As incertezas que o comércio tradicional vive em tempos de pandemia é o tema do «pequeno grande conto sobre o comércio», que, essencialmente, pretende ser uma reflexão sobre a realidade do sector do retalho em Portugal.
A História do Comércio que nunca se fez, afinal faz-se todos os dias de múltiplas histórias, um pouco por todo o lado.
Existindo a necessidade e a forma de a satisfazer, eis senão quando, surgiu o comércio.
O nível de exigência subiu e a troca, por si só, já não era suficiente.
A escassez dos recursos e a complexidade das necessidades trouxeram o mercado e o mercado terá trazido a moeda.
Desde então, tudo mudou, inclusive … a moeda e … o(s) comércio(s).
Este conto, se entendido como singelo contributo à reflexão sobre a realidade do sector do retalho em Portugal, poderá, na ótica do autor, espelhar a conhecida história do colibri.
Perante a iminente devastação de um enorme fogo na floresta, os seus habitantes tentando fugir à desgraça corriam, voavam, esvoaçavam, saltitavam, deslizavam, galopavam, na direção contrária das chamas, tentando a todo o custo salvar-se, cada um por si, da catástrofe anunciada.
Eis senão quando um pequeno colibri voava na direção do “problema” levando no seu bico uma pequena e translúcida gota de água, atitude que espantou todos os restantes animais em fuga. Em tom algo jocoso, próprio de quem desdenha, alguém voando em direção contrária à do nosso colibri perguntou: Para onde vais tu colibri, não vês o que está a acontecer?
O colibri, já a muito custo, mercê do esforço de tão longa e desgastante jornada, respondeu-lhe: “Vou apagar o fogo”. Completando, de imediato, antes que surgisse outra reação – “Bem sei que sozinho não conseguirei apagar o fogo e evitar o inevitável, mas … vou fazer a minha parte!”
Perante tal, não só a ave de grande porte mas também outros impetuosos animais da floresta, encolheram os ombros e lá seguiram na direção “errada”, fugindo do problema, escapando da desgraça, principiando assim o caminho para o fim.
Do colibri pouco se sabe, desde que do seu pequeno bico largou a gota de água sobre a imensidão do fogo que lavrava cada vez com mais força, devorando tudo e todos à sua volta.
Em suma, se o colibri de uma pequena loja, dita, tradicional, quiçá quase centenária, se tratasse, se o grande incêndio mais não fosse que a desertificação do centro da cidade, se os animas erráticos como outros formatos de comércio se assumissem, a história seria … a mesma, e a moral, da mesma, …, a mesma, também!
Noutro tempo, poucos se atreveriam a associar à imagem devastadora de um grande incêndio, uma qualquer pandemia, igualmente, terrível, mas é desta imprevisibilidade, das incertezas com que nos confrontamos e dos desassossegos que vamos vendo e vivendo, que há que prospetivar, planear e organizar, quiçá (re)construir, o(s) futuro(s), inclusive, o(s) do(s) nosso(s) Comércio(s).
Por João Barreta
Mestre em Gestão do Território e ex-Diretor Municipal das Atividades Económicas da Câmara de Lisboa
#ComércioNaLinhaDaFrente – Serviços e Takeaway