Nesta terça-feira, 23 de abril, a Câmara Municipal de Oeiras (CMO) atribuiu nomes de militares a seis arruamentos em Talaíde, na freguesia de Porto Salvo, como forma de assinalar os 50 anos do 25 de Abril. As seis ruas ficam perto do futuro Centro de Indústrias Criativas de Oeiras. Para além deste espaço, aquela zona irá ainda receber, dentro de quatro anos, cerca de mil habitações, das quais metade deverão ser destinadas à habitação acessível, adiantou Isaltino Morais.
O presidente da Câmara Municipal de Oeiras (CMO), Isaltino Morais, inaugurou, esta terça-feira, dia 23 de abril, seis novos topónimos em seis arruamentos localizados em Talaíde, freguesia de Porto Salvo. Estas ruas não tinham designação atribuída e receberam agora nomes de entidades militares que se destacaram na Revolução dos Cravos. Avenida General Ramalho Eanes, Rua Almirante Pinheiro de Azevedo, Avenida dos Deficientes das Forças Armadas, Rua General Loureiro dos Santos, Rua Tenente-Coronel Vasco Lourenço e Avenida General Tomé Pinto foram os seis topónimos inaugurados.
A primeira placa a ser descerrada foi a Avenida General Ramalho Eanes. Este momento contou com a presença da esposa do antigo Presidente da República, Manuela Ramalho Eanes, que começou a sua intervenção a salientar “a admiração” que ela e o marido têm pelo trabalho do presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, destacando ainda “a sua obra e o amor que tem a esta terra e a esta gente”. “Acho que aqui, também se sabe fazer história”, prosseguiu a antiga primeira-dama, lembrando que, atualmente, “estamos a viver o tempo mais importante da história contemporânea”, e que, por isso, a comunidade deve ter “uma ação cívica”. “O 25 de Abril acabou com uma ditadura”, prosseguiu Manuela Ramalho Eanes, que recordou que, até à revolução, o país “era muito pobre”, onde muitas pessoas não tinham acesso à educação e à habitação.
25 de Novembro também foi crucial para a democracia, reforçou Manuela Ramalho Eanes
“Todas as pessoas têm que ter dignidade”, acrescentou ainda, lembrando os tempos logo após a revolução, em especial “o verão de 1975, onde tive reuniões lá em casa para preparar o 25 de novembro”. “O 25 de novembro veio repor os ideais do 25 de abril, veio pôr termo ao PREC e evitou uma guerra civil”, frisou ainda Manuela Ramalho Eanes, salientando também a importância desta data. Já de acordo com o presidente da CMO, Isaltino Morais, “esta homenagem insere-se no contexto das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril”. Na sua opinião, esta data “trouxe-nos a liberdade, uma sociedade democrática, a descolonização, e um modelo de desenvolvimento”. O autarca de Oeiras recordou que esteve na Guerra Colonial, tendo ainda assistido a datas como o 25 de Abril, o 25 de Novembro, entre outras datas que marcaram a democracia.
“Não compreendo esta estigmatização do 25 de Novembro, que é uma das vicissitudes do 25 de Abril, e não podemos ignorar os factos históricos. É indiscutível que, na realidade, aqueles que fizeram o 25 de Abril foram, de alguma forma, os que fizeram o 25 de Novembro”, sublinhou Isaltino Morais. Sobre a primeira rua inaugurada, a Avenida General Ramalho Eanes, o autarca referiu que o antigo Presidente da República “é uma das figuras incontornáveis da nossa história democrática”, tendo sido “responsável por operações militares que conduziram, à nossa democracia”. “A figura do General Ramalho Eanes estará sempre presente naquilo que são a defesa e a referência àquilo que são os princípios fundamentais do poder local e das homenagens que são feitas”.
Placas irão receber um código QR que conta a história de cada homenageado
Em breve, acrescentou ainda o presidente da CMO, estas placas irão contar com um código QR, bastando apenas apontar o telemóvel para conhecer a história daquela personalidade e qual o seu papel na comunidade. “Dificilmente, uma Câmara Municipal atribui um topónimo contra a vontade do povo, portanto, tem que haver algum consenso, mesmo com figuras polémicas”, disse ainda Isaltino Morais, dando como exemplo a rua atribuída a Otelo Saraiva de Carvalho, onde alguém “punha lá tinta preta todos os dias, durante dois ou três anos”. “Há determinados momentos em que nós, de alguma forma, temos de ter uma certa pedagogia e mostrar às pessoas que aquela personalidade, independentemente do seu percurso histórico, teve um papel fundamental na construção daquilo que é o nosso modelo de democracia”, justificou o presidente da CMO.
Estes seis arruamentos que receberam novas designações situam-se num local que irá receber, dentro de quatro anos, uma urbanização com “cerca de mil apartamentos”, dos quais, pelo menos metade, serão destinados a habitação pública, adiantou Isaltino Morais, reforçando que, desta forma, será possível diminuir as dificuldades no acesso à habitação por parte das famílias. “Estamos a viver, neste momento, um período não de erradicação de barracas, mas em que há uma grande necessidade de habitação. Esses quase 40% de agregados familiares que precisam de casa, precisam de habitação pública”, alertou o presidente, sublinhando que “tem que ser o Estado e as autarquias a construir habitação pública”. No caso de Oeiras, recordou, estão previstos cerca de dois mil fogos de habitação a custos controlados, sendo um investimento na ordem dos 400 milhões de euros, financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Deficientes das Forças Armadas não foram esquecidos
“A habitação é também uma das grandes conquistas do 25 de Abril. Não há nada melhor do que os capitães e militares de Abril estejam associados àquela que é uma das grandes conquistas de Abril, a habitação”, disse ainda Isaltino Morais, lembrando que, em Oeiras, a atribuíção de nomes aos arruamentos faz-se quando as personalidades ainda são vivas. “Ao longo de todos estes anos, todas as placas toponímicas que atribuímos, são personalidades que, de alguma forma, tenham a ver ou conosco, ou com o nosso território, ou com a nossa comunidade, ou com o país”, justificou ainda, reforçando que “nenhum topónimo é retirado” para colocar um novo, sendo que as únicas vezes que tal aconteceu foi apenas com o Almirante Américo Tomás e com António de Oliveira Salazar.
Após esta inauguração, procedeu-se ao descerramento da segunda placa, desta vez dedicada aos Deficientes das Forças Armadas. Aqui, discursou o vice-presidente da direção nacional da Associação de Deficientes das Forças Armadas (ADFA), Artur Vilares, que ficou sem as duas pernas num “conflito absolutamente desgraçado e desnecessário”. O antigo militar referiu ainda que Isaltino Morais “é dos poucos autarcas que não se esqueceu” dos deficientes das Forças Armadas. “Não nos queixamos de nada, mas só exigimos uma coisa: o respeito pelas ações onde estivemos”, reforçou ainda Artur Vilares, agradecendo ainda aos “6.840 associados” da ADFA.
Também Isaltino Morais aproveitou para deixar umas breves palavras, dizendo apenas que “ainda falta muito para se fazer justiça a todos aqueles que lutaram por este país”, e que o “país tem uma grande dívida por ajustar com estes homens”.
Homenagens a Loureiro dos Santos e Vasco Lourenço
Já o terceiro arruamento inaugurado foi a Rua General Loureiro dos Santos. No ato de descerramento da placa toponímica, discursou a filha do antigo militar, falecido em 2018, Sofia Loureiro dos Santos. “Esta é uma homenagem que nos comove e que muito nos orgulha. [O meu pai] era um homem de muito saber, que tinha uns valores muito claros, e era um homem também do 25 de Abril”. Por isso, realçou, “também nos satisfaz bastante que esta homenagem seja integrada nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril”, porque “a Liberdade tinha um grande valor para o meu pai, que nos disse, muitas vezes, que não tomássemos a liberdade como certa”. De seguida, procedeu-se à inauguração da Rua Tenente-Coronel Vasco Lourenço.
O antigo capitão de Abril não pôde estar presente, mas foi representado por Mário Simões Teles, membro da Associação 25 de Abril. “Gostava de frisar dois aspectos. O Vasco Lourenço, juntamente com o Vitor Alves e o Otelo Saraiva de Carvalho, foram os principais dinamizadores do movimento dos Capitães”, que começou “em setembro de 1973 e que se prolongou até março de 1974”. O antigo militar, que pertenceu ao movimento dos Capitães, lembrou que, no total, houve nove reuniões até à Revolução de 25 de Abril de 1974, e que este movimento “foi um processo conduzido exemplarmente”, muito graças a Vasco Lourenço, atual presidente da Associação 25 de Abril. De seguida, foi ainda inaugurada a Avenida General Tomé Pinto, que contou com a presença do próprio.
Personalidades fundamentais para a democracia
“Eu aprendi muito com África e com os africanos”, começou por referir o antigo militar, que prestou serviço no Ultramar entre 1961 e 1974. “Protegemos e demos ensinamento às populações”, recordou Alípio Tomé Pinto, acrescentando que “o [golpe de estado de] 11 de março foi uma grande viragem” na democracia portuguesa, na medida que “deu força aos militares” para travar este golpe e outros que se sucederam até ao 25 de Novembro de 1975. A última rua a ser inaugurada foi a Rua Almirante Pinheiro de Azevedo.
Devido à indisponibilidade dos familiares do antigo oficial da Marinha e Primeiro-Ministro do VI Governo Provisório, falecido em 1983, os discursos de agradecimento ficaram a cargo de Mário Simões Teles e Isaltino Morais. O primeiro lembrou que teve a oportunidade de privar com Pinheiro de Azevedo na Marinha, recordando-o como “um excelente comandante de navio”, um “homem competentíssimo e de valores firmes”. Por sua vez, Isaltino Morais iniciou a sua intervenção a dizer que estas seis homenagens distinguem “pessoas que participaram ativamente na formação de um regime democrático e com liberdade”.
Programação da CMO de celebração dos 50 anos do 25 de Abril prolongam-se até 2026
“Quem sempre viveu com a liberdade, não tem noção” da sua importância, prosseguiu o autarca de Oeiras, recordando a programação especial que a autarquia está a realizar até abril de 2026, a propósito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Algumas das atividades dizem respeito às exposições patentes no Palácio Anjos (Algés) e no Palácio Egipto (Oeiras) até dezembro, ao espetáculo de fogo de artificio marcado para a próxima quarta-feira, 24 de abril, à noite.
Igualmente, está ainda prevista uma homenagem a todos os presos políticos que estiveram no Forte de Caxias, entre outras atividades. “Isto é tudo um pretexto para abordar tudo aquilo que são as grandes transformações que o nosso país sofreu ao longo destes 50 anos”, concluíu o autarca de Oeiras.