorda que os regulamentos das Marchas Populares de Lisboa obrigam a que as coletividades que organizam as marchas têm de estar sediadas nas respetivas freguesias.
“Isto seria passar da freguesia da Penha de França para o Areeiro”, o que inviabilizava a participação da Marcha do Alto do Pina no concurso, salienta.
Só daqui a três anos
Em relação às restantes atividades, o responsável pelo Ginásio do Alto do Pina garante que a mudança de freguesia não é impeditiva. Por isso, está disposto a transferir parte dessa oferta para o Portugal Novo, se surgir a oportunidade.
No entanto, para já, a solução é ficar na Rua 4 de Agosto, cuja renda é paga exclusivamente pela coletividade, com dinheiros provenientes das quotas dos sócios, da atividade do bar, e claro, do apoio que a CML dá anualmente a todas as coletividades que organizam as Marchas Populares.
“O que me foi prometido pela Câmara é que durante os próximos três anos será resolvido o espaço dos lavadouros”, explica Marco Campos. Com esta transferência, afiança o responsável, a coletividade passa a ter uma sede definitiva, algo que já é uma reivindicação antiga da direção do GAP. A atual sede fica mesmo junto ao Chafariz do Alto do Pina. As obras de requalificação do espaço ainda estão a terminar, mas a direção do GAP já conseguiu abrir o bar ao público.
Tirar os jovens do mundo do crime
Para fazer face às despesas com a requalificação, a Junta de Freguesia da Penha de França deu ainda um apoio financeiro a esta coletividade, que organiza a Marcha do Alto do Pina desde que se estreou nas Marchas de Lisboa, em 1934.
O GAP tem cerca de 400 sócios pagantes e 15 pessoas nos corpos sociais. Por outro lado, as atividades são para todos, “dos oito aos 80”. No entender de Marco Campos, a CML não deve esquecer as coletividades da cidade.
“Quantas mais atividades existirem nos bairros, mais as crianças conseguem estar entretidas e distraídas”, dando como exemplo algumas pessoas oriundas do Alto do Pina e que hoje são conhecidas do grande público. “Por exemplo, o [cantor] Nininho Vaz Maia é do Bairro da Curraleira e chegou onde chegou, porque existia uma Casa da Juventude para onde ele ia lá cantar”.
Com todos os marchantes
Faltam três meses para as exibições das Marchas Populares de Lisboa. Marco Campos assegura que já tem o grupo de marchantes completo. “Temos muita gente do ano passado, ficaram apenas três ou quatro vagas”. Por outro lado, também ajuda o facto de o Ginásio do Alto do Pina ter uma marcha infantil, os Alto Pininhas, que acaba por captar marchantes para a marcha principal.
Por isso, a coletividade só abriu as inscrições para preencher as vagas em aberto, e também para ficar com alguns suplentes. Grande parte dos marchantes são do Alto do Pina, mas Marco Campos acrescenta que “também há marchantes de outros bairros, como por exemplo, Marvila, Olivais, Lumiar ou São Vicente”, ressalvando o enorme bairrismo e o espírito de união que existe nesta marcha.
Segundo o responsável, o Alto do Pina tem sido resistente à saída de habitantes para a periferia, ao contrário do que tem vindo a acontecer noutros bairros lisboetas. “Temos sorte de termos aqui os bairros sociais, o que acaba por manter aqui as pessoas”, acrescenta o presidente do GAP.
Só os melhores para a marcha
Antes de começarem os ensaios oficiais, a direção do GAP faz, durante uma semana, uma pré-apresentação da marcha e do projeto para aquele ano. De seguida, todos os interessados em fazer parte da Marcha do Alto do Pina fazem uma espécie de “casting”.
Ou seja, “durante uma semana, ponho marchas antigas a tocar e meto o pessoal a marchar”, revela Marco Campos. O objetivo é perceber quem tem mais capacidades para ficar no grupo de marchantes.
“Trabalhamos para ganhar e fazer o melhor. E também queremos dar espetáculo e honrar as festas de Lisboa”, justifica o presidente do GAP, que para além de coordenador, é também marchante no Alto do Pina desde 1989.
Alto do Pina ficou em terceiro lugar em 2022
Esta marcha já venceu as Marchas de Lisboa quatro vezes: em 2011, 2012, 2015 e 2019. Em 2022, ficou em terceiro lugar, atrás da Madragoa e de Alcântara. “[O resultado] foi agridoce”, acrescentou Marco. “Admito que se calhar não estivemos tão bem no pavilhão, mas tenho a certeza que fomos a melhor marcha na Avenida da Liberdade”, recorda.
No entanto, e apesar do terceiro lugar, o Alto do Pina ganhou também, no ano passado, os prémios de Melhor Coreografia e Melhor Musicalidade. Ao longo de 90 anos de participação, o Alto do Pina já ganhou, inúmeras vezes, diversos prémios de categoria, sendo considerada, por isso, uma das melhores marchas da cidade.
Contudo, Marco Campos não acredita que seja por isso que os marchantes queiram vir para o Alto do Pina. “Ao início pensei que era porque ganhávamos, mas já tivemos anos menos bons, como por exemplo em 2017, e as pessoas mantiveram-se. Por isso, eu sei que eles estão cá porque gostam mesmo disto”, acrescenta o presidente do Ginásio do Alto do Pina.
Para 2023, o responsável ainda não adiantou grandes detalhes sobre o projeto pensado para a Marcha do Alto do Pina. No entanto, revela que as músicas serão da autoria de Nuno Feist e as letras escritas por Filipa e Gonçalo Cardoso. Bruno Vidal será, mais uma vez o ensaiador, e os figurinos e a cenografia ficarão a cargo de uma empresa do Porto. Teresa Guilherme será novamente a madrinha do Alto do Pina, revelou Marco Campos.